Cynthia Paulino volta aos palcos com o solo “Dragoas – Um discurso fumegante!”, que estreia nesta quinta-feira (23/10), com sessões até sábado, às 20h, no Espaço Aberto Pierrot Lunar. A atriz, diretora e dramaturga estará em cena como intérprete após o período dedicado especialmente à escrita.
Em “Dragoas”, Cynthia transforma a menopausa em metáfora do renascimento. “Durante a pandemia, entrei na menopausa. A gente já estava passando por algo que era a promessa de apocalipse e, de repente, começo a passar por outro apocalipse. Era o tempo das revelações com a menopausa chegando”, diz.
Leia Mais
O fato se tornou um incentivo para a dramaturga, que se afastou da ideia de sofrimento para abordar o processo como um batismo de fogo. “Não é o fim de tudo. É um recomeço. É colocar tudo na balança e pensar no que fica e é verdade do meu coração.”
A imagem da dragoa veio do cinema. “Normalmente, quando a pessoa pensa em renascimento, pensa na fênix. Mas para mim veio a figura da dragoa. Nunca tinha pensado em dragoa fêmea até assistir ao desenho do Shrek. Um dia, pensando na imagem do vulcão, imaginei um dragão saindo de dentro dele, mas era eu saindo. Então, falei: ‘Não sou uma fênix, sou uma dragoa’.”
Cynthia destaca a demonização dessa criatura fictícia e o fato de a mulher mais velha ou considerada feia sere xingada de dragoa. “Nem sempre os monstros são vilões. Os monstros masculinos sempre têm desculpa por virarem monstros, mas as mulheres são apenas bruxas terríveis, horríveis”, compara.
No espetáculo, a figura mítica ganha corpo e voz para falar das forças primordiais femininas. Vem daí o convite à união entre mulheres, ideia amadurecida durante o processo de “M.O.N.S.T.R.A.S.”, performance apresentada no FIT BH 2024.
“Foi tão bom perceber que a gente não estava competindo, que a gente estava vendo só coisa boa uma na outra. Dragoas também é bandeira: vamos nos unir, mulheres”, afirma.
Cynthia Paulino reforça que a peça investiga a essência do feminino. “Com a menopausa, assumimos um lado que, até então, estava meio abafado. A questão de ser muito boazinha, compreensiva e legalzinha é ignorada. Estamos passando por um processo que não é qualquer um que aguenta, mas saímos mais fortes dele”, comenta.
Destacando a importância do feminismo, a dramaturga reforça o valor da ancestralidade e dos ensinamentos de mulheres mais velhas. Para ela, falta à juventude pensar na vivência das anciãs e enxergá-las como ótimas professoras e conselheiras.
“As pessoas ainda caem no preconceito contra o feminismo, como se ele fosse alguma moda. Sabemos que o machismo não acabou, ele muda de forma. Temos a ilusão de que as coisas estão melhorando, mas se não tomarmos cuidado, há um contra-ataque”, adverte.
Dois por dois
A primeira direção profissional de Cynthia Paulino foi em 2008, quando ela criou a Companhia Teatro Adulto em parceria com o ator e diretor Luiz Arthur.
“Desde então, produzimos espetáculos pensando sempre na questão da restrição do espaço, geralmente em encenações de dois por dois, sem cenário e focadas na dramaturgia”, explica.
Transformar a vivência pessoal em roteiro foi um processo baseado em muito estudo e leitura, revela. “Temos de levar em conta que as mulheres foram afastadas da cultura por muito tempo. Então, uma das coisas em que devemos pensar é que precisamos estar sempre com um livro. Fui estudando a vida de mulheres apagadas durante a história, lendo, pesquisando e as entendendo na arte, na literatura, no cinema e na mitologia”, conclui.
“DRAGOAS – UM DISCURSO FUMEGANTE!”
Com Cynthia Paulino. De hoje a sábado (23 a 25/10), às 20h, no Espaço Aberto Pierrot Lunar (Rua Ipiranga, 137, Floresta). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda na plataforma Sympla.
