Estátuas de Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus serão instaladas em frente ao Teatro Francisco Nunes -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press)

Estátuas de Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus serão instaladas em frente ao Teatro Francisco Nunes

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

As estátuas que vão homenagear a antropóloga belo-horizontina Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil, já têm local definido para instalação. De acordo com uma das idealizadoras do projeto, anunciado em dezembro do ano passado, a deputada estadual Bella Gonçalves (Psol), as duas obras ficarão em frente ao Teatro Francisco Nunes, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em posição de diálogo.

 

“É uma posição de troca entre mulheres negras, muito bonito, de fato”, explica a deputada.

 

Segundo o artista das obras, Léo Santana – responsável por todas as estátuas do Circuito Literário de Belo Horizonte –, as duas estarão com livros nas mãos. Ele também conta que criou um cenário e uma narrativa para a posição das obras, pensando também em como as pessoas as perceberão no Parque Municipal.

 

“Minha preocupação era fazer uma interligação entre as duas, não deixar uma coisa isolada. Então, planejei as duas juntinhas. Imagine a cena: as duas estão olhando para o livro na mão da Carolina, então chega alguém em frente a elas e as chama. É esse momento que capturei, então também é bom até para que as pessoas tirem fotos com elas”, conta ele à reportagem.

As homenageadas

Considerada a primeira mulher negra a se dedicar aos estudos de raça e gênero no Brasil, a antropóloga belo-horizontina Lélia Gonzalez colocou a sua intelectualidade a serviço da luta das mulheres no Brasil e revolucionou o movimento negro.

 

Já Carolina Maria de Jesus é considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil. Autora de obras como “Quarto de despejo: diário de uma favelada’, ela é mineira, natural de Sacramento, Região do Alto Parnaíba, e compartilhou a dura realidade de ser uma mulher negra, pobre e periférica. Sua primeira obra vendeu cerca de 3 milhões de livros em 16 idiomas.

 

Agora, ambas farão parte do Circuito Literário de Belo Horizonte, que já conta com esculturas dos escritores Carlos Drummond de Andrade, Henriqueta Lisboa, Pedro Nava, Roberto Drummond e Murilo Rubião – todas restauradas recentemente. As esculturas contam com sinalização interpretativa e conteúdo publicado em plataforma digital, acessados por meio de QR Code.

 

Na época do anúncio do projeto, as idealizadoras Bella Gonçalves, a jurista Jozeli Rosa, presidente do Psol BH, e Etiene Martins, pesquisadora das relações étnico-raciais – colunista no Estado de Minas – publicaram sobre a iniciativa em suas redes sociais.

 

“Uma cidade repleta de estátuas que têm em comum serem todas de pessoas brancas, a maioria absoluta de homens brancos. [...] Belo Horizonte também é preta e nossa negritude pode e deve fazer parte desse enredo”, escreveu Etiene em uma postagem no Instagram.

 

Não será necessário processo licitatório

 

No Diário Oficial do Município desta sexta-feira (5/4), foi publicada a inexigibilidade de licitação para a criação, execução e instalação da obra, ou seja, não será necessário processo licitatório para seleção ou contratação do serviço.

 

Segundo Bella Gonçalves, isso se deve ao fato de que se trata da “continuidade de uma política já existente e que segue um padrão que só aquele artista faz”.

 

“Estamos muito felizes com a instalação dessas estátuas. O croqui (esboço da obra) com a proposta já foi apresentada para a família da Lélia Gonzalez em uma reunião aqui em Belo Horizonte, da qual participei com as idealizadoras Etiene Martins e Jozeli Rosa, com o artista Léo Santana, que está construindo as obras e com a Prefeitura de Belo Horizonte”, declarou ela.

 

A expectativa, agora, é de que as estátuas sejam inauguradas em julho deste ano, quando se realiza o movimento Julho das Pretas, mês em que também se comemora o Dia da Mulher Afrolatino-americana, Afrocaribenha e da Diáspora (25/7).

  

Circuito Literário e a recuperação das obras

 

A Belotur é a responsável pela criação dos roteiros literários e a Secretaria Municipal de Segurança Pública e a Guarda Municipal estão cooperando para reforçar a segurança desse importante patrimônio da cidade.

 

Quando foi anunciada a restauração das obras, elas já apresentavam um histórico extenso de degradação. Em agosto de 2022, a estátua do escritor Roberto Drummond amanheceu pichada no domingo de Dia dos Pais; o porta mineiro Carlos Drummond de Andrade já estava sem a mão direita – guardada no prédio da Prefeitura – há anos; e a escultura de Henriqueta Lisboa teve as duas mãos arrancadas e os olhos tingidos de vermelho.

 

Todo o processo de recuperação das esculturas já existentes e as ações educativas contam com investimentos de cerca de R$ 200 mil por parte da PBH.

 

O escultor Léo Santana e a empresa Base Projetos desenvolveram um amplo planejamento que envolveu a remoção, recuperação e instalação das obras. As cinco esculturas passaram por minucioso e especializado processo de reparação, que demandou trabalho altamente especializado e detalhista. Ao todo, cerca de 11 profissionais entre soldador, moldador, acabador, oxidadora, fundidor e escultor participaram do processo de recuperação das obras.

 

Para Santana, é “sempre uma sorte” poder ser um dos realizadores do projeto. “Para mim, é o queijo e a goiabada, porque representar tantas pessoas da área cultural e isso se tornar um projeto me deixa lisonjeado. Eu sou muito feliz por fazer parte disso e faço tudo com o maior prazer, porque é algo grandioso”, declara.

 

Confira a localização de cada uma das estátuas:

 

  • Murilo Rubião: Praça da Liberdade, 21 - Funcionários, Belo Horizonte-MG (em frente à Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais)
  • Henriqueta Lisboa: Rua Pernambuco, 1.332 - Funcionários, Belo Horizonte-MG
  • Roberto Drummond: Rua Antônio de Albuquerque, 595 - Savassi, Belo Horizonte-MG
  • Pedro Nava e Carlos Drummond de Andrade: Rua Goiás, 46 - Centro, Belo Horizonte-MG