O cartunista Mauro Borja Lopes (1925-2004), o Borjalo, de Pitangui, na Região Central de Minas, completaria 100 anos no próximo sábado (15/11). A cidade mineira se prepara para homenagear o centenário do artista com exposição no Museu Histórico de Pitangui, batizada de “Borjalo – ontem, hoje e sempre”, além da restauração do mural “Pitangui, ontem e hoje”, pintado por Heleno Nunes, e palestras com os cartunistas Duke, Quinho e Lute.


A mostra reúne 30 obras de Borjalo que sintetizam a criatividade do cartunista, incluindo painel com o desenho “O reencontro”, exposto em tamanho original, com cerca de um metro de altura. No cartum, um prédio com diferentes cenas simultâneas é representado e os detalhes só podem ser compreendidos com o auxílio de uma lupa.


Em meio a um repertório artístico extenso, a curadoria dos cartuns expostos precisou seguir um tema central: meio ambiente e ecologia, assuntos que sempre foram muito abordados por Borjalo

“É um tema muito atual, que ele já abordava na década de 1950, enquanto ainda não era muito discutido. Achamos esse tema muito forte e selecionamos os cartoons mais relacionados à ecologia, o que facilitou um pouco mais a curadoria”, afirma o cartunista Quinho, chargista do Estado de Minas.


Borjalo foi reconhecido internacionalmente, teve trabalhos publicados em veículos como The New York Times Magazine e Paris Match, e foi considerado um dos sete maiores cartunistas do mundo no Congresso Internacional de Humorismo, em 1955, na Itália.

Ele imergiu humor e reflexão no cotidiano, utilizando de temas pouco falados na época. O talento do artista o levou à TV Globo, em 1966, a convite de Walter Clark. Ele se tornou uma das figuras centrais na transformação do canal. Na emissora, Borja Lopes criou vinhetas marcantes da televisão brasileira, como o som que originou o famoso “plim-plim”, além de personagens inesquecíveis, como a Zebrinha do “Fantástico”.


Afeto familiar

Para Patrícia Boson, sobrinha do artista, carinhosamente chamada de Tita por Borjalo, e organizadora do evento, a homenagem resgata não apenas a trajetória profissional do cartunista, mas o afeto familiar. “Ele era uma pessoa genial, que só falava coisas interessantes e dava conselhos muito importantes, barrava todo tipo de preconceito. Ele falava que esse era o pior defeito que uma pessoa pode ter, porque a afasta de novas oportunidades e novos conhecimentos”, conta.


Patrícia fala sobre o tio com carinho e saudade, e afirma que se sente honrada por estar envolvida na homenagem ao cartunista. “A iniciativa da exposição surgiu pela vontade de resgatar a memória do Borjalo. Descobri que muita gente não sabia que ele era de Pitangui, até mesmo diversos cartunistas pensavam que ele era carioca.”

Borja Lopes lutou contra o alcoolismo durante cerca de 20 anos, o que afastou o cartunista do desenho e da arte. “Ele dizia que ficava ‘bebendo igual um bobo’. Ele se reencontrou com o cartoon e voltou a se apaixonar pelo desenho 22 anos depois, quando se internou em uma clínica. O filho dele levou o material para ele e ele voltou a desenhar ali, entre 1984 e 1985”, conta Quinho.


A partir deste momento, Borjalo criou uma de suas maiores obras, o painel “O reencontro”, que será exibido na exposição.


“Ele começou desenhando um casal de faxineiros, que se reencontraram e viram que ainda se amavam. Ele criou um edifício, com diversas histórias na cabeça dele, o casal retratava os zeladores do prédio, que trabalhavam em alas opostas e eram casados há 22 anos, um número simbólico para ele”, explica Quinho.


CENTENÁRIO BORJALO EM PITANGUI
Inauguração do Mural “Pitangui, ontem e hoje”, com Heleno Nunes, na Praça Professor Plínio Malachias, em Pitangui, às 17h, nesta quinta-feira (13/11). No mesmo dia, apresentação da exposição “Borjalo, ontem, hoje e sempre”, com Lute, Quinho e Duke. Na sexta-feira (14/11), no Museu Histórico de Pitangui (Rua José Gonçalves, 41), às 17h, abertura da exposição, palestra “História, importância da arte dos cartuns e Borjalo”, com Lute, Quinho e Duke, coquetel de recepção e visita guiada pela exposição. Entrada gratuita.

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

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