Indígenas fazem orações, cantam e dançam em intensão do cacique Merong -  (crédito: You tube)

Indígenas fazem orações, cantam e dançam em intenção do cacique Merong

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A Polícia Federal participa, com a Polícia Civil, das investigações da morte do cacique Merong, líder da Retomada Kamaká Mongoió, em Brumadinho, na Grande BH. Ele foi encontrado morto na manhã dessa segunda-feira (4/3). A primeira informação é de que ele teria cometido suicídio. No entanto, uma denúncia de que ele pode ter sido assassinado faz com que as duas polícias tomem duas linhas de investigação.

Segundo o delegado João Victor Leite, a Polícia Federal foi acionada em razão de o fato ter ocorrido em terras indígenas, consideradas patrimônio da União, conforme delimitado pela Constituição Federal de 1988.

A denúncia de assassinato foi feita pelo frei Gilvander Moreira, participante da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais e amigo do cacique Merong, que acredita que sua morte tenha ocorrido devido ao trabalho de retomada das terras indígenas que realizava, e que desagradava a um grupo de Brumadinho.

“Conversei longamente em particular com o cacique Merong no dia 24 de fevereiro, lá na Retomada Xukuru-Kariri em Brumadinho. Ele estava planejando ampliar as lutas, de cabeça erguida. Não foi suicídio, foi assassinato por perseguição”, afirma o religioso.

Pertencente ao povo Pataxó-hã-hã-hãe e da sexta geração da família Kamakã Mongoió, cacique Merong Kamakã era conhecido pelo processo de retomada em que atuava como liderança no Vale do Córrego de Areias em Brumadinho e pela luta e defesa dos direitos dos povos indígenas e originários.

Segundo nota da Fundação nacional do ìndio (Funai), além de liderar as ações em prol dos direitos de seu povo, Merong militava em defesa dos territórios de outras comunidades, como a Kaingáng, Xokleng e Guarani.

O líder indígena nasceu em Contagem (MG) e, na infância, foi morar na Bahia, informa a nota da Funai. “Quando criança, a vida era mais difícil porque não vendia o artesanato para subsistência, e também não tínhamos programas de apoio dos governos, o que pesava para uma família de seis irmãos”, escreveu o Museu do Índio na homenagem postada. A fundação destaca que, para o cacique, a terra significava vida e espiritualidade, razão para defendê-la ao máximo e em qualquer circunstância.

Merong Kamakã Mongoió também atuou no Rio Grande do Sul. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o líder indígena participou ativamente da Ocupação Lanceiros Negros, iniciativa que contribuiu com as retomadas Xokleng Konglui no município gaúcho de São Francisco de Paula, e Guarani Mbya em Maquiné.

"A Funai lamenta profundamente a perda e se solidariza com familiares e amigos neste momento de tristeza", finaliza a fundação na nota.

Lideranças e ativistas da causa também lamentaram a morte de Cacique Merong nas redes sociais. “Que tristeza receber a notícia da morte do cacique Merong Kamakã, amigo e parceiro de todas as horas durante nossa campanha, ocorrida na manhã de hoje. Ele sempre foi presente nas articulações em defesa dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Uma perda enorme”, afirmou a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL).

A Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares do Brasil (Conafer) também lamentou a morte.

“O cacique Merong, como era conhecido, fazia da defesa dos povos originários a sua bandeira de luta. Em Minas Gerais, na região de Brumadinho. No Território Caramuru, no sul da Bahia. No apoio aos Xokleng, Guarani e Kaingang no Sul do Brasil. Como educador do Mais Educação Livre, contribuindo com seu conhecimento na Reserva Jaqueira. Apesar de uma longa caminhada pelo país na resistência contra a violência em áreas indígenas, Merong faleceu muito jovem e cheio de sonhos”, afirma a nota.

Além da Conafer, o mandato coletivo feminino do PSOL de Florianópolis, Mandata Bem Viver, também se manifestou. "Uma grande perda de um guerreiro que participou de inúmeras retomadas, sempre a postos na luta para devolver os direitos e os territórios dos povos indígenas por todo país. Esteve em janeiro deste ano em Florianópolis apoiando como sempre a Luta pela Casa de Passagem Indíge. És um guerreiro de todos os povos, de todos os seres, sempre na luta em defesa da vida! Que o Grande Espírito te receba e que sigas nos iluminando com toda sua força e luz!", afirmou o grupo através das redes sociais.

Comovido, o Frei Gilvander relembrou: “Ele falava várias vezes: “Se me matarem na luta pelo território, me transformarei em adubo para fazer germinar mais luta por territórios e por todos os direitos indígenas’. Ele sabia que não seria sepultado e sim semeado na Mãe Terra”.