Para Conceição Evaristo, a educação deve ser tratada, imprescindivelmente, com afeto. “Tanto a educação de crianças quanto a de adultos. Quantas vezes não vemos alunos universitários se aprofundarem em determinadas pesquisas por causa da influência de um professor? Isso acontece porque esses professores ganharam o aluno pelo afeto”, diz a autora de “Becos da memória” e “Ponciá Vicêncio”.

É justamente essa relação que ela vai abordar no Sempre um Papo – TCE Cultural, na noite desta terça-feira (4/11), no auditório do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG). O encontro tem entrada gratuita, por ordem de chegada.

Natural de Belo Horizonte, mas radicada no Rio de Janeiro há quase seis décadas, Conceição é fundadora da Casa Escrevivência, projeto cultural idealizado na capital fluminense que busca preservar a memória, especialmente a de matriz africana, e a própria obra da escritora. O espaço funciona como centro de pesquisa e referência, oferecendo uma biblioteca comunitária e promovendo oficinas de escrita, apresentações de dança, poesia e slam. Além disso, todos os anos, durante a Semana da Criança, a Casa Escrevivência presenteia meninas e meninos com livros.

Professora

Desde que deixou Minas, Conceição dedicou a vida inteira à educação. Foi professora da rede pública carioca e se aposentou em 1990. Com a experiência de sala de aula, percebeu que os professores que mais dedicam afeto aos alunos são os das séries iniciais.

“Isso é muito marcante nos primeiros anos de vida – tanto o afeto quanto a falta dele. E aí não dá para não falar das crianças negras e das crianças pobres”, ressalta.

“É importante dizer isso, porque muitas vezes o primeiro lugar onde a criança enfrenta a rejeição é na escola. Em casa, ela está no ambiente dela, brincando. Mas, quando chega à escola e se sente desprezada e desrespeitada, isso tem um impacto enorme na vida dela”, acrescenta.

Essa rejeição, na visão da escritora, tende a contribuir para a evasão escolar – de acordo com o último Censo Escolar, de 2024, cerca de 450 mil alunos do ensino médio abandonam a escola a cada ano. A responsabilidade, no entanto, não deve recair sobre os educadores. Assim como os alunos, os professores também precisam de afeto, carinho e empatia no ambiente de trabalho.

História marcante

“A demonstração de afeto não passa apenas pelo abraço, pelo beijo ou pela palavra carinhosa. Ela passa pelo cuidado”, diz Conceição.

“Uma história que me marca muito é a que uma moça me contou. Quando ela era pequena, a mãe trabalhava fora, na casa das madames. Todo dia, ao chegar, chamava os filhos para conferir se haviam feito o dever. Olhava os cadernos e, nas raras vezes em que não tinham feito, brigava com eles. Anos depois, essa moça descobriu que a mãe não sabia ler. Então, pra mim, isso é cuidado, é afeto. Mesmo que aquela mãe brigasse na hora, tratava-se de um gesto de amor”, conclui.

SEMPRE UM PAPO – TCE CULTURAL

Com Conceição Evaristo. Nesta terça-feira (4/11), às 19h30, no auditório Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (Av. Raja Gabáglia, 1.315, Luxemburgo). Entrada gratuita, por ordem de chegada.

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