Barão de Itararé inspira 'documentário-comédia' sobre o Brasil
Filme de Renato Terra sobre Apparício Torelly, mestre do humor no país, é atração desta sexta (24/10) no Canal Curta, com narração de Gregório Duvivier
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Renato Terra é conhecido por seu humor. No audiovisual, porém, ele não costuma fazer do riso o protagonista de suas obras.
O diretor de “Narciso em férias”, “Vale tudo com Tim Maia”, “Uma noite em 67” e “O canto livre de Nara Leão” agora faz seu primeiro trabalho cômico para o cinema, que ele chama de “documentário-comédia”.
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Entre séries e longas-metragens, o diretor tem quase 10 obras documentais em seu currículo. Ele oferece um curso sobre novos olhares sobre os documentários, em oito aulas disponíveis na plataforma Hotmart.
“O Brasil que não houve – As aventuras do Barão de Itararé no reino de Getúlio Vargas” é codirigido por Terra com Arnaldo Branco, que foi roteirista de programa como “Greg news” e “Irmão do Jorel”. O documentário conta a história de Apparício Torelly, que comandava, no Rio de Janeiro, o jornal A Manha (sem til mesmo), publicação que satirizava a imprensa, os costumes e os políticos do Brasil da era Vargas.
O pseudônimo do humorista, gaúcho como Getúlio, veio da Revolução de 30, em referência à batalha que não houve.
As forças getulistas vinham marchando do Sul em direção à capital federal. O boato que corria era de que a cidadezinha paulista de Itararé, na divisa com o Paraná, seria palco de uma batalha sangrenta entre as tropas de Washington Luís e as de Getúlio Vargas. Mães rezavam pelos filhos, casas chegaram a ser evacuadas, um Deus nos acuda. Foi a mais famosa batalha que nunca aconteceu no Brasil.
O pacifista Apparício Torelly (1895-1971) tratou de adotar o nome da cidade para si, junto de um falso título de nobreza autoproclamado. Como toda boa piada que vinga, foi crescendo, e depois ele se nomeou duque, grão-duque e imperador.
O filme é construído com base em imagens de arquivo, montagens e animações, tudo guiado pela narração de Gregorio Duvivier.
“Todos os meus documentários têm um pouco de humor. Até ‘Narciso em férias’, quando a gente seleciona para Caetano ler o trecho em que o Exército o define como ‘subversivo e desvirilizante’. É uma característica minha”, diz Terra. “Mas esse é o primeiro que têm o gênero comédia na veia. Tanto que a gente apresenta o filme como ‘documentário-comédia’.”
O projeto nasceu de uma ideia do Canal Curta, que queria um documentário sobre os veículos clandestinos que surgiram durante a ditadura militar. Terra passou meses em busca de um recorte para o filme, até que ouviu a sugestão da jornalista Dorrit Harazim, que sugeriu a ele seguir pela lente do humor.
“Achei o conselho perfeito, e acabei apaixonado pelo Barão de Itararé. Apesar do auge do Barão não ter acontecido na ditadura militar, ele serviu de inspiração para o Pasquim, para o Sergio Porto e muita gente que veio depois”, diz.
Terra é um dos principais expoentes do humor jornalístico. Segundo ele, são várias as diferenças entre fazer humor político hoje e no século passado. A principal tem a ver com o amadurecimento das instituições democráticas.
“O Barão foi preso mais de uma vez sem justificativas formais. Em outra, foi espancado e teve os cabelos cortados. Eram outros tempos”, afirma Terra. “Hoje temos pluralidade enorme de possibilidades para fazer humor atrelado ao noticiário: vídeos, imagens, IA, áudios. O Barão se esmerava na escrita e tinha um texto maravilhoso.”
“Outra diferença é que hoje vivemos, como diz o Ricardo Araújo Pereira, em tempos em que o humor político é mais consumido por quem gosta de política do que por aqueles que gostam de humor. Mas não vai nenhuma reclamação aqui.”
Conchavo
Entre uma risada e outra, o diretor afirma que quer que as pessoas reflitam sobre a ditadura Getúlio Vargas e sobre a vocação brasileira para o conchavo.
“Adoro quando o humor tem o poder de explicar melhor os fatos do que o noticiário. O Barão era um mestre nisso”, diz Terra.
“O BRASIL QUE NÃO HOUVE – AS AVENTURAS DO BARÃO DE ITARARÉ NO REINO DE GETÚLIO VARGAS”
• Brasil, 2025, 70 min. De Renato Terra e Arnaldo Branco. Com Gregório Duvivier. Nesta sexta-feira (24/10), às 22h, no Canal Curta