Ziraldo tinha um grupo de amigos de infância, e decidiu homenageá-los batizando os personagens da Turma do Pererê com seus nomes -  (crédito: Arquivo pessoal/Divulgação)

Ziraldo tinha um grupo de amigos de infância, e decidiu homenageá-los batizando os personagens da Turma do Pererê com seus nomes

crédito: Arquivo pessoal/Divulgação

No dia em que o Brasil lamenta a perda de um dos ícones da literatura infantil nacional, Pedro Nunes, de 90 anos, amigo de infância de Ziraldo, relembra com carinho a amizade que compartilhou com o cartunista, falecido neste sábado (6/4). Ao Estado de Minas, Pedro, que inspirou um dos personagens mais queridos de Ziraldo, o Tatu da Turma do Pererê, fala sobre a amizade que transcendeu décadas e se imortalizou nas páginas dos quadrinhos.

 

 

 

Nascido em Caratinga, na Região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, Ziraldo tinha um grupo de seis amigos de infância, incluindo Pedro Nunes, e decidiu homenageá-los batizando os personagens da Turma do Pererê, gibi publicado em 1960, com seus nomes: o jabuti Moacir, o coelho Geraldinho, a onça Galileu, o tatu Pedro Vieira, o macaco Alan e a coruja Professor Nogueira. "Ele sempre foi uma pessoa especial, com um coração generoso e um talento excepcional", conta Pedro.

 

A amizade resistiu ao teste do tempo, eles foram inseparáveis ao longo dos anos e se aventuraram em Belo Horizonte, onde cursaram o ensino superior. “Depois, cada um tomou seu rumo, mas constantemente a gente se encontrava. Sempre mantivemos essa ligação, mesmo com o passar dos anos. Ele sempre foi assim, carinhoso e atencioso. Essa homenagem que recebo através do Tatu é um tesouro para mim", revela.

 

Ainda morando em BH, Pedro guarda em casa várias recordações de Ziraldo, que não apenas retratou a amizade deles nas páginas dos quadrinhos, mas também expressou sua gratidão e afeto em um quadro ilustrado do personagem Tatu e presenteado a Pedro pela sua formatura em odontologia. “E com uma dedicatória, ele pôs assim: ‘Para o Pedrinho, uma homenagem ao meu irmão de Caratinga”, contou à reportagem.

 

Apesar da tristeza pela partida do amigo, Pedro Nunes prefere celebrar a vida e o legado de Ziraldo. "Aprendi muita coisa com o Ziraldo. Ele nos ensinou a viver ‘feliz da vida’, sempre com alegria e criatividade. Sou orgulhoso de ser personagem e de ter convivido com ele. Ele deixa um legado para as futuras gerações", expressa.

 

 

A mais brasileira das histórias em quadrinhos

 

Quando se fala em Ziraldo, a primeira referência que vem à cabeça é certamente o Menino Maluquinho, sua obra mais conhecida, mas, duas décadas antes, o autor criou um dos gibis mais icônicos: A Turma do Pererê. Criada para dar uma cara bem brasileira aos quadrinhos, a obra foi a primeira publicação de personagens nacionais —todos bem conhecidos do imaginário brasileiro— totalmente colorida.

 

Publicadas inicialmente na revista “O Cruzeiro”, em 1959, as histórias da Turma do Pererê ganharam edição própria logo depois, em 1960, tornando-se o primeiro gibi brasileiro produzido por um único autor. Ao todo, foram 43 edições, publicadas até 1964, com tiragem média de 120 mil exemplares.

 

 

Com personagens como o jabuti Moacir, o coelho Geraldinho, a onça Galileu, o tatu Pedro Vieira, o macaco Alan e a coruja Professor Nogueira —nomes inspirados nos amigos de infância de Ziraldo—, e, claro, o próprio saci Pererê, o gibi conquistou gerações de leitores com suas histórias cativantes e mensagens de conservação ambiental, sustentabilidade e respeito à fauna e flora.

 

Inspirada na dinâmica do Sítio do Pica-pau Amarelo, de Monteiro Lobato, a turma ganhou série exibida na TVE Brasil e na TV Cultura, entre 2002 e 2004. Pererê, o personagem principal, foi interpretado pelo ator Silvio Guindane.

 

 

Pai do Menino Maluquinho deixa legado 

 

Nascido na cidade mineira de Caratinga em 1932, Ziraldo Alves Pinto, mais conhecido como Ziraldo, morreu neste sábado aos 91 anos, no Rio de Janeiro. O falecimento do escritor, cartunista e jornalista foi referenciado por autoridades e artistas de todo o país, que prestam homenagens ao autor.

 

Criador dos clássicos personagens Menino Maluquinho e a Turma do Pererê, marcou gerações com suas histórias infantis. Ele também foi um dos criadores do jornal “O Pasquim”, revista fundada no fim dos anos 1960 e marcada na história por ter sido alvo de censura na ditadura militar.