Celina Barbi -  (crédito: Bela Galuppo/Divulgação)

Celina Barbi

crédito: Bela Galuppo/Divulgação

 

Não é simples definir Celina Barbi. Dá para resumir dizendo que ela é uma artista, mas isso não mostra a pluralidade do seu trabalho. A jovem de 28 anos tem formação em teatro e cinema, quase seguiu carreira na música, chegou a estudar moda e tem experiência no mercado publicitário. Hoje diretora-criativa da banda mineira Lagum, vem investindo em projetos artísticos paralelos, como uma exposição de fotos. Celina é múltipla como o seu talento.

Você nasceu para ser artista?
Sou filha de pai psiquiatra e mãe publicitária e professora de ioga. Minha família, tanto de parte de pai quanto de mãe, tem viés criativo. Então, desde que nascemos, eu e meus irmãos (um deles estuda música no Canadá) fomos incentivados a ter contato com arte. Desde pequena, faço aula de dança, teatro (uma das minhas formações) e música (coral, percussão e até flauta transversal) e essa base foi muito importante para tudo o que está na minha arte. Meus pais sempre me deram apoio, mesmo em um caminho muito incerto que é a arte.

Como decidiu qual caminho seguiria na arte?
Tinha muita certeza de que queria ser atriz, é o meu talento mais natural. Desde nova, pegava câmera e queria atuar. Então, consigo falar com clareza que teatro é a minha base, é o fio condutor de tudo o que sou. Terminei o ensino médio, fui fazer intercâmbio nos Estados Unidos e me inscrevi para a escola de marketing. Tinha que vir para o Brasil para renovar o visto e, quando tive contato com a nossa cultura, não quis mais voltar. Fui fazer design de moda, enquanto me formava em teatro, que era o meu sonho inicial. Dois anos depois, a faculdade de moda deixou de fazer sentido pra mim e fui estudar cinema. Foi onde me encontrei. Sou completamente apaixonada por cinema, é a minha segunda base. Experimentei praticamente todas as áreas e, desde o início, entendi que roteiro e direção eram as que pulsavam mais criativamente. Fiz quase tudo o que era possível em set de filmagem para o mercado publicitário e isso serviu de base para a diretora que sou hoje.

Você teve uma experiência em São Paulo. Por que decidiu voltar?
Fui para São Paulo há três anos, na época de pandemia, para trabalhar como diretora de cena dos comerciais da Ambev. Amava estar no set de filmagem, mas, em termos criativos, ficava em uma caixinha bem fechada. Vi que existia um teto criativo e ficou insustentável, precisava de mais, queria contar novas histórias. Fiquei um ano lá e depois entrei direto como diretora-criativa da banda Lagum.

Como surgiu esse convite?
Comecei a dirigir videoclipes em 2019. Trabalhei com a dupla Hot e Oreia, a banda Pipa, o grupo Fenda e o coletivo Imune. Em outubro de 2021, o empresário da Lagum me chamou para dirigir o clipe do feat com o Emicida. Dois meses depois, dirigi o clipe da música “Veja Baby”. Tivemos um clique criativo muito legal e, logo que saí da Ambev, eles me chamaram para entrar como diretora-criativa. Basicamente, viabilizo os projetos criativos, desde criar até organizar o cronograma e encontrar profissionais para a execução. Não necessariamente vou ser a diretora de cena. Sou a ponte para conseguir que quatro personalidades muito diferentes se encontrem no mesmo lugar. Depois disso fiz a direção criativa do EP da Paige e estou trabalhando no álbum que o Oreia vai lançar. Por ter experiências diferentes dentro da arte, teatro, moda, cinema, música, isso me ajuda a enxergar várias possibilidades.

Como você descreve a sua assinatura criativa no audiovisual?
Tem um quê do real, quase documental. Faço o encontro de ficção e documentário em quase todos os trabalhos. Gosto muito de plano sequência, que é um plano sem corte, uma abertura ao acaso.


Em que momento a fotografia entrou na sua vida?
Fotografia sempre foi um interesse, mas demorei a ter coragem de assumir isso para mim e para os outros. Sempre coloquei como hobby, porque não fiz curso técnico e não tinha referência de diretor de cena que era fotógrafo, então achava que não poderia ocupar os dois espaços. Peguei a câmera um dia e fui com uma amiga para a Feira Hippie. Me senti uma impostora, mas, quando cheguei em casa e vi o resultado, achei muito incrível. As fotos são posadas, mas são documentais. Foi um encontro que dirigi, dei um toque, mas está tudo muito real, o lugar onde as pessoas estavam e a forma como estavam vestidas. Me encantei com isso e entendi que precisava ir a campo para descobrir meu olhar, minha marca artística. No fim de 2022, saí de férias e fiquei três dias em Arraial do Cabo. Estava bem saturada e frustrada na publicidade. Levei a minha câmera e me propus a fazer tudo na horizontal. Falo que quem produziu as fotos foram Deus e Iemanjá. Claro que fui o filtro, a pessoa necessária para concretizar imagem, tenho algumas fotos posadas, mas não coloquei ninguém que não estava lá. As pessoas estavam vivendo aquele momento. A criança dando um mergulho, a família tirando foto, a mulher fumando.

Você estava buscando alguma cena específica?
Tenho muito interesse pelas pessoas reais. Quando você trabalha com publicidade e mundo artístico, tem que ter muito cuidado com a imagem. Na minha fotografia não tem tratamento. A pele do cara está queimada e com rugas, a coxa da mulher está com celulite. Fotografei todos esses diferentes corpos, muitas vezes não representados no mercado. Essa é uma busca pelo real.

Quando você entendeu que o material poderia virar uma exposição?
Coloquei as fotos para vender em formato de prints e quadros. Na hora em que vi que dava certo, que não estava louca, decidi fazer a exposição. Mas não queria que a minha arte fosse direcionada só para um público e comecei a ir em busca de formatos novos para que virasse algo cada vez mais cotidiano. Mais do que estar na parede da casa de alguém, gosto de ver as imagens ocupando as ruas. Por isso, fiz blusa, canga, adesivo, baralho e chaveiro.

Como você enxerga o futuro do seu trabalho?
Parei para pensar outro dia que vivo de arte, e isso é um acontecimento. A gente tem poucas referências dos lugares que consegue atingir como artista no Brasil. Então, sinto como se estivesse criando as possibilidades, descobrindo aonde posso chegar. Sei que cheguei a um lugar, mas amanhã tenho que caminhar para outro lugar, e esse caminho é novo para qualquer pessoa dessa área. Acho que ainda não enxerguei o ponto de chegada muito claramente, mas para mim o processo é muito mais importante. Espero chegar em um lugar que talvez não exista. Nunca imaginei que seria diretora-criativa de uma banda, queria dirigir videoclipes.