Lúcia, ao centro, chora pela morte do filho único, no último Natal, em Matias Barbosa -  (crédito: Rômulo Daniel Ribeiro/Divulgação)

Lúcia, ao centro, chora pela morte do filho único, no último Natal, em Matias Barbosa

crédito: Rômulo Daniel Ribeiro/Divulgação

Lúcia Helena Pereira Neto, de 42 anos, e Flávio Lúcio do Nascimento, 46, nunca mais esquecerão o Natal de 2023. E não será pelas festividades, pela ceia, pela religião ou pela confraternização com amigos e familiares. E sim pela dor da lembrança da morte do único filho do casal, Guilherme Augusto do Nascimento, de 22 anos.



Guilherme Augusto foi assassinado com um tiro na noite de Natal, em Matias Barbosa, na Zona da Mata Mineira. Ele participava, junto com amigos, de um “rolezinho”, evento em que um grupo de pessoas se reúne para andar de moto pelas ruas das cidades. Na noite de Natal, diversas cidades mineiras registraram “rolezinhos”.

 



“Ele trabalhou o dia inteiro, pois era motoboy. Saiu do serviço às 23h, foi em casa, tomou banho. Pediu para arrumar comida, arrumei comida, ficou esperando dar meia-noite. Abraçou, deu presente, ficou conversando”, contou Lúcia, mãe de Guilherme, em entrevista exclusiva para o Estado de Minas.



Segundo Lúcia, Guilherme não disse que estava indo para dar um “rolezinho”. “Não, não falou. Vi ele saindo de casa. Deu tchau e falei pra sair com Deus”, recordou a mãe.



De acordo com o Boletim de Ocorrência, Guilherme participava de um rolezinho quando passou na frente da casa de um bombeiro aposentado. Por causa do barulho, o homem acordou e foi até o lado de fora. Lá, sacou uma arma e atirou. Guilherme foi baleado no peito e caiu da moto.



“Deu uns 15, 20 minutos [que ele tinha saído de casa], os amigos dele voltaram dizendo que ele tinha levado um tiro. Quando chegamos lá, ele estava baleado no chão. Tentei fazer massagem nele e nada”, relembrou a mãe.



Segundo o B.O, o bombeiro alegou que foi acordado pelo barulho do escapamento das motos. A mãe dele, que tem quadro grave de demência, também acordou e começou a gritar por causa do barulho. O bombeiro disse que efetuou um disparo para o alto, na tentativa de intimidar o grupo de cerca de 15 motociclistas. No entanto, as pessoas não se dispersaram. Afirmou ainda que atirou em direção ao muro do outro lado da rua. Mas o tiro atingiu o peito da vítima.



“Barulho não é motivo para matar o outro. Como está a vida do meu marido? A minha? Ninguém da família [do acusado] nos procurou. A gente tá fazendo acompanhamento com psicólogo, pois a gente não consegue nem dormir de noite”, contou Lúcia.


Manifestações em Matias Barbosa

 

Amigos e familiares de Guilherme têm feito manifestações em Matias Barbosa para cobrar Justiça pela morte do motoboy

Amigos e familiares de Guilherme têm feito manifestações em Matias Barbosa para cobrar Justiça pela morte do motoboy

Sara Gerhen/Divulgação



Logo após o assasinato, os policiais militares encontraram o bombeiro, que confessou o crime. Desde então, os familiares e amigos de Guilherme têm feito manifestações em Matias Barbosa cobrando Justiça.



“Queremos conscientizar a população, pois estamos pedindo Justiça. Isso não está certo. Qualquer barulho não pode ser justificativa para matar outra pessoa”, desabafou a mãe.



O advogado da família de Guilherme, Fernando Sérgio de Oliveira, diz que o processo está correndo da maneira correta. A defesa do bombeiro pediu que ele fosse solto, mas a Justiça negou. Segundo Fernando, a família está colhendo diversas provas para mostrar que Guilherme foi assassinado de maneira torpe.



“Estamos colhendo imagens, fotos, requerendo oitiva das pessoas que estiveram lá. As imagens foram produzidas pela câmera da loja que ele trabalhou. Vai ser um conjunto de provas e tenho a convicção de que ele será denunciado por homicídio qualificado, torpe”, explicou o advogado, afirmando que a sentença pode chegar a mais de 30 anos de prisão.



Guilherme era lutador e apaixonado por moto



Além de trabalhar como motoboy, Guilherme era lutador de muay thai. Inclusive, foi campeão recentemente, com oito vitórias em oito lutas disputadas. A mãe conta que também ele era apaixonado por moto e que tinha comprado o veículo há poucos meses.



“Ele estava pagando a moto, financiada. Ficou várias prestações para pagar, porque a moto era nova. A moto estava toda original”, contou Lúcia.



Antes de começar a trabalhar como motoboy, Guilherme ajudava o pai como servente de pedreiro. “Trabalhou com o pai dele, mas não quis mais trabalhar como servente de pedreiro. Um mês que ele tinha saído para trabalhar com entrega. Ele estava fazendo entrega em dois lugares. Ele era bem quisto”, relatou a mãe.



Por fim, Lúcia diz que tem sido muito complicado superar a morte do único filho. “Ele era tudo, eu chego em casa, o quarto dele é de frente à sala. Todo dia eu choro. O pai dele também conversava muito com ele. Eu estou um caco. Faço as coisas para ele comer, esqueço que ele morreu. Meu marido nem fala sobre o assunto”, finalizou Lúcia.



O jornal Estado de Minas também conversou com o advogado de defesa do bombeiro acusado de ter matado Guilherme. A família dele está sendo ameaçada e precisou sair de Matias Barbosa. O relato pode ser lido neste link.