O líder indígena foi encontrado morto na manhã da última segunda-feira (4/3) -  (crédito: Frei Gilvander Moreira / Reprodução)

O líder indígena foi encontrado morto na manhã da última segunda-feira (4/3)

crédito: Frei Gilvander Moreira / Reprodução

O Ministério dos Povos Indígenas, do governo federal, apresentou, nessa quinta-feira (7/3), uma notícia-crime à Polícia Federal (PF) para que a morte do Cacique Merong, liderança da retomada indígena em Brumadinho, na Grande BH, seja investigada. O líder foi encontrado morto na manhã dessa segunda-feira (4/3), caso a princípio registrado pelo Polícia Militar como suicídio.

A pasta também acionou a Advocacia Geral da União (AGU) para ingressar com uma ação de reintegração de posse. O processo deve contribuir para a solução da disputa de terras e a preservação dos direitos indígenas, disse o ministério à reportagem do Estado de Minas, por meio de nota.

A Polícia Civil investiga se Merong foi assassinado. “PF fez uma segunda perícia no local do crime por precaução, mas o laudo do IML (Instituto Médico Legal) está sendo feito pela Polícia Civil, porém ainda sem conclusão”, diz o texto.

Pertencente ao povo Pataxó-hã-hã-hãe e da sexta geração da família Kamakã Mongoió, o cacique morreu aos 37 anos e deixou dois filhos. Amigos e familiares associam sua morte à luta de retomada territorial que o cacique liderava, no Vale do Córrego de Areias, em Brumadinho.

Proibição do enterro

Na noite de terça-feira (5/3), a 8ª Vara Federal Cível de Belo Horizonte acatou um pedido da mineradora Vale e proibiu o sepultamento de Merong Kamakã no Córrego de Areias de Brumadinho, onde ele vivia. A decisão foi assinada pela juíza Geneviève Grossi Orsi.

O pedido da mineradora foi justificado pela área do córrego estar em processo de reintegração de posse. Mas o sepultamento aconteceu ainda na madrugada. Os indígenas que velavam o corpo, desde terça-feira, se adiantaram a qualquer intervenção que pudesse acontecer e enterraram o corpo do cacique.

Os indígenas tinham medo de que o sepultamento fosse impedido e usaram tochas e lanternas para realizar o enterro ainda no escuro da madrugada. A Polícia Militar chegou pela manhã para impedir o sepultamento, mas não pôde cumprir a determinação judicial pois não havia mais o objeto da ação - o corpo - e por isso, se retirou do local.

Quem era o cacique Merong

O cacique Merong nasceu em Contagem. Ele era o líder da comunidade Kamakã, que é uma das seis etnias dos povos Pataxó Hã Hã Hãe. Além de liderar as ações em prol dos direitos de seu povo, Merong militava em defesa dos territórios de outras comunidades, como a Kaingáng, Xokleng e Guarani.

Merong, ainda criança, foi morar na Bahia, segundo informações da Funai. Ele também atuou no Rio Grande do Sul. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), afirma que o líder indígena participou ativamente da Ocupação Lanceiros Negros, iniciativa que contribuiu com as retomadas Xokleng Konglui no município gaúcho de São Francisco de Paula, e Guarani Mbya, em Maquiné.