Professor aposentado da UFJF, André Pires sugeriu ao aluno Moisés Mattos o livro que o ajudou a aprender inglês, alemão e francês, entre outras línguas - (crédito: Bruno Luís Barros/EM/D.A Press)
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Juiz de Fora – O filme 'Três atos de Moisés', sobre a luta do mineiro Moisés Mattos para se tornar pianista, destaca o papel de dois professores, André Pires, no Brasil, e Ivone Bambirra, na Alemanha, na trajetória de sucesso do artista, atualmente radicado neste país europeu.
Aos 17 anos, Moisés Mattos encerrou as aulas de música com André Pires, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, que ensinava ao rapaz em sua própria casa.
O jovem mineiro viajou para a Alemanha aos 18 anos, fixando residência em Hamburgo na casa de um rapaz que havia conhecido pela internet. O relacionamento durou até 2015.
O professor Pires conta que o pupilo chegou à Europa sabendo tocar a “Primeira sonata”, do compositor russo Serguei Prokofiev, a primeira balada de Chopin e “Impressões seresteiras”, do brasileiro Heitor Villa-Lobos.
"O Moisés é muito modesto, mas a verdade é que ele é genial. Não tem como classificá-lo de outra forma”, diz Pires, emocionado, revelando que o aluno acabou virando filho.
“Ele foi para a Alemanha sem emprego em vista, sem nada! Sempre soube da capacidade que tem. Somente alguém com a genialidade dele poderia ter essa confiança”, acredita.
O diretor Eduardo Boccaletti e equipe filmam Moisés Mattos em ação
Reprodução
Quando chegou à Alemanha, o mineiro falava inglês e alemão fluentemente. Depois, aprendeu francês, espanhol, italiano e, por último, russo. “O André me sugeriu um livro (método Assimil), que facilitou muito o aprendizado desses idiomas”, explica Moisés.
Em 2009, em Hamburgo, ele conheceu a professora brasileira Ivone Bambirra, radicada no país há mais de 35 anos. “Eu estava meio perdido. Assim como o André, ela confiou em mim e resolveu me dar aulas, além de me orientar a prestar vestibulares. Fiz provas em cinco instituições e passei em todas. Optei pela faculdade de música em Bremen”, relata. Na mesma instituição, Moisés concluiu o mestrado em 2021.
“No início, quando cheguei, foi tudo muito difícil. Mas antes mesmo de conhecer a professora Ivone e obter o bacharelado, eu dava aulas particulares. Andava por todo lado oferecendo meus serviços, colava cartazes nas ruas. Passei a acompanhar no piano apresentações de cantores e dançarinos, além de atuar como solista em muitas produções”, conta.
Ao voltar ao Brasil, em 2019, Moisés Mattos já havia feito concertos na Hungria, Itália, França e Inglaterra, entre outros países europeus. Regressou a Juiz de Fora para o início das filmagens do documentário “3 atos de Moisés”, dirigido por Eduardo Boccaletti.
O pianista só foi subir ao palco do Cine-Theatro Central pela primeira vez em 4 de agosto de 2019. Tocou por mais de duas horas peças complexas de Chopin, Franz Schubert e Sergei Rachmaninoff.
Moisés toca pela primeira vez no Cine Theatro Central, em Juiz de Fora, para gravar cenas do filme dedicado a ele
Pedro Castro/divulgação
Produção independente
O cineasta Eduardo Boccaletti também viveu a própria saga, por sete anos, para levar “3 atos de Moisés” para as telas. Produzido pela É Pra Ontem Filmes e distribuído pela Pipa Pictures, o longa de 73 minutos é fruto de quase 50 horas de material gravado.
Não havia dinheiro para rodar o filme, produção independente. “A gente decidiu se juntar e, por meio de financiamento coletivo, captamos recursos. Criamos uma rede de contatos para tentar convencer as pessoas daquilo de que a gente já estava convencido: a história era formidável e merecia ser contada. As gravações na Alemanha foram financiadas pelo nosso próprio bolso”, revela o diretor.