A chegada do 13º salário e o clima de festa de dezembro acendem um alerta para o orçamento de muitas famílias. Segundo Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC), mais de 78% dos lares brasileiros já estavam endividados no fim deste ano, um dos maiores índices já registrados.

Ao mesmo tempo, a expectativa de vendas do varejo é alta. A previsão do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IAV-IDV) indica um crescimento de 3,9% em dezembro. Essa combinação de contas apertadas e forte apelo ao consumo costuma resultar em compras por impulso e um janeiro de aperto, com a chegada de impostos como IPTU e IPVA.

O gatilho econômico das festas

O ambiente festivo é um gatilho para o desequilíbrio financeiro. A mistura de apelos emocionais com a pressão do marketing transforma dezembro em um dos meses mais críticos para o orçamento. As pessoas se sentem inclinadas a gastar com presentes, roupas novas e viagens, muitas vezes sem uma reserva específica para isso.

O grande perigo está no uso de crédito caro, como o rotativo do cartão e o cheque especial. Além disso, existem os "custos invisíveis", que são aquelas pequenas despesas que se acumulam: confraternizações, serviços de beleza, transporte e refeições fora de casa. Sozinhos parecem pouco, mas somados pesam no orçamento.

“As campanhas de marketing e a sensação de ‘merecimento’ levam as pessoas a gastarem mais em presentes, roupas e viagens. Mas o problema se agrava porque muitas famílias não têm uma reserva específica para esse período e acabam usando crédito caro, como cartão de crédito e cheque especial”, afirma Fernando Sette Junior, economista e professor dos cursos de Gestão e Negócios do Centro Universitário UniBH.

Além dos gastos evidentes, o economista chama atenção para os “custos invisíveis”, que passam despercebidos nesta época: inúmeras confraternizações, roupas novas, serviços de beleza, gorjetas, transporte por aplicativos, além do extra consumido em viagens, de passeios a refeições fora de casa. “Individualmente, parecem valores pequenos, mas quando somados, representam uma fatia significativa do orçamento.”

Como evitar a ressaca financeira

Um bom planejamento é a chave para evitar o descontrole. O primeiro passo é listar todas as receitas do mês, incluindo o 13º salário, e todas as despesas fixas. Com essa visão clara, fica mais fácil estabelecer limites realistas para os gastos extras. Algumas estratégias ajudam a manter as contas em dia:

  • Antecipe as compras: aproveitar promoções ao longo do ano evita os preços mais altos da temporada.

  • Planeje as celebrações: definir cardápios e dividir tarefas para ceias colaborativas reduz custos de última hora.

  • Priorize pagamentos à vista: além de garantir descontos, essa prática diminui o risco de endividamento futuro. “Um desconto de 10% à vista pode ser mais vantajoso do que um parcelamento sem juros em 10 vezes, que compromete sua renda futura e pode levar ao descontrole financeiro”, orienta o especialista.

  • Use o 13º com estratégia: a prioridade deve ser quitar dívidas com juros altos ou reforçar a reserva de emergência.

Para quem já está com dívidas, a recomendação é clara: a prioridade é negociar e quitar os débitos. Sette Junior também orienta a adotar alternativas mais econômicas, como ceia colaborativa, amigo secreto com valores acessíveis, presentes artesanais e reutilização de decoração. “Celebrar não depende do valor gasto, mas da qualidade do tempo em conjunto com aqueles que amamos.”

A emoção por trás do consumo

O consumismo de fim de ano também tem um forte componente emocional. Presentear é uma forma de demonstrar afeto, mas, para muitas pessoas, o ato de comprar serve para preencher um vazio ou compensar frustrações acumuladas durante o ano.

Segundo a psicóloga e psicanalista Camila Grasseli, a pressão social também desempenha um papel central. “Vivemos em uma cultura que associa celebração ao consumo, e para algumas famílias, há uma crença: ‘se eu não der presentes, não estarei fazendo a minha parte’. Isso pode gerar um estresse psicológico grande, especialmente se a pessoa já vive com receio de apertos financeiros.”

Ibitinga (SP) – Capital do Bordado - A indústria têxtil é a grande força econômica da cidade, que se destaca pelos exclusivos conjuntos de cama, mesa e banho. Um paraíso para casais que fazem o enxoval. Andreas Lischka - pixabay
Limeira (SP) – Capital da Joia Folheada - A cidade tem mais de 600 empresas neste segmento. As semijoias podem ser banhadas com ouro, ródio ou qualquer outro metal precioso. Limeira concentra 50% da produção nacional. Divulgacao Simbolo da Capital da Joia Folhada
Apucarana (PR) – Capital do Boné - A produção de bonés na cidade paranaense fica a cargo de mais de 2 mil empresas que geram cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos na região. Site aen.pr.gov.br
Vale do Itajaí (SC) – Capital da Indústria Têxtil - O polo do Vale do Itajaí abrange Blumenau, Brusque, Joinville, Itajaí, Nova Trento, Luiz Alves, São Bento do Sul e Jaraguá do Sul. São cerca de 8 mil micro e pequenas empresas de roupas, tecidos e rendas. Divulgacao
Toritama (PE) – Capital do Jeans - Situada no Agreste Pernambucano, a cidade tem mais de 3 mil empresas de confecção que juntas produzem mais de 20 milhões de peças anualmente. Site Totitama.pe.gov.br Capital do Jeans
Birigui (SP) – Capital Latina do Calçado Infantil - O município é responsável por 52% da produção nacional do setor. E essa tradição tem 50 anos. Em 1971, Birigui foi apontado pela primeira vez como o principal polo de fabricação de calçados para crianças no Brasil. Divulgacao Calcados infantis
Laranjal Paulista (SP) – Capital do Brinquedo - É considerado o terceiro maior polo de fabricação de brinquedos no mundo. A produção diária chega a 5 mil peças. As mais populares são as bonecas e os carrinhos. Wikimedia Commons - Igor Eliezer Borges Vista do Largo Sao Laranjal Paulista
Tracunhaém (PE) – Capital do Artesanato em Cerâmica - Essa arte é tão importante no município da Zona da Mata Pernambucana que 50% dos habitantes garantem a subsistência com a transformação do barro em peças decorativas ou utilitárias. Site Tracunhaem.pe.gov.br
Nova Iguaçu (RJ) – Capital dos Cosméticos - O maior município da Baixada Fluminense recebeu essa designação em 2016, como reconhecimento pelo vigor da fabricação de produtos de beleza. São mais de 30 fábricas na cidade. Facebook Lea Cosmetics
Porto Ferreira (SP) – Capital da Cerâmica e da Decoração - A cidade a cerca de 200 km de São Paulo capital tem mais de 70 fábricas e cerca de 200 lojas voltadas para a produção de cerâmica. Site portoferreira.sp.gov.br
Juruaia (MG) – Capital Mineira da Lingerie - Outra cidade poderosa na fabricação de lingerie, tem cerca de 200 confecções que fornecem peças no atacado e no varejo. Mais de 5.000 pessoas trabalham no segmento de forma direta e indireta. Paulo JC Nogueira wikimedia commons
Nova Friburgo (RJ) – Capital da Moda Íntima - O polo industrial na Região Serrana do Rio de Janeiro responde por 25% da produção nacional de lingerie. São mais de 1.000 fábricas que juntas produzem cerca de 125 milhões de peças por ano. Youtube Canal Circuito Olaria de Moda Intima
Borda da Mata (MG) – Capital do Pijama - A cidade no sul de Minas sedia quase 200 empresas especializadas na confecção de roupas para dormir. A cada ano, são fabricados cerca de 80 mil pijamas. Site Prefeitura de Borda da Mata Weslley Alencar Pijamas
Jaú (SP) – Capital dos Calçados Femininos - A cidade tem um dos maiores shoppings de calçados femininos da América Latina. Conhecido como “Território do Calçado”, o complexo reúne mais de 200 lojas, com cerca de 500 mil itens no atacado e varejo. Facebook do Centro de noticias Live do Territorio de Calcados de Jau
Franca (SP) - Capital dos Calçados Masculinos - A cidade tem mais de 100 fábricas de pequeno, médio e grande porte que bombam a economia no setor calçadista, principalmente para homens. Pexels - pixabay
Com a evolução do e-commerce, esses polos contam com clientes que já não precisam se deslocar para fechar negócios presenciais. Consumidores podem fazer as encomendas à distância. Veja a seguir alguns dos polos mais dinâmicos do Brasil. Marcos Santos - USP imagens - Fotos Públicas
Em conjunto. esses polos aquecem o mercado de trabalho e impulsionam a economia regional. Muitas vezes, eles representam até mesmo um atrativo turístico. As cidades ganham apelido de "capital" de determinado produto. E essa fama vai longe. wnk1029 - pixabay
São lugares onde, na prática, é Black Friday o ano inteiro! A mão-de-obra especializada e a fabricação em larga escala permitem que os comerciantes ofereçam preços convidativos. E os consumidores aproveitam. gonghuimin468 - pixabay
Complexos que reúnem fábricas e lojas focados num certo segmento da economia atraem clientes de todo o país para compras no atacado e no varejo. São polos de produção e venda que conseguem manter preços mais acessíveis porque trabalham com grande volume e desfrutam de fama no setor. whirligigtop - pixabay

A especialista alerta ainda para sinais de que o consumo deixou de ser pontual e virou padrão prejudicial quando comprar passa a ser resposta automática para emoções fortes, de alegria ou frustração. Entretanto, na maioria dos casos, o consumo vem acompanhado de um sentimento de remorso, ansiedade ou vergonha diante dos boletos. “Esse ciclo emocional pode afetar a autoestima e levar a comportamentos financeiros autossabotadores, como ocultar dívidas ou evitar renegociações.”

Para criar limites saudáveis, é importante lembrar que o valor de um presente não mede o afeto. Gestos simbólicos, como um cartão ou algo feito à mão, comunicam carinho sem comprometer o orçamento. Antes de comprar algo por impulso, vale a pena fazer uma pausa e se perguntar sobre a real motivação daquela compra.

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“Para aqueles que já têm um comportamento consumista, táticas como ir às compras acompanhado de alguém menos impulsivo ou bloquear notificações de aplicativos que estimulam o desejo por consumo podem ser uma alternativa”, recomenda. Para situações em que o indivíduo não consegue mais se autocontrolar, Grasseli afirma que uma ajuda médica especializada precisa ser considerada.

Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.

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