Os clientes da Carmnella, no Bairro Castelo, escolhem a pizza em tablets 
       -  (crédito:  Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Os clientes da Carmnella, no Bairro Castelo, escolhem a pizza em tablets

crédito: Marcos Vieira/EM/D.A Press

O primeiro contato com a comida de um bar ou restaurante é o cardápio. É nele que conhecemos a diversidade culinária e nos aventuramos em variadas opções de pratos e petiscos. Com a pandemia da COVID-19, o cardápio impresso abriu espaço para novos formatos. A tecnologia se fez presente e os menus digitais entraram em cena, ou melhor, em tela.


“Atualmente usamos o cardápio digital, onde o cliente acessa pelo QR Code ou diretamente pelo nosso site. A escolha se deu por conta de um decreto da prefeitura durante a pandemia, que proibia a utilização do cardápio impresso”, revela Thales Barboza, proprietário do Bar Ideal, especializado em chope, no Bairro Buritis.

Homem escaneando cardápio em QRCode com o celular

"A implantação do cardápio digital foi muito positiva para os clientes, já que eles não precisam esperar um garçom atender a mesa e já podem ir conferindo os itens disponíveis." Thales Barboza, proprietário do Bar Ideal

Tulio Santos/EM/D.A.Press


O amplo cardápio do restaurante na Região Oeste de BH conta com pratos das cozinhas nacional e internacional, com destaque para as carnes. Como exemplo, costela de porco ao molho barbecue acompanhada de batatas especialmente condimentadas e costela de boi com mandioca cozida na manteiga, chimichurri e molho parrillero. Há também cortes especiais preparados na parrilla, incluindo carré de cordeiro e picanha wagyu.


Devido à variedade de opções, Thales enxerga o cardápio digital como um facilitador para os clientes, principalmente em dias de casa cheia. “A implantação do cardápio digital foi muito positiva para os clientes, já que eles não precisam esperar um garçom atender a mesa e já podem ir conferindo os itens disponíveis”, destaca.


Não são só os clientes que saem ganhando com esse tipo de cardápio. Thales também aponta benefícios para o estabelecimento.

Costela de boi com mandioca cozida na manteiga, chimichurri e molho parrillero e cardápio em QR Code

Costela de boi com mandioca cozida na manteiga, chimichurri e molho parrillero: para escolher o que comer no Bar Ideal, é preciso acessar o cardápio pelo celular através do QR Code

Túlio Santos/EM/D.A Press


“A facilidade para inserir ou retirar itens do cardápio digital foi muito positiva para nós. Antes dele, deixávamos alguns que não tinham muita procura até a próxima reformulação, o que poderia demorar”, inicia. “Como sempre buscávamos customizar nossos cardápios, o valor de impressão era muito elevado, então o cardápio digital nos trouxe também um custo menor de implantação”, completa.

De geração em geração


Inaugurado na década de 1950, o Maria das Tranças tem um dos mais tradicionais cardápios da cidade. Com foco na culinária mineira, o restaurante é conhecido pela grande variedade de frangos ensopados, tendo como destaque o frango ao molho pardo acompanhado de arroz, quiabo e angu. Passado de geração em geração, o cardápio impresso está em todas as mesas do restaurante no Bairro São Francisco.


“Mantemos o cardápio impresso como parte do restaurante. Saímos dele só durante a pandemia, por uma questão de necessidade e obrigação”, revela Ricardo Rodrigues, atual proprietário do Maria das Tranças, já na terceira geração.


A escolha de continuar com os cardápios físicos veio a partir de uma visão do que seria melhor para os frequentadores do local. “Minha decisão de manter os cardápios impressos é pela praticidade. Além disso, lidamos com uma clientela muito tradicional e conservadora. Mas o nosso cardápio é bem interativo e tem fotos. O ser humano come primeiro com os olhos, então o cliente pode ver as fotos na própria mão e isso faz toda a diferença.”


O dono do Maria das Tranças acrescenta que já tentou migrar para os cardápios digitais, mas eles não tiveram uma boa aceitação do seu público.


“Durante a pandemia, lidamos com muitas reclamações sobre o QR Code. Os clientes queriam pegar o cardápio e vê-lo impresso. Dessa forma, tive que buscar uma solução. Fizemos um cardápio de folha única plastificado e trocávamos esse plástico de cliente em cliente.”

Homem segurando cardápio impresso

"Mantemos o cardápio impresso como parte do restaurante. Saímos dele só durante a pandemia, por uma questão de necessidade e obrigação." Ricardo Rodrigues, proprietário do Maria das Tranças

Jair Amaral/EM/D.A. Press


Frequentador do Maria das Tranças, Emerson Mechetti é categórico: “Sou adepto do cardápio físico, uma vez que não temos internet de alta qualidade, o que pode comprometer a experiência quando o cardápio é digital”, opina.


“O cardápio impresso garante acessibilidade para aqueles clientes que não estão familiarizados com tecnologia. Facilita a visualização e o manuseio, já que não depende de energia ou conexão à internet”, completa Maria Clara Rodrigues, de 19 anos, filha de Ricardo, que já o ajuda no restaurante. A jovem reforça, também, que, no Maria das Tranças, o cardápio físico serve como um atrativo visual, transmitindo a identidade do estabelecimento.

Cardápio impresso aberto com prato na frente

Além de listar a grande variedade de frangos ensopados, o cardápio do Maria da Tranças conta a história do restaurante, inaugurado na década de 1950

Jair Amaral/EM/D.A. Press

Liberdade de escolha


Em maio deste ano, o vereador César Gordin (Solidariedade) apresentou à Câmara Municipal de Belo Horizonte um projeto de lei que obrigava todos os bares e restaurantes a ter a opção de cardápio impresso, sob pena de advertência, multa e cassação do alvará de funcionamento. Sua justificativa era garantir a inclusão e o respeito a todos os consumidores. Quatro dias depois, ele retirou o projeto a pedido da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG).


A atual presidente da Abrasel-MG, Karla Rocha, diz que a associação defende que cada empresário tenha liberdade de tomar sua decisão, sem a imposição de regulamentações.


“Não somos contra o uso de cardápios impressos, mas, sim, defendemos a liberdade de escolha. Compreendemos que cada cliente tem suas preferências e cada estabelecimento tem sua própria abordagem de trabalho. O mercado, por sua vez, determinará o que é mais adequado em cada situação”, informa Karla.


No mesmo mês, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) recebeu proposta parecida, que obriga estabelecimentos de todo o estado a disponibilizar o cardápio impresso. O deputado estadual Sargento Rodrigues (PL), autor do texto, aponta como justificativa “a crescente demanda dos consumidores, em especial, idosos e pessoas que não têm acesso à tecnologia”.

Ponto para a tecnologia


A discussão entre cardápios impressos e digitais abriu espaço para uma opção: os tablets, que juntam a tecnologia do virtual com a presença física.


Além de servir deliciosas pizzas no estilo napolitano, a Pizzaria Carmnella, inaugurada em 2019, na Região da Pampulha, apresenta uma experiência inovadora para os clientes.


“Começamos com um modelo de cardápio em papel, mas logo nos foi oferecida a versão digital. Constatamos de imediato um comodismo tanto para a gente quanto para o cliente”, conta Marcus Vinicius Ferreira, proprietário e chef pizzaiolo da Carmnella.


Desde que o novo sistema foi implantado no restaurante, teve a aprovação dos clientes. Todos os dias, segundo Marcus, os clientes elogiam o tablet, principalmente pela facilidade de operação. “Temos mais agilidade no atendimento e uma maior eficiência na entrega dos produtos. Se, porventura, um ingrediente acabar, nós podemos facilmente tirá-lo do cardápio. Os clientes também têm mais interatividade com os nossos pratos por causa das fotos”, enumera.

Homem segurando pizza

"Começamos com um modelo de cardápio em papel, mas logo nos foi oferecida a versão digital. Constatamos de imediato um comodismo tanto para a gente quanto para o cliente." Marcus Vinicius Ferreira, proprietário e chef pizzaiolo da Carmnella Pizza &Pasta

Marcos Vieira /EM/DA. Press.


“A praticidade de navegar pelo menu no tablet certamente faz a experiência gastronômica mais interessante. Sinto também mais agilidade na entrega dos pedidos e no pagamento da conta. Conheço a casa desde a época do cardápio impresso e posso garantir que a melhora foi significativa”, revela Shayene Almeida, cliente da Pizzaria Carmnella.


Sócio da Mafra Informática, empresa especializada em automação de restaurantes, Marcelo Almeida reforça que o uso do cardápio digital é bom para os dois lados.


“Como o cliente pode fazer o pedido diretamente pelo tablet, de uma maneira simples e rápida, já que não tem que esperar ser atendido, o número de garçons dentro do salão pode ser menor. O dono gasta menos com mão de obra e gráfica para imprimir o cardápio e essa redução de custos pode ser observada nos valores dos pratos nos restaurantes”, ressalta.


Para não provocar rejeição imediata, Francisco Gonzaga, também sócio da Mafra Informática, sugere que a mudança seja feita aos poucos.


“Sempre sugiro começar essa mudança de forma híbrida, ou seja, ofereça os modelos impresso e digital no início. A partir daí, é fundamental que o restaurante treine seus colaboradores de forma que eles possam mostrar aos clientes todas as vantagens de se usar um cardápio digital e auxiliá-los em caso de dúvidas ou problemas. Dessa forma, pode gerar uma maior aceitação”, completa.

Casal olhando cardápio digital

"A praticidade de navegar pelo menu no tablet certamente faz a experiência gastronômica mais interessante. Sinto também mais agilidade na entrega dos pedidos e no pagamento da conta." Shayene Almeida, cliente da Carmnella Pizza &Pasta

Marcos Vieira /EM/DA. Press

À la carte


A palavra cardápio vem da junção de dois termos em latim: “charta” (papel) e “dapum” (iguarias). No início, os restaurantes anunciavam seus pratos em placas instaladas na fachada ou na porta, chamadas de “carte”, palavra francesa que acabou por se tornar um tipo de serviço, o famoso à la carte. Com o passar do tempo, os próprios clientes começaram a solicitar uma cópia da “carte”. Como a versão apresentada era uma réplica reduzida da encontrada na fachada do restaurante, começou a ser chamada de menu, variação da palavra minutu, que, do latim, significa reduzido, diminuto.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino


Serviço


Bar Ideal
Rua Eli Seabra Filho, 530, Buritis
(31) 3227-7538

@barideal  barideal.com.br

Maria das Tranças
Rua Estoril, 938, São Francisco
(31) 3441-3708 

@mariadastrancasrestaurante mariadastrancas.com.br

Carmnella Pizza e Pasta
Avenida Altamiro Avelino Soares, 655, Castelo
(31) 3267-1820

@carmnellapizza