Liam Gallagher precisou lançar três discos solo antes de reatar a parceria com o irmão Noel no Oasis. Marcelo Falcão quer seguir caminho semelhante. O cantor planeja lançar três álbuns solo antes de retomar projetos com O Rappa. Segundo disco de Falcão, “O legado” está disponível nas plataformas desde a noite de ontem (27/11).


A novidade chega em meio ao afastamento dos palcos por causa de um rompimento nos ligamentos do joelho. Em maio deste ano, o cantor pisou em falso durante uma apresentação no Rio de Janeiro e sofreu a lesão. Toda a agenda de shows de 2025 precisou ser cancelada.


“Eu estava muito feliz. E quando isso acontece, tem que ficar prestando atenção, pode dar uma merdinha”, brinca, enquanto admite sentir saudades dos palcos, que considera um “remédio da vida”.


Com a pausa forçada, sobrou tempo para se dedicar ao lançamento do disco. A turnê do projeto, adianta, deve começar em maio do ano que vem. No primeiro álbum solo, “Viver (mais leve que o ar)”, o artista dizia ser guiado pela espiritualidade e pela positividade.


Agora, em “O legado”, afirma que o novo trabalho é conduzido pelas amizades cultivadas ao longo da carreira, iniciada em 1992, quando respondeu a um anúncio de jornal em busca de um vocalista para o grupo de reggae/rock que o apresentou ao Brasil.


No lançamento, Falcão quis se reaproximar de pessoas importantes em sua trajetória e, ao mesmo tempo, se conectar com nomes da nova geração. “O legado vem para dizer tudo aquilo em que eu acredito”, resume.


Impulso

“Os grandes caras que trabalharam comigo e a nova geração me impulsionaram. Assim consigo fazer essa passagem desse legado, trago coisas lá de trás, da década de 90, até chegar aos dias de hoje”, afirma.


Da antiga geração, trouxe para perto Liminha, um dos produtores mais requisitados do país nas décadas de 1980 e 1990, responsável por importantes discos de rock e da MPB. Ele também assinou “Rappa Mundi” (1996), um dos primeiros grandes trabalhos do grupo liderado por Marcelo Falcão.


Também participam do projeto Vitor Farias e Ricardo Garcia, responsáveis pela mixagem e masterização do novo disco e do já citado “Rappa Mundi”. Diferentemente do primeiro álbum, mixado e masterizado em Miami, este foi todo finalizado no Brasil. O trabalho ainda traz uma faixa com Tony Garrido, do Cidade Negra.


A ponte com a turma mais nova veio por meio do produtor Dallas. L7NNON, Cynthia Luz, Orochi, Major RD e Tales de Polli, do Maneva, são os representantes da nova geração. Falcão tentou lançar material também com outros nomes, como MC Cabelinho, Ret, BK e Djonga, mas preferiu parcerias com artistas próximos no Rio de Janeiro e com maior disponibilidade para gravar. “O sarrafo é alto”, diz, sobre as novas colaborações.


“Acolhido”

Aos 51 anos, o artista não demonstra receio de perder espaço para a nova geração. “Me senti muito acolhido por eles. Algumas pessoas da minha idade acreditam que a chegada de uma nova turma assusta. Isso não existe. Se você constrói uma história sólida, firme e positiva, as chances de continuar dando certo são gigantes”, afirma.


“O mais legal é saber que eles vivem o universo deles. Eles descobriram uma fórmula própria. Falam de carros, de ostentação, de toda essa história, mas isso é deles. O cara saiu de baixo e conseguiu as coisas. Alguns se preservam, outros querem mostrar. Não acho crime nem problema nenhum”, comenta.


Ao todo, são 11 faixas. Outras 30 ficaram de fora. O processo criativo começa no acústico, conta Marcelo. “O importante é o [modo] voz e violão ser bacana”, explica. Depois surgem camadas e mais camadas de beats e outros elementos. Algumas faixas colocam o dedo em feridas, outras são declarações de amor.


A primeira música a sair foi a última a ser gravada. Trata-se de “Fela Kuti”, parceria com o rapper Major RD em homenagem ao artista nigeriano. A faixa-título é homenagem de Marcelo Falcão ao amigo Chorão (1970-2013), ex-vocalista do Charlie Brown Jr. O trabalho traz um sample inédito da voz do cantor.


O material veio de um conjunto com mais de 30 mil arquivos entregue pelo filho de Chorão. É uma gravação original, sem uso de inteligência artificial. Falcão até acha divertido usar ferramentas digitais para brincadeiras. Rejeita, porém, essas tecnologias dentro da música.


“Sou muito velho nesse sentido. Tem que sentar, chorar, fazer a música, deixar ela de canto e voltar depois de três dias, uma semana. Música tem que ser trabalhada, vivida, construída”, afirma.


Enquanto isso, O Rappa segue em pausa, espaço necessário para que cada integrante realize vontades que não caberiam dentro da banda. “Acho que todo músico, em algum momento, deveria experimentar sair da zona de conforto, nas dores ou na felicidade, experimentar essa parada.”


FAIXA A FAIXA

1. “Refletir” (part. Toni Garrido)


2. “Vitória”


3. “Chora não”


4. “Crença e fé” (part. L7NNON)


5. “Saudade corrói”


6. “Visitantes”


7. “Legado” (part. banda Charlie Brown Jr.)


8. “Nunca esquecer você” (part. Cynthia Luz)


9. “Falcão e lobo” (part. Orochi)


10. “Neblina” (part. Tales de Polli – Maneva)


11. “Fela Kuti” (part. Major RD)


“O LEGADO”
• Disco de Marcelo Falcão


• 11 faixas

• Virgin Music

• Já disponível nas plataformas

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