“Um bom artista é aquele cuja obra você consegue reconhecer sem nenhuma identificação”, diz o curador Antonio Curti, afirmando que os traços de Yoshitaka Amano são inconfundíveis. O refinamento e a evolução estilística do artista japonês poderão ser conferidos na exposição “Além da fantasia”, que será aberta nesta quarta-feira (10/12), no CCBB BH, e segue em cartaz até 2 de março.

Lenda da cultura pop, o artista Yoshitaka Amano tem 73 anos. Ele recebeu o curador Antonio Curti em seu ateliê, no Japão, para selecionar as obras da maior exposição mundial de seus trabalhos

Lua Morales/divulgação

Amano, de 73 anos, é nome influente da cultura pop. Responsável pelo design de “Final fantasy”, uma das maiores franquias de videogame do mundo, ele atuou na produção de animes e criou releituras de Batman, Superman e Sandman, entre outros personagens.

“Amano mobiliza uma legião de fãs porque muita gente se reconhece no que ele cria. Na cultura dos games e do universo geek, as obras dele despertam sentimentos muito fortes”, observa Curti.

Estreia nacional em BH

“Além da fantasia”, que estreia nacionalmente em Belo Horizonte e seguirá para Rio de Janeiro e Brasília em 2026, é a maior mostra dedicada ao artista no mundo. As 218 peças vieram diretamente do ateliê de Amano no Japão. O público verá desenhos a lápis e nanquim, pinturas, obras em alumínio e células de animação, além de revistas, quadrinhos e cartas de jogos ilustradas por ele.

Antonio Curti, curador da mostra "Além da fantasia", diz que Amano ganhou fama mundial porque "muita gente se reconhece no que ele cria"

Túlio Santos/EM/D.A Press

A exposição ocupa as galerias do terceiro andar do CCBB, com uma sala imersiva e sete núcleos: “Tatsunoko”, “Vampire hunter D”, “Final fantasy”, “Angel’s egg”, “Colaborações”, “Candy girl” e “Devaloka”. Cada núcleo é identificado pela cor diferente da parede. A divisão segue, em linhas gerais, o percurso cronológico, reunindo obras produzidas ao longo de mais de 40 anos.

O percurso começa à esquerda da entrada do terceiro andar, em sentido anti-horário. A primeira sala apresenta trabalhos feitos no estúdio Tatsunoko, onde Amano ingressou em 1967, aos 15 anos. Lá, participou de séries como “Speed racer”, “Gatchaman” e “Tekkaman”, até estrear no cargo de designer de personagens da empresa. O fundo verde-água da sala remete à paleta da logo da Tatsunoko.

O segundo núcleo, de paredes pretas e iluminação baixa, traz desenhos criados para o filme “Vampire hunter D” (1985), incluindo obra inédita. Amano adotou a estética gótica para o universo de fantasia e terror.

“O estilo sombrio e misterioso foi disruptivo para a época, moldando produções que vieram depois. São obras profundamente cinematográficas”, comenta Curti.

Sala azul exibe obras de Yoshitaka Amano criadas para o game 'Final fantasy'

Túlio Santos/EM/D.A Press

Na sequência, três salas azuis são dedicadas à franquia “Final fantasy”. “É uma das maiores franquias de videogame do século. Antes dela, não eram comuns jogos com personagem e narrativa, quase como ler um livro”, explica o curador.

Do steampunk ao cyberpunk

Yoshitaka Amano foi convidado para criar o jogo devido à qualidade de seus projetos anteriores. Como resultado, a franquia rendeu 16 volumes principais e diversas obras derivadas.

Com estética, gráficos e enredos variados, do steampunk ao cyberpunk, passando por romances, a série é pioneira em diversos aspectos. Foi, por exemplo, a primeira a incluir cena de beijo e a lançar jogo online para console.

A primeira sala do núcleo traz obras do primeiro ao quinto jogo; a segunda reúne quadros do sexto ao nono, incluindo pintura inédita de “Final fantasy 6”; e a terceira apresenta trabalhos do 10º ao 16º título. No final do núcleo, no canto de parede roxa, são exibidas cinco obras de “Angel’s egg”, filme experimental dirigido por Mamoru Oshii que anima pinturas de Amano.

Depois, o público chega à sala das colaborações que consolidaram a reputação de Amano. Nela, estão parcerias e releituras realizadas após o sucesso dos jogos. Há trabalhos com Marvel, DC, as franquias “Tomb raider” e “Sandman”, a Vogue Itália e o jogo “Magic: the gathering”.

“As colaborações resumem o sucesso do que ele fez e o que ele virou. Revelam como ele transcendeu o mundo da arte”, explica Curti.

Nudez e Andy Warhol

Os dois últimos núcleos são “Candy girl”, com fundo rosa e ilustrações de mulheres seguindo a estética pop art inspirada em Andy Warhol, e “Devaloka”.

 

Sala imersiva da exposição 'Além da fantasia', que exibe obras do artista japonês Yoshitaka Amano até 2 de março no CCBB BH, na Praça da Liberdade

CCBB/reprodução

No encerramento da exposição, com classificação indicativa de 12 anos por conter nudez, estão obras em placas de alumínio com pintura automotiva. Algumas pinturas chegam a 2,40m de altura, todas desenhadas à mão pelo artista.

Logo após esse núcleo, a sala imersiva apresenta vídeo de 10 minutos com as obras de “Devaloka” animadas. Esta etapa tem classificação indicativa livre.


“ALÉM DA FANTASIA”


Obras de Yoshitaka Amano. Desta quarta-feira (10/12) a 2 de março, no terceiro andar do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Visitação de quarta a segunda, das 10h às 22h. Entrada gratuita, mediante a retirada de ingressos no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria da casa.


* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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