Podcast Divirta-se recebe o ator Carlos Francisco
O ator de Bacurau e Agente Secreto é o convidado do episódio que comemora um ano da nova temporada do podcast
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Carlos Francisco é mineiro e tem vasta experiência no teatro e atuou em diversos filmes como ‘Bacurau’, ‘Marte um’ e ‘Agente Secreto’.
Equilibrando tábuas de madeira em cima de botijão de gás foi como começou a ser ator, ainda aos 9 anos. Carlos fazia pequenas apresentações para familiares e vizinhos nesse palco improvisado, mas ressalta com firmeza: “Cobrava ingresso, já estava ali a forma como eu via que a arte tinha de ser valorizada”.
Carlos cresceu e se afastou do ofício, virou funcionário público até que uma amiga o levou para conhecer a escola de de teatro do Net, que estava em seu primeiro ano. A escola que hoje é bastante tradicional, ficava no mesmo casarão antigo que que ocupa até hoje, no Centro de Belo Horizonte.
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“Às vezes faltava luz, e muitos reparos eram necessários. Era uma companhia de teatro mantendo uma escola. E ali foi o primeiro lugar que eu pensei realmente sobre o teatro, que era uma arte coletiva."
Depois, em 1991, mudou para São Paulo, foi vendedor de caminhão e depois na Oficina Cultural Oswald de Andrade, fez uma oficina para direção de espetáculo e encenação. “Fiz um teste horrível, tinha que fazer uma cambalhota e eu esqueci completamente o texto”, comenta. Apesar dessa autoavaliação, ele passou no teste. Na oficina, foi montar a peça do diretor Marco Antônio Rodrigues ‘O assassinato do anão do caralho grande’, no qual os alunos participaram das diversas etapas da montagem de um espetáculo: figurino, cenografia, interpretação, trilha sonora e iluminação.
A peça rendeu o primeiro prêmio para Carlos, de melhor ator no Festival de São José do Rio Preto (SP). Depois disso, largou a venda de caminhões e conseguiu um emprego com Marco Antônio Rodrigues, atendendo no escritório do grupo Folias, que estava começando. "O teatro me ajudou a me entender como artista."
Carlos Francisco como ator já era realidade, época em que ele começou a receber convites para fazer cinema, mas o trabalho no Grupo Folias tomava muito tempo, e ele só conseguiu ficar disponível por meia diária. “Era de 13h às 17h, e às 17h eu precisava ir embora. Eles diziam que eu não tinha paciência, mas eu não tinha era tempo. Achava fascinante o cinema, eu realmente não conseguia fazer mais por causa do tempo."
Ele considera que seu primeiro trabalho no cinema era “O homem que voa”, de Nelson Prudente. Maurílio Martins e Ardiley Queiroz depois montaram a produtora Filmes de Plástico, de Contagem.
Cinema mineiro
A parceria com o pessoal do cinema mineiro engatou e, entre curtas e projetos menores, Carlos foi fazer o ‘Arábia’, de Afonso Uchôa e João Dumans. Mais para frente, fez ‘No coração do mundo’, dirigido por Gabriel e Maurílio Martins.
Daí, algumas coisas foram acontecendo, até que ele foi fazer um teste em que acabou não passando, mas o produtor teria dito que teria um outro filme para indicá-lo.
“Eu estava fazendo um outro filme e o meu celular tocou. Fiquei morrendo de vergonha, porque eu sempre desligo meu celular, mas esse dia me esqueci. Eu atendi e era o Felipe, produtor do Bacurau.”
Carlos ficou surpreso com o roteiro, mas achou incrível, sentiu que era uma coisa grande. Partiu para o Sertão do Seridó, no Rio Grande do Norte, onde o filme foi gravado. Lá, ele teve até que aprender a andar de moto, o que permitiu conhecer um pouco mais da região e da caatinga brasileira, o que acabou levando para o personagem, Damiano. “Damiano era um cara que plantava plantas medicinais, uma espécie de xamã."
No filme, o personagem aparece nu, inclusive em algumas das cenas mais violentas. “Ele morava mais afastado da vila. Eu li na véspera de fazer a cena que Damiano estaria nu na cabana, aí me preparei e fui. Teve um detalhe curioso que o Kléber (Mendonça Filho, diretor do filme) viu que eu estava com marca de roupas, e eu tive que maquiar como uma pessoa que toma sol constante no corpo inteiro. Eu fiquei tranquilo, ali já era o Damiano, então eu fiquei pensando nas plantas e como eu ia reagir na hora do invasor chegar, como pegaria a arma...”
O resultado foi um dos filmes mais marcantes dos últimos tempos no cinema brasileiro.
“Quando a gente vê o filme pronto é sempre surpreendente, a gente lê o roteiro e imagina o nosso filme. Quando vê o resultado final é outro filme, o filme do diretor. Por exemplo, aquela cena de abertura do Bacurau, com aquela música lenta, que vai passando uma calma, uma tranquilidade. Você vê a doutora com os pacientes, é tudo leve, engraçado. De repente, o filme vai virando...”
Péricles Garcia leva trocadilhos, poesia e música ao ‘Divirta-se’
Aí veio o ‘Marte Um’. Carlos aceitou um convite do Guto Parente, que montou o “No Coração do Mundo”, filme que foi bastante premiado, inclusive levou a categoria de Melhor Ator de Longa-Metragem no Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro.
“Ganhar prêmio é legal porque valida a forma como eu estou falando, e fazendo aquele personagem. A gente esperava que o Deivinho ganharia, e quando veio pra mim também fiquei muito feliz.”
O episódio do Divirta-se com Carlos Francisco é um episódio comemorativo de um ano da nova temporada com Otávio Rangel e Lucas Lanna e está disponível no Youtube e no Spotify.