Foi unânime. E poderia ser de outra maneira? O guitarrista Wilson Lopes afirma ter sido emocionante a reunião do Conselho Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais, com mais de 50 docentes, que aprovou, por unanimidade, a concessão do título de doutor honoris causa a Milton Nascimento. A entrega será nesta noite (22/12), na reitoria da universidade. A honraria virá em dose dupla: Toninho Horta também receberá o título.
Os acordes e progressões harmônicas de Toninho Horta se tornaram referência para muitos músicos dentro e fora do Brasil
A iniciativa veio da Escola de Música da UFMG, por meio de Lopes e de Mauro Rodrigues, professores da instituição. Houve total apoio da reitora Sandra Regina Goulart Almeida. O parecer do Conselho Universitário destacou que Milton “trata-se de um dos maiores expoentes da música brasileira, artista de prestígio internacional, dotado de voz inconfundível e autor de composições inovadoras e emocionantes, que harmonizam referências regionais com elementos variados da música popular brasileira.”
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Além da solenidade em si, haverá ainda apresentação, com repertório de Milton e Toninho, aberta ao público: a primeiro de alunos da disciplina “A Música de Milton Nascimento”, que Lopes ministra há vários anos na universidade, e outra com os próprios professores da universidade.
Lopes trabalhou com Milton por 30 anos, como músico e diretor musical. Será ele quem vai receber o título, já que o cantor e compositor de 83 anos está recolhido em sua casa no Rio de Janeiro desde o diagnóstico recente de demência por corpos de Lewy. O discurso será de improviso, diz Lopes, que recebeu na última terça-feira (16/12) outro honoris causa para Bituca, desta vez concedido pela Fiocruz.
A celebração dos 77 anos de Toninho Horta, em 2 de dezembro, foi no Bar do Museu Clube da Esquina.
No intervalo do show, Wilson Lopes anunciou a concessão do título, também por unanimidade. “Quase caí duro”, afirma Toninho. A UFMG destacou que “a complexidade e inovação presentes em sua linguagem harmônica têm se constituído em objeto de investigação acadêmica, evidenciando a importância de sua contribuição tanto na prática performática instrumental quanto na fundamentação teórica dos estudos musicais”.
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Toninho comenta que o título da UFMG será o primeiro que vai receber. No entanto, ele já foi agraciado com outro honoris causa, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). “A nomeação aconteceu um ano e meio atrás, mas ainda não conseguiram marcar a entrega do título”, conta.
Na apresentação depois da solenidade, Toninho deve tocar alguns de seus clássicos, “Manuel, o audaz” e “Beijo partido”, entre eles. Está prevista ainda uma homenagem a Lô Borges – “ele merecia um título desses”, diz Toninho. “O trem azul” (Lô Borges e Ronaldo Bastos), uma das canções mais executadas em todos os tributos desde a morte do cantor e compositor, em 2 de novembro, estará no repertório. Não custa lembrar que a música do álbum “Clube da esquina” preferida de Tom Jobim (que a gravou duas vezes) traz um solo antológico de Toninho.
CAMINHO DIFÍCIL
Autodidata como muitos dos grandes, Toninho frequentou poucas aulas de música. “Desde novo eu queria liberdade de composição, então preferi seguir o caminho mais difícil”. Mas ele chegou a frequentar, aos 17 anos, a Universidade Mineira de Arte (a antiga UEMG). “Foi durante um ano, mas só a parte de teoria, nada de instrumento. Mas isso acabou me ajudando a escrever música”.
Os principais termômetros de Toninho estavam dentro de casa. “Minha irmã Berenice, que nos deixou há três meses (um ano mais velha que ele, morreu em 10 de agosto), foi minha empresária, produtora. Foi ela quem me inscreveu no Grammy Latino em 2020, sem eu saber. Ela tinha um ouvidaço, então me dizia ‘essa música está melhor do que a outra’. O outro termômetro era meu irmão Paulinho Horta (contrabaixista), 15 anos mais velho que eu.” A música estava em toda a família: seu pai, Prudente de Melo, tocava violão; sua mãe, Geralda Magela Horta de Melo, bandolim; e seu avô, João Horta, foi maestro e compositor.
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Os acordes e progressões harmônicas de Toninho se tornaram escola para muita gente. Não só no Brasil, mas também no exterior. Ele contabiliza 1,3 mil gravações em todo o mundo. O músico entra em 2026 com novidades.
Já gravado, o álbum “Standards and stories”, produzido por Sandro Albert, guitarrista gaúcho radicado nos EUA, apresenta Toninho, acompanhado de orquestra, tocando e cantando clássicos do cancioneiro americano como “My romance” e “What a wonderful world”. “São músicas que todo o mundo já gravou, mas o meu lado de Minas Gerais vai trazer uma visão diferente”, finaliza.
“DOUTOR HONORIS CAUSA”
A UFMG concede o título a Milton Nascimento e Toninho Horta nesta segunda-feira (22/12), às 19h, no auditório da Reitoria, Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha. Aberto ao público.
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O título que será concedido nesta noite será o sexto honoris causa que Milton Nascimento. O primeiro deles foi em 2012, pela UEMG. O segundo, em 2016, o levou aos Estados Unidos. Milton se tornou o primeiro brasileiro a receber a honraria da Berklee College of Music, em Boston, a maior faculdade independente de música do mundo. Já em 2025, ele recebeu o título de outras três instituições, além da UFMG: da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Diamantina, e da Fiocruz.
