Brasil lidera o G20 na adoção de criptomoedas e avança com o Drex
Com regulação clara, inovação em stablecoins e avanços no Drex, o Brasil se destaca como referência global em ativos digitais e infraestrutura cripto
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Siga noPoucos mercados evoluíram tão rapidamente quanto o brasileiro desde 2020, quando o Pix transformou o modo como o país paga, transfere e armazena dinheiro. A mesma combinação de inclusão digital, ambiente regulatório competitivo e criatividade das fintechs impulsionou a adoção de criptoativos.
Em 2024, o estudo Global Crypto Adoption Index, da Chainalysis, colocou o Brasil na 9ª posição mundial — a mais alta entre os países do G20 — e apontou que os usuários locais recorrem cada vez mais a stablecoins para remessas e proteção cambial. Não surpreende, portanto, que as melhores altcoins estejam no radar dos investidores brasileiros.
Segundo a Receita Federal, mais de 12 milhões de CPFs já declararam alguma exposição a criptoativos, sinal de que o país está à frente do resto do mundo quando se trata de moedas digitais e inovação financeira.
Regulação clara atrai exchanges, instituições e impulsiona a adoção em massa
Com a aprovação da Lei 14.478/2022, o Congresso delegou ao Banco Central a responsabilidade de autorizar e fiscalizar prestadores de serviços virtuais. O Bacen, por sua vez, adotou um cronograma em fases. Em maio de 2024, o órgão confirmou que publicará, até o fim de 2025, a regulação definitiva para exchanges, custodiantes e emissores de stablecoins.
Na prática, esse roteiro trouxe ao setor algo raro no universo cripto: previsibilidade. Plataformas de alcance global, que antes hesitavam pela ausência de marco legal, passaram a disputar fatias do varejo; bancos tradicionais solicitaram licença para custodiar tokens; e gigantes como Visa e Mastercard integraram gateways em reais.
A transparência fiscal tornou-se um pilar de confiança. Entre janeiro e setembro de 2024, brasileiros declararam R$ 247,8 bilhões em transações com criptoativos — um aumento de mais de 24% em relação ao mesmo período de 2023, segundo a Receita Federal. O tíquete médio segue modesto: pouco mais da metade dos declarantes investe até R$ 1.000.
Ainda assim, a cauda longa torna o mercado mais democrático do que em economias desenvolvidas. Apesar de a volatilidade ainda assustar investidores iniciantes, a educação financeira tem avançado. Portais especializados e universidades já oferecem MBAs focados em blockchain, e a proliferação de corretoras com interface em português remove a última barreira de entrada.
O mercado está fervendo: CBDC, fintechs, altcoins e inovação DeFi
Nenhum país ocidental levou tão longe o conceito de moeda digital oficial quanto o Brasil. O projeto-piloto do Drex concluiu sua primeira fase em março de 2025, com testes de privacidade, liquidação atômica de títulos públicos e tokenização de imóveis. Segundo o Banco Central, a arquitetura foi desenhada para permitir que bancos comerciais emitam depósitos tokenizados interoperáveis com o Drex em tempo real.
O Banco de Compensações Internacionais (BIS) vê o experimento como referência de CBDC wholesale na América Latina — uma iniciativa rara fora de ambientes laboratoriais. O reconhecimento consta no relatório “Leveraging tokenisation for payments and financial transactions”, publicado em abril de 2025.
A lógica é simples: se o Pix reduziu os custos de pequenas transferências, o Drex pretende fazer o mesmo em operações de alto valor, reduzindo taxas cartoriais, mitigando fraudes e permitindo contratos inteligentes em transações de imóveis ou veículos. O ecossistema de fintechs já soma 1.900 startups ativas em 2025.
Dessas, 120 oferecem soluções diretamente ligadas a cripto, que vão de custódia institucional a farming automático em DeFi. Segundo previsão da Finsiders Brasil, mesmo em um ambiente de juros elevados, o setor projeta captar R$ 15 bilhões em venture capital até o fim do ano, impulsionado por projetos que integram inteligência artificial e blockchain.
O caso da Méliuz, que solicitou aval dos acionistas para manter parte do caixa em Bitcoin, ilustra o avanço corporativo da tese de reserva de valor digital. No varejo, a busca por alternativas cresceu após a dominância do Bitcoin cair abaixo de 45% no início de 2025. Tokens ligados à infraestrutura lideram os debates nos fóruns brasileiros.
Nesses espaços, discute-se se o Drex, ao tokenizar títulos do Tesouro, abrirá caminho para aplicações híbridas entre finanças centralizadas e DeFi. E, apesar dos avanços da Argentina com stablecoins para contornar o peso e da rápida adoção no México por remessas, nenhum vizinho iguala a combinação de regulação, infraestrutura e capilaridade bancária vista no Brasil.
A Chainalysis estima que o país concentre 28% do volume de criptoativos na América Latina, embora represente 20% do PIB regional. Embora Venezuela e Colômbia utilizem stablecoins para remessas, ainda lhes faltam ferramentas como o Pix, o Open Finance e o Drex. O resultado é que fundos americanos e europeus já enxergam o Brasil como a principal porta de entrada cripto para a América Latina.