Recém-inaugurada na Galeria Genesco Murta, a exposição dedicada a GTO, como o escultor Geraldo Teles de Oliveira (1913-1990) gostava de ser chamado, tem um título quase literal: “De Divinópolis para o mundo”. Todas as obras vêm da cidade do Centro-Oeste mineiro onde ele viveu a maior parte de sua vida.


Com curadoria do historiador Faber Barbosa, a mostra reúne 32 obras: 10 delas são de GTO e as demais de seu filho e de seu neto, respectivamente Mário Teles e Alex Teles. A maior parte das esculturas veio do Museu GTO, em Divinópolis, criado na casa onde o artista viveu e trabalhou.


Um dos destaques, comenta o curador, é a maior escultura da mostra. “GTO faleceu deixando-a inacabada. É uma obra retangular, plana, para ser vista em pé. São mais de 2 metros de altura. Ela traz detalhes importantes da dinâmica de trabalho dele, que era única. Ele esculpia as correntes diretamente na madeira, não as fazia separadamente. Essa obra dá uma ideia do processo criativo, mostrando a atenção que ele dava aos vazios, por exemplo.”


Outra obra que Barbosa ressalta é uma escultura em pedra sabão, “uma das pouquíssimas (no material) que se tem notícia”. Há ainda um autorretrato. “Ele era uma figura muito miúda, um típico trabalhador do começo do século passado. Nesse autorretrato, sua altura é um pouco maior e ele segue o padrão dos próprios personagens, que são mais encorpados.”


Várias profissões

GTO, é bom lembrar, tornou-se escultor na meia idade. Nascido em uma família humilde de Itapecerica, chegou a Divinópolis na infância. Exerceu profissões diversas – foi trabalhador rural, fundidor e vigia noturno.


“Depois que esgota as opções de trabalho, aos 50 anos, na década de 1960, se vê desempregado. O investimento na produção cultural foi uma tentativa de sobrevivência”, comenta Barbosa. A exposição em cartaz na Genesco Murta já foi vista em Divinópolis e em Ouro Preto.


Sem nunca ter feito um trabalho em escultura, por volta de 1965 GTO começa a desbastar grandes peças de madeira. Entre seus temas, as festas religiosas e o folclore do interior de Minas. Sua primeira individual foi em 1967, na Galeria Guignard (atrelada à Escola Guignard, atual UEMG, nos porões do Palácio das Artes). Com o devido reconhecimento, participou da Biennale Formes Humaines, no Museu Rodin, em Paris (1974), da 13ª Bienal Internacional de São Paulo (1975) e da Bienal de Veneza (1980).


“GTO é um exemplo da criatividade do trabalho que, sem escolaridade, constrói sua própria identidade cultural, ‘conversando’ com qualquer parte do mundo. Suas esculturas em formato circular, que ele chamava roda da vida, têm relação com a história do mundo. Ele nunca foi para o exterior e, sem sair do lugar, talhou o mundo inteiro”, afirma Barbosa.


As esculturas de Mário e Alex Teles carregam, obviamente, a influência da obra de GTO. “O filho tem sua própria originalidade, mas ele se adequou mais às questões do mercado. O GTO deixava as obras com acabamento mais rústico, mostrando a incisão das ferramentas. Mário deu uma polida, tirou as formas mais brutas da madeira. Já o neto não ficou preso a elementos do folclore. Há influências diversas (nas obras), e ele usa também a linguagem do cinema.”

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“GTO: DE DIVINÓPOLIS PARA O MUNDO”
A exposição está em cartaz na Galeria Genesco Murta, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Visitação de segunda a sábado, das 12h às 21h; domingos, das 17h às 20h. Nesta quarta (24/12) e quinta (25/12), o Palácio das Artes estará fechado. Entrada franca. Até 22 de fevereiro.

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