Tereza, mulher de 49 anos, começa a perceber ondas de calor recorrentes pelo corpo, insônia e alterações de humor. Ela desconfia do que pode ser, mas prefere não encarar os fatos. Procura um pai de santo, um psiquiatra, outras mulheres até, finalmente, marcar uma consulta com um ginecologista. O diagnóstico não poderia ser outro: menopausa.

Esse é o mote da peça “Cenas da menopausa”, protagonizada por Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello, que cumpre curta temporada em Belo Horizonte pelo projeto Teatro em Movimento, de hoje (31/10) a domingo (2/11), no Grande Teatro do Sesc Palladium. Os ingressos estão esgotados.

 

Embora a dramaturgia seja assinada por Anna Toledo, que já trabalhou com o casal nos musicais “Concerto para dois” e “Mães, a ideia do espetáculo partiu de Claudia justamente quando percebeu os primeiros sintomas da menopausa.

Não é apenas uma questão hormonal, mas algo que afeta o corpo de forma sistêmica, inclusive o cérebro. É muito mais sério do que a gente imagina. Não é um ‘calorzinho’. É uma névoa mental, confundida com Alzheimer, depressão e demência”, afirma.

Por se tratar de assunto sério, Claudia optou por abordá-lo por meio da comédia, no intuito de criar leveza para essa realidade. “Isso já desarma completamente as pessoas. Principalmente as mulheres, que se reconhecem e falam: ‘Putz, é a minha vida’”, acrescenta.

Sobrecarga

No palco, Claudia e Jarbas dão vida a diversos personagens que protagonizam cenas curtas que orbitam o drama de Tereza, a mulher que começa a perceber que está entrando na menopausa.

Casada há 18 anos e mãe de dois filhos, ela começa a se sentir sobrecarregada no trabalho como corretora de imóveis quando surgem os primeiros sintomas. É quando a vida dela é atravessada pelas mesmas dificuldades de Laurinha, mulher com mais de 50 anos, divorciada, sarada e em absoluta negação diante dos sintomas; Gilda, mulher com mais de 60, divorciada, hippie e desencanada, cujo marido a trocou por uma jovem de 20; e Isabel, uma cinquentona executiva, workaholic, sem tempo para cuidados pessoais. Todas essas mulheres são interpretadas por Claudia.

Jarbas, por sua vez, interpreta Mário, marido de Tereza; Alberto, ex-marido de Gilda; um médico; um vidente que trabalha com realinhamento energético, joga tarô e búzios; uma vendedora; uma freira; uma senhorinha rabugenta de 75 anos; e até mesmo a cantora Madonna.

“Eu e o Jarbas contamos nossa trajetória com a menopausa. Ele como marido da ‘menopausada’, eu como ‘menopausada’”, destaca Claudia. “Precisei ter coragem de me vulnerabilizar na frente do público para dizer: ‘Gente, estamos todo mundo de mãos dadas, na mesma situação, no mesmo barco’”.

Segredo

Se a maior dificuldade dela foi se colocar em situação de vulnerabilidade em cima do palco, o maior desafio de Jarbas, que também dirige o espetáculo, foi fazer com que a peça não se tornasse uma comédia escrachada, tampouco panfletária.

O segredo foi recorrer a personagens embasados e respaldados por pessoas da vida real que passaram por situações semelhantes – tanto mulheres que viveram a menopausa quanto endocrinologistas e ginecologistas especialistas no tema.

“Tratamos de um assunto muito sério e damos muitas informações, mas não somos médicos. Por isso tínhamos que estar muito bem embasados e respaldados por especialistas da saúde, que nos ajudaram a construir esse texto”, conta Jarbas.

“Para não ficar panfletário, optamos pela comédia, mas criando cada personagem com cuidado para não caricaturar ninguém e não transformar o espetáculo em comédia rasgada, porque é uma linha muito tênue. Se fossem personagens muito caricatos, eles não teriam vida própria. Seriam apenas o Jarbas e a Claudia vestidos disso ou daquilo”.


Em Lisboa

“Cenas da menopausa” estreou em Lisboa, no início deste ano – o espetáculo estará novamente em cartaz na capital portuguesa, entre janeiro e abril de 2026 –, e já passou por Curitiba, São Paulo, Goiânia, Cabedelo (PB), Rio de Janeiro e Porto Alegre.


A escolha de Portugal foi estratégica, já que o país é tradicionalmente mais conservador em relação ao tema. Segundo Claudia Raia, até poucos anos atrás, as mulheres não tinham acesso à reposição hormonal porque não era permitido por lá. O espetáculo seria um choque de realidade.

O casal, inclusive, achou que o público não aceitaria a peça, o que acabou não acontecendo. Os portugueses não só se identificaram com o assunto abordado quanto com o humor brasileiro. “A nossa herança do humor é portuguesa. O teatro de revista vem de Portugal”, conta a atriz.

“Só tem uma coisa de que eles não gostam”, revela Jarbas. “Que a gente imite o sotaque deles ou troque palavras do português do Brasil para o de Portugal. Eles não gostam que a gente tente imitá-los de maneira alguma. Então, mantivemos o texto original, transformando esse tabu em um diálogo franco e libertador com a plateia. Talvez por isso a recepção tenha sido muito boa.”

compartilhe