Onças-pardas em rodovias têm ligado o alerta de motoristas e do poder público -  (crédito: OGREE/Divulgação)

Onças-pardas em rodovias têm ligado o alerta de motoristas e do poder público

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Atropelamentos de onças nas últimas semanas na Região do Triângulo Mineiro ligaram um alerta entre motoristas que transitam pela região. Diante desse cenário, biólogos destacam a necessidade de o poder público implantar com urgência duas medidas: a instalação de placas informando sobre a possibilidade de animais na pista e a criação de passagens de fauna, que são corredores para a passagem desses animais sob ou sobre as estradas.

Somente na região do Triângulo Mineiro, entre os dias 31 de janeiro e 20 de fevereiro, três onças pardas foram atropeladas, sendo que duas delas morreram e a outra, que fraturou a pata traseira esquerda, passou por cirurgia em hospital veterinário de Uberaba. Os casos ocorreram na MG-427, entre Uberaba e Conceição de Alagoas, e na MGC-462, nas proximidades de Patrocínio.

“O que a gente pode pensar como alternativas para prevenir esses atropelamentos são: sinalização em locais que foram constatadas ocorrências da passagem desses animais para que o motorista possa redobrar a sua atenção e também a implementação de corredores embaixo das estradas para favorecer o fluxo dos animais silvestres”, indica o biólogo da Secretaria de Meio Ambiente de Uberaba, Paulo César Franco.

A bióloga Maria Inácia Macedo de Freitas também ressaltou que o ideal para ajudar a prevenir os atropelamentos de animais silvestres nas estradas é a criação de corredores de passagens para eles.

“Atualmente a população de onça parda vem aumentando e desta forma aumentou o número delas que atravessam as rodovias em busca de alimentos como o javali (...) e quando a luz bate nos olhos dos felinos, ele perde totalmente a noção de direção”, complementa.

Os casos

O último caso foi registrado nesta terça-feira (20/2), quando a concessionária EPR Triângulo informou que, durante uma inspeção na MGC-462, nas proximidades de Patrocínio, foi localizado o corpo de uma onça-parda adulta e do sexo feminino, vítima de atropelamento.

Os outros dois casos foram na manhã do dia 31/1 (quarta-feira), quando um macho adulto morreu atropelado por um caminhão na MG-427, entre Uberaba e Conceição das Alagoas, e na noite de 14/2 (quarta-feira), quando uma onça do sexo feminino, com cerca de 2 anos e 20 quilos, foi capturada por equipes de bombeiros de Uberaba e Araxá.

O animal, que estava com uma fratura na pata traseira esquerda, passou por cirurgia no Hospital Veterinário da Universidade de Uberaba (Uniube) e nesta sexta-feira (23/2) foi transferida para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETRAS), em Patos de Minas, no Alto Paranaíba.

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“Safira, carinhosamente apelidada pela equipe, necessita de um ambiente maior para reabilitação”, destacou a assessoria de imprensa do Hospital Veterinário da Uniube, por meio de nota.

A bióloga Maria de Freitas explica que, com o avanço da cultura de cana-de-açúcar, na Região do Triângulo Mineiro, a população de onças pardas vem aumentando nos últimos anos. “Com as plantações e ciclo de colheitas que dura cerca de nove meses, o animal se esconde e dá tempo de se reproduzir”, diz.

Aumento do raio de sobrevivência da onça parda

Os processos de expansão da urbanização e da agropecuária, segundo o biólogo Paulo Franco, vêm ocasionando uma redução de espaços, por exemplo, das onças-pardas. “Hoje estudos mostram que a onça-parda tem andado em torno de 100 km de raio, ou seja, ela expandiu muito a sua área de ocupação em relação a estudos anteriores, que indicam em torno de metade disso. Então, hoje em dia ela está precisando percorrer um grande espaço em busca de abrigo, reprodução e alimentação”, explica Franco.

O biólogo da Secretaria do Meio Ambiente de Uberaba acrescenta que os frequentes atropelamentos de onças-pardas estão relacionados às buscas do animal por alimento em ambientes que estão fragmentados por estradas. “Na maior parte das vezes, elas são atropeladas no período em que saem para caçar”, afirma.

Dados recentes

Segundo informações do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), com sede na Universidade Federal de Lavras (Ufla), em 2022, mais de 20 mil animais de pequeno, médio e grande porte foram atropelados no estado, sendo uma média de 2,3 por hora.

Já em âmbito nacional, conforme o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), estima-se que a cada ano cerca de 475 milhões de animais selvagens sejam atropelados nas estradas brasileiras. São cerca de 15 animais mortos por segundo.