Morre Antônio Barros, o compositor de 'Homem com H' e "Bate coração'
Mestre do forró, cantor e compositor paraibano tinha 95 anos e teve canções gravadas por Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Gilberto Gil e Luiz Gonzaga
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Um dos mais prolíficos compositores da música nordestina, Antônio Barros morreu neste domingo (6/4), aos 95 anos. Autor de mais de 700 canções ao lado da esposa, Mary Maciel Ribeiro, a Cecéu, o paraibano sofria de Parkinson. Desde o início do ano, estava internado no Hospital Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa (PB). O enterro ocorreu hoje, na capital da Paraíba.
Músicas de Antônio Barros foram gravadas por grandes nomes da MPB. “Por debaixo dos panos” e “Homem com H” se tornaram hits de Ney Matogrosso, a ponto de a segunda ser adotada como uma espécie de estandarte da carreira do cantor.
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A versão de Elba Ramalho para “Bate coração” conquistou o Brasil. Vários forrós que ela cantou ao longo da carreira foram compostos por Antônio Barros.
“A música brasileira perde muito no dia hoje. Lá se foi o nosso mestre do forró, Antônio Barros. Homem forte, obra consistente e verdadeira ao retratar nossos costumes, nossos ritmos e nosso jeitinho nordestino de ser e viver”, escreveu Elba, no Instagram.
Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Alcione, Marinês, Dominguinhos e Fagner também gravaram músicas do paraibano, entre muitos outros cantores.
O Trio Nordestino tornou popular a canção “Procurando tu”. Já Os Três do Nordeste foi o responsável pelo registro de “É proibido cochilar”, a música de Barros que mais tocou ao longo da última década, segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).
A cantora, compositora, atriz e instrumentista paraibana Lucy Alves postou no Instagram: “Seu nome ecoará eternamente nas festas de São João, nas radiolas das feiras e nos corações de quem vive e ama o forró de raiz.”
O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), manifestou solidariedade à família, amigos e admiradores de Barros. Ressaltou que o legado do artista permanecerá vivo na alma do forró e no coração do nordestino.
Patrimônio imaterial
Em 2021, lei reconheceu a obra de Antônio Barros e Cecéu como patrimônio cultural imaterial da Paraíba. A então deputada estadual Estela Bezerra (PT) justificou sua proposta, argumentando que a dupla representa não só a musicalidade, mas também a cultura paraibana.
“Antônio Barros e Cecéu são a própria essência do povo nordestino. Suas composições atravessam gerações como a melhor expressão da nossa gente, da nossa terra e do nosso espírito paraibano e nordestino”, ela destacou.
Nascido em 1930 em Queimadas, Barros estudou no Grupo Escolar José Tavares. Na mesma escola estudaram alguns primos, e foi o pai de um deles, Adauto, quem ensinou Atntônio a tocar violão e pandeiro.
Na década de 1950, Antônio se mudou para Campina Grande, onde começou a compor. Depois, seguiu para o Recife e para o Rio de Janeiro, onde atuou como músico acompanhante em emissoras de rádio. Nessa época, se tornou amigo de Jackson do Pandeiro, com quem chegou a gravar.
Artista já conhecido – Luiz Gonzaga e Genival Lacerda cantavam suas composições –, ele manteve a ligação com Campina Grande. Numa de suas viagens à cidade paraibana, conheceu Cecéu, que se tornou sua parceira na vida e na arte.
O casal se mudou para o Rio de Janeiro e compôs várias canções de sucesso, como “Óia eu aqui de novo”, “Forró do xenhenhém”, “Forró do poeirão” e “Brincadeira na fogueira”.
“Em 1930, eu não conhecia nada, não sabia que o mundo era redondo. Fui para Campina Grande, ficamos lá até minha vivência de adulto, fui para Recife e a partir daí começou minha vida profissional”, contou Barros ao portal G1, em 2020, quando completou 90 anos.
A despeito de ter se tornado conhecido como compositor de forró, Antônio Barros chegou a lançar, ao lado de Cecéu, um álbum de músicas românticas – o casal assinava Tony e Mary.