O curta

O curta "Calaboca e escuta" integra a sessão das 18h de quarta-feira, na Praça Duque de Caxias

crédito: Divulgação

Em sua segunda edição em Belo Horizonte, o Festival Cine Pojichá leva cinema de graça, ao ar livre, para diferentes praças da cidade, a partir desta terça-feira (23/4). São 11 filmes de diretores mineiros – de Contagem, Itaobim, Diamantina e Teófilo Otoni, além da capital mineira – que transitam entre a ficção, o documentário e o experimentalismo.

 


Criado em 2017 pelo InCena – coletivo de realizadores da região do Vale do Mucuri e do Vale do Jequitinhonha –, o festival incentiva a formação de público e o cineclubismo no estado.

 

Gestado em Teófilo Otoni, onde foram realizadas as seis primeiras edições, o Cine Pojichá chegou a Belo Horizonte no ano passado, por iniciativa de Cris Diniz, que responde, ao lado de Bruny Murucci e Florisvaldo Cambuí Júnior, integrantes do InCena, pela coordenação desta que é a 10ª edição do Festival. "O fato de ter essa mostra na capital potencializa a produção, porque o grande problema para os realizadores mineiros é a distribuição", diz.

 

A curadoria desta edição do Cine Pojichá é de Caroline Cavalcanti, Flavi Lopes e Guilherme Jardim. A abertura do evento, amanhã, às 19h, conta com a exibição do filme "Sessão bruta", dirigido pelo coletivo As Talavistas e Ela.LTDA, na Praça Duque de Caxias, e uma aula magna com o cineasta indígena Marilton Maxakali, de Bertiópolis (MG), às 20h, no Cine Santa Tereza.

 


Os outros locais da cidade por onde o festival vai passar são a Praça Floriano Peixoto, no Santa Efigênia, a Casa Ativa e a Quadra Serra Verde, em Venda Nova, e a praça José Verano da Silva, no Barreiro.


AÇÕES FORMATIVAS

 

Durante o festival, estão previstas, ainda, oficinas de roteiro cinematográfico e produção em audiovisual, o seminário "O cinema é nosso clube" e uma aula aberta com o cineasta Joel Zito Araújo (“A negação do Brasil”), na próxima sexta-feira (26/4), no Cine Santa Tereza. Essa ação se dá em parceria com a "Mostra Joel Zito Araújo - Uma década em vídeo (1987-1997)", que orienta toda a programação do dia. De acordo com Diniz, nesta edição a curadoria apostou no tema "Corpes Diverses".

 

"São trabalhos realizados com a presença de grupos e artistas que divergem de princípios, ideias, doutrinas e métodos cis heteronormativos, racistas, capacitistas e gordofóbicos. A proposta é potencializar o protagonismo de mulheres e pessoas LGBTQIA+, negras, indígenas, PCDs e obesas que desenvolvem trabalhos dentro do audiovisual, nas cidades dos vales do Mucuri e Jequitinhonha, além de Belo Horizonte e Região Metropolitana", contextualiza.

 

Ele pontua que a temática que orienta a edição deste ano em BH é um desdobramento do que foi proposto em 2023. "No ano passado, trabalhamos com o tema 'Resistir', a partir de um olhar sobre a retomada da vida no período pós-pandemia. Também tem a ver com minhas inquietações; sou uma pessoa transgênero na coordenação de um grupo muito heterogêneo", destaca.

 


A escolha dos filmes que compõem a programação foi balizada pelo tema, conforme aponta. Diniz observa que a intenção foi fazer um processo pelo qual fosse possível entender quem são as pessoas interessadas em participar e por isso foi aberto um edital para a curadoria, com um recorte específico na temática proposta para este ano. "Os trabalhos selecionados estão dentro desse recorte. Nos preocupamos com a pluralidade de existências e de localidades", afirma.

 

Sobre as aulas abertas, ele diz que também se orientam por acertos da primeira edição em Belo Horizonte. "Tivemos o Joel Zito Araújo, que é do Vale do Mucuri, na abertura, falando da produção audiovisual afrocentrada. Este ano, firmamos a parceria com a mostra que o homenageia, com a programação da próxima sexta-feira focada nessa questão. Em 2023, encerramos com uma palestra do Isael Maxakali, e este ano quem abre é o Marilton Maxakali, produtor audiovisual do Mucuri", cita.

 

A escolha dos locais onde serão realizadas as sessões também repete o que foi estruturado no ano passado. A Praça Duque de Caxias, onde fica o Cine Santa Tereza, e a Praça Floriano Peixoto, no Santa Efigênia, são "charmosíssimas", segundo observa Diniz, além de serem bairros que concentram uma intensa movimentação artística.


FESTIVAL EM PARCERIA

 

"Em Venda Nova, existiam núcleos culturais com os quais vínhamos dialogando, como o Casa Viva. No Barreiro, há alguns parentes de integrantes do InCena. A gente monta o circuito a partir de parcerias que vamos firmando", ressalta.

 

"Em Teófilo Otoni e cidades vizinhas, o festival ocorre em espaços públicos e em cineclubes; aqui, optamos por fazer quase tudo em praças, porque dá uma sensação de que se está numa cidade do interior, é uma delícia", comenta.

 

Para Diniz, ocupar o espaço público com exibições ao ar livre faz do Festival um lugar de formação de plateia.


10º FESTIVAL CINE POJICHÁ

- A partir desta terça-feira (23/4) até o próximo domingo (28/4), no Cine Santa Tereza, na Praça Duque de Caxias, na Praça Floriano Peixoto, na Casa Viva e na Quadra Serra Verde, em Venda Nova, e na Praça José Verano da Silva, no Barreiro.

 

- Toda a programação é gratuita.

 

- Inscrições para as oficinas, seminário e aulas abertas no site e no Instagram do InCena.


RAÍZES DO POJICHÁ

Pojixá é o nome de uma etnia indígena originária da região dos vales do Mucuri e Jequitinhonha e também dá nome à locomotiva de Teófilo Otoni, que ligava Minas à Bahia, e que hoje se tornou monumento da praça principal da cidade. "Nosso festival presta homenagem aos povos originários dos dois vales. Ele também faz referência ao propósito itinerante da locomotiva, que pode ir a outros territórios para mostrar sua produção", explica Florisvaldo Cambuí Júnior, integrante do InCena e um dos coordenadores do festival.