Entre 2002 e 2012 ocorreram três dos crimes mais midiáticos do Brasil deste século: os assassinatos do casal Von Richthofen (2002), da menina Isabela Nardoni (2008) e do empresário Marcos Kitano Matsunaga (2012). Os fatos em si e seus desdobramentos foram (e continuam sendo) acompanhados como uma novela das oito.
Os algozes se tornaram mais célebres do que as vítimas, a começar pela loirinha Suzane Von Richthofen, 19 anos incompletos quando ordenou a morte dos pais, Marisia e Manfred. É com a noite do crime, concebido por ela e cometido pelos irmãos Cravinhos, que tem início “Tremembé”.
Com estreia na próxima sexta-feira (31/10), no Prime Video, a minissérie com cinco episódios acompanha a vida dentro do “presídio dos famosos”. Suzane (Marina Ruy Barbosa), Daniel (Felipe Simas) e Christian Cravinhos (Kelner Macêdo), Elize Matsunaga (Carol Garcia), Alexandre Nardoni (Lucas Oradovschi) e Anna Carolina Jatobá (Bianca Comparato) surgem confinados em Tremembé, fazendo de tudo para sobreviver da melhor maneira possível – logicamente, homens e mulheres separados.
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Na vida real, todos estão em regime aberto, cumprindo em liberdade o restante das penas. Elize está livre, mas em condicional. A exceção é Roger Abdelmassih, urologista condenado a 181 anos pelo estupro de dezenas de pacientes. Na série, ele é interpretado por Anselmo Vasconcelos.
“Tremembé” é baseada nos livros “Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido” (2021) e “Suzane: assassina e manipuladora” (2020), do jornalista Ulisses Campbell. Ele estreia como roteirista na produção ao lado de Vera Egito (a diretora-geral da minissérie), Juliana Rosenthal, Thays Berbe e Maria Isabel Iorio.
Nessa constelação de criminosos, destaca-se outra mulher, que se tornou célebre não pelo crime cometido, mas pelas relações que travou. Sandra Regina Ruiz, a Sandrão (interpretada por Letícia Rodrigues), condenada por sequestro e assassinato, se relacionou com Elize e Suzane. O triângulo amoroso é um dos chamarizes da série.
Sandrão, Elize e Suzane
Único episódio disponibilizado para a imprensa, o piloto começa com o caso Richthofen para seguir com todos os personagens dentro do presídio. Ali assistimos à recém-chegada Suzane já de olho em Sandrão, então namorada de Elize – a loirinha não demorou a entender de que lado deveria ficar para conseguir poder.
Suzane von Richthofen (Marina Ruy Barbosa) vira amante de Sandrão (Leticia Rodrigues), a chefona da cadeia, que namorava Elize Matsunaga
Anna Carolina Jatobá, por outro lado, sofre nas mãos das colegas, que não toleram crimes contra crianças. Do lado masculino, Christian Cravinhos não demora a ter consolo na prisão, com um jovem recém-chegado.
“Criamos uma linha temporal que contempla os anos de prisão de todos eles”, explica Vera Egito. A série segue o grupo até o início das famosas saidinhas, contemplando mais de uma década da vida em Tremembé.
“A gente seguiu os eventos (reais). O Christian se relaciona com um rapaz dentro da prisão, história baseada em relatos prisionais dele próprio. O que fizemos foi mudar o nome do rapaz. O triângulo Suzane, Elize e Sandrão é real também. Agora, é claro que um encontro ou outro é ficcional, porque não tivemos acesso a tudo. Mas as intrigas e os jogos de poder foram inspirados na realidade, fatos que estão nos livros e nas pesquisas do Ulisses”, acrescenta Vera.
Prótese dentária
Para as atrizes, o trabalho foi seguir o roteiro e as pesquisas jornalísticas para criar personagens críveis, com “a maior responsabilidade social possível”, afirma Marina Ruy Barbosa, que usou prótese dentária para fazer a personagem.
“A gente não quis nem glamourizar, romantizar ou gerar dúvidas sobre as condenações”, acrescenta a intérprete de Suzane, que encarou a criminosa depois de interpretar uma coleção de mocinhas na TV.
O presídio da série é uma antiga fábrica da lingerie Darling, no bairro do Tucuruvi, Zona Norte de São Paulo. “A gente tinha sets separados (homens e mulheres, cada qual em um andar), mas se encontrava na escada, no café da manhã, almoço”, conta Letícia Rodrigues. Segundo a atriz, a convivência do elenco foi essencial para as interações entre as personagens.
“O grande protagonista é Tremembé, e a gente tinha que trazer outro lado das personagens barra-pesada que o público já conhece. Entendemos que para além do material vasto (que existe sobre os criminosos), precisávamos criar sutilezas de convívio. Agora, como intérprete, o caminho (para chegar ao personagem) parte do mesmo ponto, que é do desconhecido. Isso o roteiro nos entregou”, acrescenta Letícia.
Mimesis
Houve atores que preferiram deixar de lado a pesquisa jornalística, “para não entrar no nível da mimesis, da imitação”, afirma Anselmo Vasconcelos. “A caracterização me aproximou demais do Dr. Roger. Então, o meu trabalho foi me entregar, pois desde o primeiro take senti que a direção sabia muito sobre o personagem e a história.”
Kelner Macêdo comenta que a relação com Felipe Simas (Daniel Cravinhos) foi fundamental para ele descobrir “quem era esse Christian lá dentro”. O ator se dedicou às entrevistas disponíveis na internet. “Não para entrar na imitação, mas para captar um pouco a energia dele e transferir, de alguma maneira, para o meu corpo.”
Nas livrarias
“Tremembé – O presídio dos famosos” (Matrix) é também o título do novo livro de Ulisses Campbell. Recém-chegado às lojas, aborda a penitenciária do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, até a atualidade. Também estão lá crimes mais recentes, como os cometidos pelo jogador Robinho, o empresário Thiago Brennand e o ex-seminarista Gil Rugai.
“TREMEMBÉ”
• A minissérie, com cinco episódios, estreia na próxima sexta-feira (31/10), no Prime Video
