A cinebiografia do criador da bomba atômica assinada por Christopher Nolan provou 
que uma narrativa elaborada pode ser também um blockbuster -  (crédito: Universal Pictures/Divulgação)

A cinebiografia do criador da bomba atômica assinada por Christopher Nolan provou que uma narrativa elaborada pode ser também um blockbuster

crédito: Universal Pictures/Divulgação

Via de regra, premiações não são unânimes. Mas, independentemente de quem for o grande vencedor deste domingo (10/3), existe uma questão que é indiscutível: viemos de uma grande temporada de filmes, como há muito o Oscar não via.


A 96ª cerimônia de premiação – a partir das 20h no Brasil, à tarde para as estrelas que participarão da festa no Dolby Theatre, em Los Angeles –, traz uma diversidade de candidatos que reflete a reinvenção que Hollywood vem preconizando na última década (por necessidade de continuar relevante, diga-se).


Ainda que entre os 10 títulos que concorrem ao prêmio principal, de melhor filme, haja uma abertura grande para a chamada produção internacional (aquela não realizada nos Estados Unidos ou não falada em inglês), dois longas-metragens que tratam de sagas norte-americanas são o que melhor traduzem Hollywood na atualidade: “Oppenheimer” e “Assassinos da Lua das Flores”.

 


São “filmes de Oscar”, como diz o senso comum, com grandes histórias, atores do primeiro time e dinheiro de sobra para que seus diretores trabalhassem como quisessem, sem concessões.


CAMPEÃO DE INDICAÇÕES


Só uma pequena revolução entre os votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood poderá tirar de “Oppenheimer” o título de grande vencedor neste ano. Aqui, a questão não é ser o melhor ou não, mas o que significou a realização do filme de Christopher Nolan.


Indicado em 13 categorias, deverá levar ao menos metade delas – filme, direção, ator principal para Cillian Murphy, coadjuvante para Robert Downey Jr., fotografia para Hoyte va Houtema, trilha sonora para Ludwig Göransson e montagem para Jennifer Lame.

 

O filme de Nolan chega à cerimônia com 326 troféus, entre eles cinco Globos de Ouro, sete Baftas, oito Critics Choice, algumas das premiações mais badaladas da temporada, mais os dos sindicatos dos diretores (DGA), produtores (PGA) e atores (SAG), que são aqueles que realmente podem apontar os vencedores do Oscar.


Um possível triunfo de “Oppenheimer” será também uma afirmação da Hollywood indústria reconhecendo quem é indispensável para ela. A cinebiografia do criador da bomba atômica é um filme de cinema, e Nolan, mais do que qualquer outro cineasta da atualidade, é o diretor capaz de levar público para as salas. Estas precisam, mais do que nunca, de grandes audiências para continuar existindo.


“Oppenheimer” fez isto de forma magistral, mesmo sendo considerado “difícil”. É um filme longo (três horas de duração), adulto, com narrativa fragmentada e uma verborragia do início ao fim. Mas se tornou a cinebiografia mais assistida da história, com bilheteria de US$ 1 bilhão.


Foi lançado juntamente com o arrasa-quarteirão de 2023 (“Barbie”, o mais visto do ano, que atingiu US$ 1,4 bilhão, mas chega ao Oscar sem fôlego), criando “Barbenheimer”, fenômeno que certamente ajudou a catapultar as duas bilheterias.

 

 

O cinema americano em uma história épica, com o último dos diretores clássicos no comando, em uma saga que a partir de uma narrativa criminal (nativos da tribo Osage assassinados sem uma investigação correspondente), dá voz a um povo que passou a sua existência calado. E uma narrativa cuja sequência final, cheia de simbolismos, pega o espectador e mostra que cinema e arte podem (e devem) andar de braços dados, mesmo que num projeto da indústria.


Este é “Assassinos da Lua das Flores”, de um Martin Scorsese em seu auge e com os melhores (Leonardo DiCaprio, Robert de Niro e Lily Gladstone), desafiando o cinema do alto de uma carreira de glórias e 81 anos de idade. Não fosse a contribuição de Nolan para a sobrevivência da indústria, os prêmios principais deveriam ser de Scorsese, conforme mais de um especialista em cinema já apontou. Está indicado em 10 categorias.


Mesmo se a única estatueta que “Assassinos da Lua das Flores” levar for para (a favorita como melhor atriz) Lily Gladstone, que então se tornará a primeira indígena norte-americana a vencer na categoria (se perder, será para Emma Stone, também em grande momento em “Pobres criaturas”, indicado em 11 categorias), isto não diminuirá a força do longa como um acontecimento.

 


“Assassinos” está longe de ser uma produção palatável – tanto em sua realização quanto em fruição. Mas o cineasta contou a história que queria da maneira como planejou. Narrativa de 3h30 de duração, custou US$ 200 milhões à Apple, financiadora do filme que está longe de ser um campeão de bilheteria (fez US$ 156 milhões mundo afora, antes de chegar com exclusividade à plataforma de streaming da Big Tech). Nesta altura da vida e da carreira, Scorsese faz, com justiça, exatamente o que quer.

 

Onde assistir aos 10 títulos indicados a melhor filme

 

“Anatomia de uma queda” (5 indicações: 20h no UNA Cine Belas Artes; 15h30 no Unimed-BH Minas; neste domingo, 20h20, no Pátio)


“Assassinos da Lua das Flores" (10 indicações: AppleTV+, neste domingo, 20h40, no Diamond; segunda, 19h40, no BH)


“Barbie” (8 indicações: na MAX, aluguel ou compra em VoD, e neste domingo, 19h40, no BH)


“Ficção americana” (5 indicações: Prime Video)


“Maestro” (7 indicações: Netflix)


“Oppenheimer” (13 indicações: aluguel ou compra no VoD, neste domingo, 20h40, no BH e 17h, no Diamond)


“Os rejeitados” (5 indicações: não disponível)


“Pobres criaturas” (11 indicações: 16h e 20h40 no UNA Cine Belas Artes; segunda e quarta, 14h10, no BH; 15h50 e 20h50 no Boulevard; 21h, no Diamond; 14h (domingo) e 20h30, no Unimed-BH Minas; neste domingo, 18h20 e 21h20, e de segunda a quarta, 16h30 e 19h50, no Pátio; 13h50, no Ponteio)


• “Vidas passadas” (2 indicações: 16h no UNA Cine Belas Artes)


“Zona de interesse” (5 indicações: 16h10 no UNA Cine Belas Artes; 18h25 no Unimed-BH Minas; 17h50, no Pátio; 19h05, no Ponteio)