Obra de Farnese de Andrade que estará em exposição em BH, até o próximo dia 30 de junho -  (crédito: Casa Fiat/Divulgação)

Obra de Farnese de Andrade que estará em exposição em BH, até o próximo dia 30 de junho

crédito: Casa Fiat/Divulgação

 


Imagine entrar numa coleção particular e dar de cara com obras nunca expostas de, entre outros artistas, Amilcar de Castro, Yara Tupynambá, Amelia Toledo, Franz Weissmann e Tomie Ohtake. Seria o sonho de qualquer historiador e pesquisador de arte.

 

 


Pois foi precisamente isso que o professor e pesquisador de história da arte Rodrigo Vivas experimentou, ao ser convidado para assinar a curadoria da mostra permanente do Centro de Memória Usiminas, em Ipatinga, com peças do acervo particular da siderúrgica, em 2021.

 


Vivas tinha em mãos centenas de telas, desenhos, gravuras e esculturas adquiridas pela siderúrgica ao longo dos últimos 60 anos e de enorme valor comercial. Eram obras que estavam em salas de reunião, corredores e na recepção da empresa, conforme lembra o curador.

 


Sem seguir uma linha cronológica ou agrupar os artistas por suas respectivas escolas, a expografia segue caminho alternativo, com todos os trabalhos divididos em grupos com a mesma temática, no que Vivas define como “constelação”.


Constelação

 

“Se a pessoa quiser começar pela primeira sala ou pela última, ela pode escolher. Por se tratar de uma ideia de constelação, não há um ponto onde é o início e outro que seja o final”, diz.

 


Parte dessa “constelação” estará em cartaz na Casa Fiat de Cultura, em BH, a partir desta terça (23/4), na mostra “Visível sensível: Do colecionismo ao museu”. É a primeira vez que as obras deixam Ipatinga e são expostas ao público.

 


O recorte do acervo conta com 50 obras, assinadas pelos já citados Amilcar de Castro, Yara Tupynambá, Amelia Toledo, Franz Weissmann e Tomie Ohtake; além de Lorenzato, Bruno Giorgi, Jorge dos Anjos, Manfredo Souzanetto, Marcos Coelho Benjamim, Nello Nuno, Chanina e Siron Franco, entre outros.

 

 


Vivas dividiu o interior da Casa Fiat de Cultura em seis núcleos: “Dinâmicas do movimento”, “Narrativas simbólicas, étnicas e religiosas”, “Figurações”, “Arte não figurativa”, “Pintura matérica” e “Assimilações e hibridismos”.

 


“Dinâmicas do movimento” é dedicado a um conjunto de esculturas de Bruno Giorgi, Marcos Coelho Benjamin e Franz Weissmann, que traduzem gestos na forma tridimensional e só ganham sentido a partir da experiência do visitante com as obras.

 


“É a ideia de que o espectador deve ter uma relação circular com a obra”, explica Vivas. “Ao contrário da pintura, que é bidimensional, a escultura é tridimensional. Então, é necessário que o visitante circule por ela para que dê sentido ao trabalho.”

 


“Narrativas simbólicas, étnicas e religiosas” reúne diferentes figuras gravadas em madeira de Jorge dos Anjos, Maurino Araújo e Lêda Gontijo, que abordam o universo religioso. Já “Figurações” conta com a arte de Chanina, Nello Nuno e Yara Tupynambá.

 


Seu contraponto é o núcleo “Arte não-figurativa”, com obras de Amilcar de Castro, Tomie Ohtake e Farnese de Andrade. São telas com cores frias – algumas de acrílico sobre tela e outras de óleo sobre tela – com formas abstratas.

 


“Pintura matérica” dá destaque às ilustrações de Mário Azevedo, Manoel Serpa e Amélia Toledo em suportes distintos do papel tradicional (como juta ou papel artesanal), enquanto “Assimilações e hibridismos” expõe o atravessamento de linguagens e técnicas das telas contemporâneas de Marco Túlio Resende, Roberto Vieira e Marcos Coelho Benjamin.

Obra de Amilcar de Castro

Obra de Amilcar de Castro integra o núcleo "Arte não-figurativa", um dos seis da mostra

Casa Fiat/Divulgação


Facilitar o acesso

 

A proposta de “Visível sensível: Do colecionismo ao museu”, segundo Vivas, é possibilitar a exposição de trabalhos de importantes artistas que estão em acervos públicos e privados, distantes do olhar do público. “No Brasil, temos várias instituições públicas e privadas que têm excelentes coleções. O problema é que a gente não consegue fazer com que essas obras sejam expostas”, afirma.

 


Minas Gerais reflete esse problema. “O Museu de Arte da Pampulha é um caso. O Museu Histórico Abílio Barreto é outro. E o próprio Museu Mineiro”, cita Vivas.

 


“O Museu Mineiro tem cerca de 28 mil objetos em sua coleção, mas, quando você vai lá visitar, é uma fração muito pequena que está exposta.”. De acordo com o site da instituição, o espaço expõe cerca de 3,5 mil peças, incluindo o acervo da Pinacoteca do estado.

 


“Até o século 17, existia o Gabinete de Curiosidades, um espaço que guardava diversas produções artísticas, mas a que só o rei tinha acesso. Com o Iluminismo, no século 18, (os europeus) começaram a desenvolver a ideia de museu aberto ao público, porque eles tinham em mente que a arte era essencial para a educação. Mas isso não rolou no Brasil. Aqui, muitas obras acabaram guardadas em coleções sem serem expostas. O que tentamos fazer é mudar essa situação”, afirma.


BATE-PAPO

 

Nesta terça-feira (23/4), às 19h30, será realizado um bate-papo com o curador Rodrigo Vivas, na Casa Fiat de Cultura. Na ocasião, ele vai contextualizar cada obra, explicar o esquema de “constelação” utilizado na expografia e debater sobre possibilidades de tornar acessíveis obras de coleções públicas e privadas. Entrada franca, mediante inscrição no site Sympla.


“VISÍVEL SENSÍVEL: DO COLECIONISMO AO MUSEU”
Exposição com obras de Amilcar de Castro, Yara Tupynambá, Franz Weissmann, Tomie Ohtake, entre outros. Na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10, Funcionários), em cartaz até 30 de junho, de terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada franca. Mais informações: (31) 3289-8900.