Xenofobia na internet teve um aumento de 252% em um ano, segundo Safernet -  (crédito: Pixabay/Reprodução)

Xenofobia na internet teve um aumento de 252% em um ano, segundo Safernet

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O número de denúncias de xenofobia na internet cresceu 252,25% entre 2022 e 2023, de acordo com um levantamento da organização não-governamental (ONG) Safernet divulgado nesta terça-feira (6/2). Os dados são destaque juntamente com o aumento de 29,97% de denúncias de intolerância religiosa.

Thiago Tavares, fundador e diretor-presidente da Safernet, explica que “o crescimento de denúncias desses dois crimes este ano está atrelado ao conflito no Oriente Médio” entre Israel e Palestina.

O confronto, que já vitimou desde o dia 7 de outubro 27.747 palestinos, segundo o Hamas e 1.139 israelenses, de acordo com o governo de Israel, também fez emergir na internet uma onda islamofóbica e antissemita.

Islamofobia

No Brasil, a crescente no racismo e na xenofobia contra palestinos pode ter base na tendência de os meios de comunicação reproduzirem propaganda de guerra em favor de Israel, segundo Soraya Misleh, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino.

“Se não se compreender isso, vai se cair na propaganda de que é uma guerra entre Hamas e Israel, pontual e circunstancial. Não é isso. O ataque aos palestinos dura mais de 75 anos. Sabemos de ameaças, demissões e discurso de ódio contra a comunidade árabe e o povo palestino que é o oprimido na contínua Nakba [palavra árabe que significa catástrofe e designa a expulsão de palestinos de áreas que se tornariam Israel, em 1948]. Muitas fake news e muita criminosa irresponsabilidade em sua difusão precisam parar imediatamente”, contou ela à Agência Brasil.

Uma pesquisa realizada pelo Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (Gracias), da Universidade de São Paulo (USP) também atestou que a imprensa pode ter contribuição na islamofobia vivenciada no país. Das 310 pessoas que responderam ao questionário, 92,3% das mulheres e 88% dos homens entendem que a cobertura jornalística em torno do ataque de 7 de outubro colaborou muito para a intolerância de pessoas muçulmanas.

Parcelas de 7,2% dos homens e de 5,5% das mulheres julgam que os veículos de comunicação influenciaram pouco no desenvolvimento ou piora da hostilização. A maioria dos entrevistados concluiu que as redes sociais passaram a multiplicar mais postagens que retratam os muçulmanos de forma negativa após a data.

Antissemitismo

Em relação ao antissemitismo, um levantamento do Departamento de Segurança Comunitária da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) constatou que, somente em outubro do ano passado, foram registradas 467 denúncias – um crescimento de 961,36% em relação ao mesmo período em 2022.

O presidente executivo da Fisesp, Ricardo Berkiensztat, afirma que, após os primeiros ataques do Hamas a Israel, a comunidade israelita no Brasil sentiu um aumento do antissemitismo. “E, para tanto, estamos atentos à segurança da comunidade em contato direto com os órgãos públicos para evitar quaisquer tipos de ameaça”, relatou à Agência Brasil.

Segundo Berkiensztat, a comunidade acredita que Israel tem o direito e o dever de se defender e que, para que a paz volte à região, é preciso desmantelar o Hamas.

Outros dados da Safernet

Apesar do crescimento do número de denúncias de xenofobia na internet, houve queda no número de denúncias de três crimes de ódio entre 2022 e 2023: racismo (- 20,36%), LGBTfobia (- 60,57%) e misoginia (- 57,56%).

Para a ONG, a queda de denúncias desses tipos de crime já era esperada, uma vez que crimes de ódio costumam aumentar em anos eleitorais, como ocorreu em 2018, 2020 e 2022. Ainda assim, os números não foram suficientes para frear a tendência de alta no número de denúncias recebidas pela Safernet, que bateu um recorde em 2023.

Somente no ano passado, a instituição recebeu um total de 101.313 denúncias únicas. O recorde anterior era de 2008, quando foram recebidas 89.247 denúncias.

O destaque, ainda, foi dado para o número de denúncias referente a imagens de abuso e exploração sexual infantil online. Em 2023, foram 71.867 novas denúncias, batendo o recorde absoluto desse tipo de crime ao longo de 18 anos de funcionamento da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos.

Denúncias novas ou únicas são links nunca antes reportados pelos usuários da internet à Safernet, que as pré-processa e disponibiliza ao Ministério Público Federal (MPF) para análise e investigação. Os duplicados (aqueles denunciados repetidamente) são agrupados e/ou descartados para evitar duplicidade de investigações.

Como denunciar?

A Safernet Brasil oferece um serviço de recebimento de denúncias anônimas de crimes e violações contra os Direitos Humanos na Internet, e conta com suporte governamental, parcerias com a iniciativa privada e autoridades policiais e judiciais.

As denúncias de crimes cibernéticos também podem ser realizadas pelo ofendido através de delegacias comuns ou especializadas para registrar um boletim de ocorrência.

No estado de Minas Gerais, a Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos (DEICC) está em Belo Horizonte, localizada na Av. Francisco Sales, 780, Bairro Floresta. É possível entrar em contato por telefone pelos números (31) 3217-9714 / (31) 3217-9712 / (31) 3217-9714, ou por e-mail (crimesciberneticos@pc.mg.gov.br).