Ritchie, que acabou de completar 73 anos, responde ao etarismo com música. E muito trabalho. Dono de sucessos como “Menina veneno”, hit lançado em 1983, o cantor e compositor traz a turnê “E a vida continua”, neste sábado à noite (12/4), ao Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.

“Estou contente de ter a energia que tenho e de poder fazer um show do jeito que quero para fãs que me acompanham há quatro décadas. Abandonei a música várias vezes, mas os fãs ficaram”, afirma o inglês que vive no Brasil desde 1972. E avisa: “Os fãs estão aí, e não são todos senhores e senhoras. Há também gente jovem descobrindo a minha música.”

O segundo LP de Ritchie, “E a vida continua”, cujo título batiza a turnê, saiu há quatro décadas. “Fizemos essa brincadeira, no sentido de 'the show must go on' e também em referência à minha idade. A geração anterior à minha se aposentou aos 73 anos, mas eu estou aqui, cheio de energia e com muita vontade de trabalhar.” Se a indústria da música mudou – e muito – nesses 40 anos, a vida segue, ele afirma.

“Em 1983, tive a sorte de estar no lugar certo, no momento certo e exato da abertura política, com um disco acessível, mas que, ao mesmo tempo, tinha certa sofisticação nas letras do Bernardo Vilhena, algo um pouco inusitado no meio pop.” Com forte influência da sonoridade progressiva, o álbum de estreia, “Voo de coração”, foi lançado naquele ano.

“Ainda me considero filhote da música progressiva, mais que do pop, do punk rock ou de qualquer coisa. Talvez eu seja formado pelos anos 1960 misturados com os anos 1970 e umas coisas progressivas inglesas”, observa, para concluir: “Continuo fazendo pop progressivo.”

“Voo de coração” estourou. De acordo com ele, isso ocorreu pelo fato de o álbum trazer uma linguagem diferente do que se esperava da música pop naquela época. “Tinha também a influência da música inglesa, tanto na maneira de gravar como de cantar, o que soava como novidade.”

Música inglesa

O disco de estreia de Ritchie é um dos últimos álbuns no formato LP comercializados no Brasil. “Fui um grande vendedor de vinil, que está na casa das pessoas, na coleção dos pais e dos avós. Agora a garotada está começando a curtir o vinil que redescobriu na coleção dos pais”, comenta.

Destaque da música dos anos 1980, Ritchie bateu recorde de vendas no Brasil da abertura, pós-ditadura militar

Instagram Ritchie/reprodução

O artista se orgulha ao constatar o interesse das pessoas por sua obra. “'E a vida continua' está no meu canal do YouTube, cerca de 60 milhões de pessoas já viram esta versão ao vivo”, afirma. “São números expressivos e visualizações verdadeiras. Não acho que o número de views seja o mais importante, mas gosto do interesse dos fãs em procurar minhas músicas, deixar comentários e viajar no tempo.”

Ritchie chega a BH com sua banda, formada por Eron Guarnieri (teclados), Igor Pimenta (baixo), Renato Galozzi (guitarra), Hugo Hori (sax, flauta e percussão) e Luís Capano (bateria). “São os mesmos que me acompanharam nas últimas turnês”, diz.

Anteriormente, ele e banda apresentaram a turnê “A vida tem dessas coisas”, que comemorou os 40 anos do hit “Menina veneno”.

“Na verdade, a ideia era fazer 10 shows em 2023, porém acabamos atravessando o ano inteiro e 2024 também”, relembra.

A atual turnê “E a vida continua” é, de certa forma, uma resposta a essa demanda do público. “O novo show tem meus sucessos e não difere muito do anterior. Porém, traz algumas novidades. Mexi no repertório, colocando coisas inéditas e o visual mudou também”, informa.

Caetano, Sting e etarismo

Entre as novidades de sua carreira está o clipe com Caetano Veloso de “Shy moon”, lançado em fevereiro. “Também há a versão de uma música de Sting com letra de Carlos Rennó”, diz, referindo-se a “Luar sobre os jardins” (“Moon over Bourbon St.”).

Feliz, ele contesta o etarismo, discriminação relativa à idade. “Na música, a ideia era de que depois dos 30 o artista já não valia mais nada. Isso é uma espécie preconceito, pois há lugar para todo mundo. Há os nostálgicos e as pessoas que querem ouvir o som dos anos 1980, porque se sentem frustradas diante do cenário musical atual, que, aliás, tem lá o seu valor.”

O primeiro disco de ouro, pelo compacto 'Menina veneno, entregue no programa de Chacrinha. A canção foi lançada em 1983

Instagram Ritchie/reprodução

Ritchie afirma que contribuiu para o “momento mágico” que os anos 1980 representaram. “Tínhamos abertura política, os jovens saíram das tocas nas quais ensaiavam quase que uma fantasia de fazer música. De repente, aquilo se tornou realidade: na semana seguinte, eles já estavam programa do Chacrinha mostrando seu som. Isso foi mágico, abriram-se portões e a possibilidade da criação, que até então era reprimida pela ditadura.”

O compositor enfatiza o quanto isso tudo foi importante para ele: “Tive a felicidade de ter uma música que mexeu com o imaginário popular com sensualidade latina e trazendo o charme do gringo, aquela coisa do sotaque carregado. Tudo isso fez com que 'Menina veneno' fosse o grande sucesso que foi. E continua sendo, de certa forma, assim como as canções de destaque dos anos 80.”

Inglês e brasileiro

Nascido em 6 de março de 1952 na cidade inglesa de Beckenham, Richard David Court veio para o Brasil em 1972, depois de conhecer Rita Lee e músicos brasileiros em Londres. Em São Paulo, montou a banda Scaladácia. No Rio de Janeiro, fez parte dos grupos A Barca do Sol e Vímana (ao lado de Lobão e Lulu Santos).

Nos anos 1970, Ritchie em Londres com Rita Lee, que o convidou para conhecer o Brasil, Leila Lisboa e Lucinha Turnbull

Instagram Ritchie/reprodução

Na carreira solo, lançou “Menina veneno”, a canção mais tocada de 1983, e o LP “Voo de coração”, seguido por “... E a vida continua” (1984), “Circular” (1985) e “Loucura e mágica” (1987), entre outros álbuns. São dele os hits “A mulher invisível”, “Nesse avião”, “Transas” e “Lágrimas demais”, entre outros.

“E A VIDA CONTINUA”

Show de Ritchie e banda. Neste sábado (12/4), às 21h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Inteira: R$ 560 (plateia 1/central com Meet & Greet), R$ 420 (plateia 1), R$ 320 (plateia 2) e R$ 260 (plateia superior). Meia-entrada na forma da lei. Preços especiais para o pacote Família & amigos. À venda na plataforma Eventim e na bilheteria do teatro. Informações: (31) 3236-7400.

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