No início deste ano, a cantora Evinha, que se apresenta sábado (6/12) no Festival Chacoalha, em BH, foi surpreendida pelo pedido do rapper BK'. Ele queria samplear as canções “Só quero” e “Esperar pra ver”, do LP “Cartão-postal”, lançado há 54 anos. As duas faixas estão presentes, respectivamente, em “Só quero ver” e “Cacos de vidro”, no álbum “Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer”, lançado por BK’ em janeiro.
A partir daí, foi uma reviravolta na carreira da cantora, de 74 anos, que fez muito sucesso na década de 1960 com o Trio Esperança e depois se mudou para a França.
Reviravolta, aliás, marcada pelo “inesperado”, nas palavras dela. Em setembro, Evinha foi indicada pela primeira vez a um prêmio internacional: concorreu ao Grammy Latino de Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa. A vencedora foi Liniker, com “Caju”.
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Em novembro, outra canção de Evinha foi sampleada por artistas da nova cena brasileira. “Virou lágrimas” (1974), agora, faz parte de “Gabriela”, parceria de Orochi e Oruam. Apesar de samples serem comuns, sobretudo no rap e no funk, a cantora carioca desconhecia totalmente esse recurso.
“Não tinha ideia nenhuma”, admite Evinha. “Quando venho ao Brasil, venho ver minha família. Às vezes, assisto a um show ou outro, mas não tenho tempo de ouvir rádio ou ver televisão”, comenta.
Respeito e talento
Até janeiro, ela também não conhecia o músico que sampleou “Só quero” e “Esperar para ver”.
“Recebi a solicitação de um artista chamado BK', mas nunca havia ouvido esse nome. Fiz pesquisa, pois vi que era muito conhecido. Ouvi a faixa que ele mandou algumas vezes e gostei, porque respeitou totalmente a fórmula, a letra. Ele tem muito talento”, diz Evinha.
Depois do lançamento das faixas, Evinha veio da França ao Rio de Janeiro para assistir ao show de estreia do álbum de BK', na Praça da Apoteose. Descobriu que a mãe do rapper, que morreu em agosto, era antiga fã dela.
“Fiquei impressionada. Ele conhecia meu repertório, como ‘Casaco marrom’, antes mesmo de a gente se encontrar. Soube que quando a mãe dele descobriu que faríamos parceria, ficou toda feliz”, revela.
Acostumada a imprevistos, Evinha diz que sua carreira sempre caminhou assim.
Tudo começou no Trio Esperança, ao lado dos irmãos Mário e Regina. Lançou o primeiro disco solo, “Evinha 2001” (1969) durante pausa do grupo e fez sucesso. Anos depois, viveu a “fase internacional” ao formar na nova versão do Trio Esperança na França.
“Acredito muito que o universo faz da gente o que a gente não espera. Sempre fui assim, nunca previ nada na minha vida. Só quero curtir a família, os netos. Se vier algum imprevisto, será apenas a continuação da minha história”, diz.
O repertório de Evinha neste fim de semana será semelhante ao do Festival Sensacional, realizado em junho em BH. A carioca vai cantar sucessos da carreira, músicas sampleadas por BK' e outras que ela adora, como as canções do ídolo Guilherme Arantes.
Reconexão
Pela primeira vez na Autêntica, casa frequentada por jovens, a cantora celebra a reconexão com novas gerações.
“É muito prazeroso ver os jovens, fico estimulada. Estou feliz da vida, porque descobriram o que fui. Isso mostra que meu trabalho continua. Fiz alguns festivais este ano e todos cantam, conhecem as músicas antigas. Depois do show pedem fotos e autógrafos. Eles são maravilhosos”, conclui.
FESTIVAL CHACOALHA
Com Evinha, Luiza Brina e Julia Guedes. Sábado (6/12), às 21h, na Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia). Ingressos: R$ 100 (inteira), R$ 75 (social) e R$ 50 (meia), à venda na plataforma Sympla.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
