Série revisita caso de falso anticoncepcional vendido no Brasil
‘Pílula de farinha: O escândalo que gerou vidas’ estreia na terça (30/9) e mostra as consequências da comercialização de Microvlar adulterado nos anos 1990
compartilhe
Siga no
E se fosse comigo? Essa é a pergunta que costumamos nos fazer sempre que algo absurdo vem a público. Foi justamente isso que moveu a roteirista e diretora de conteúdo Jana Medeiros, quando ela resolveu mexer numa história de quase três décadas atrás.
Leia Mais
Com estreia na próxima terça (30/9), no canal HBO e na HBO Max, a minissérie “Pílula de farinha: O escândalo que gerou vidas” recupera um fato pouco lembrado hoje. Em 1998, cerca de 600 mil comprimidos sem efeito do anticoncepcional Microvlar foram parar em farmácias, após o uso de placebos em testes de embalagem realizados pelo laboratório Schering do Brasil. Resultado: houve um sem número de gestações inesperadas.
“Esse caso me causou muito impacto, curiosidade e também muito espanto, pois, do mesmo jeito que ele teve ampla cobertura (por parte da imprensa), ele se esvaziou muito rapidamente”, comenta Jana Medeiros, que integra a equipe da série, dirigida por Cassia Dian.
A diretora de conteúdo era, naqueles anos, uma jornalista recém-formada. E o jornalismo é essencial nessa história, pois a imprensa não foi a reboque cobrir o caso quando ele já havia se tornado um escândalo. Foi ela quem fez a denúncia – muitas das vítimas das pílulas falsas ficaram sabendo pela TV Globo.
Dividida em três episódios, a minissérie tem início com editores do “Jornal Nacional”. Um deles ficou sabendo do caso de uma mulher que tinha engravidado mesmo tomando o Microvlar, então a pílula mais consumida no país. No dia seguinte, houve outro caso.
Quando os jornalistas descobriram uma terceira mulher, viram que haveria algo errado aí. Foram apurar e se impressionaram ao descobrir que, sim, havia pílulas sem efeito sendo comercializadas e que a Schering, laboratório alemão, tinha conhecimento disso. E não havia feito nada.
O caso é apresentado por meio de depoimentos de jornalistas (de TV e imprensa escrita) que participaram da cobertura e ainda através de seis mulheres que engravidaram na época. “Tem a mulher que havia acabado de se separar, a que já era mãe e não queria mais filhos, a que tinha problemas de saúde. Através desses seis personagens, buscamos fazer uma radiografia da complexidade de uma gravidez não planejada, de uma mulher que está tomando um medicamento e fica grávida à revelia”, comenta Cassia Dian.
Na época, as primeiras denunciantes foram quatro mulheres de Mauá, no ABC Paulista. Essas pessoas vieram a público na época, como mostra a pesquisa jornalística que a produção fez. Mas não quiseram falar para a minissérie. Quando a equipe recebeu o aval para realizar o projeto, ela tinha três meses para encontrar personagens.
“Quando encontramos a Paloma, tivemos a certeza de que a história teria fôlego narrativo, pois teriam que ser personagens com várias camadas e uma jornada de superação que se estende até hoje (27 anos depois)”, diz Jana Medeiros.
Ela se refere a Paloma Trepin, a primeira das vítimas sobre quem a produção se debruça. Casada muito jovem, teve dois filhos e havia se separado recentemente naquele fatídico 1998. Com os filhos um pouco maiores e trabalhando fora, tinha acabado de conquistar alguma independência, quando arrumou um namorado. O relacionamento não durou mais do que alguns meses. Mas o vínculo é para a vida toda, pois, graças à pílula de farinha, Paloma se tornou mãe de gêmeas.
“A gente sempre olha para o potencial que uma história tem de gerar discussão”, afirma Adriana Cechetti, da Warner Bros. Discovery. “E, apesar de ser um caso fechado, esse episódio continua atual e trazendo impacto na vida dessas pessoas.”
“PÍLULA DE FARINHA: O ESCÂNDALO QUE GEROU VIDAS”
• A minissérie estreia nesta terça (30/9), às 21h, no canal HBO e na HBO Max. Novos episódios às terças, no mesmo horário.