Bianca Byington interpreta a Bruxa de Pano na história em que crianças lidam com os desafios de conviver em sociedade, sem abrir mão de seus desejos individuais -  (crédito: Marcos Terranova/Divulgação)

Bianca Byington interpreta a Bruxa de Pano na história em que crianças lidam com os desafios de conviver em sociedade, sem abrir mão de seus desejos individuais

crédito: Marcos Terranova/Divulgação

No período sombrio da ditadura militar, despontou no Sul do país um talento maiúsculo na literatura brasileira, com uma prosa poética que até hoje conquista leitores para obras como “Morangos mofados” (1982) e “Ovelhas negras” (1995).

Exilado na europa no início da década de 1970, Caio Fernando Abreu (1948-1996) retornou ao país trazendo um presente para sua amiga Suzana Saldanha. É resultado desse presente, que a atriz recebeu em 1979, a montagem da peça infantil “A comunidade do arco-íris”, que estreia nesta sexta (1/3), no CCBB-BH.

“Caio, como um operário da escrita, fez uso dela em todas as formas aplicáveis. Ele foi um jornalista, cronista, autor de contos, escritor de romances e, entre as suas atividades, fez dramaturgia. Ele teve um passado que também pertenceu a um lugar muito próximo do teatro e, nele, estabeleceu laços com pessoas como a Suzana (Saldanha) e eu”, afirma o ator e diretor Gilberto Gawronski, que assina a supervisão de direção da montagem.

 

MÁGICA E REALIDADE

A história escrita por Caio Fernando de Abreu em 1971 conta a história de brinquedos e seres mágicos que se mudam para uma comunidade na floresta, longe dos humanos. Lá, encontram um lugar sem poluição ou consumo desenfreado. Porém, a chegada de três gatos a esse recanto de paz suscita discussões sobre confiança, respeito, amizade e democracia.

“O espetáculo resgata não só uma obra dedicada a um público infantil, o que é muito importante de se valorizar dentro do trabalho do Caio, mas também a vida desse autor, que hoje é tão lido pelos jovens e que se perpetuou na sua escrita. Mostra também essa capacidade de representar não só aquela época, mas também ser lido hoje com as analogias do mundo contemporâneo”, afirma Gawronski.

Ele observa que “a peça fala desse lugar de partilhar decisões em coletivo e sobre o quão é complexo isso. O quão é complexo você ter que aceitar o desejo do outro e colocar, muitas vezes, o teu desejo em nome de um coletivo. De ter uma unidade, um fluxo de liderança, que a criança também tem”.

Veterano na montagem de peças do dramaturgo, Gawronski já encenou “Dama da noite” e “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora”. Sobre a fidelidade à obra de Abreu, ele diz: “Quando ele faleceu, deixou uma carta de pensamento me responsabilizando pelos direitos da obra dele em relação ao audiovisual. Então, acho que tenho qualificação e entendimento para poder repensar a obra do Caio e até deixar as pessoas mais à vontade”.

“Não posso imaginar como estaria a cabeça do Caio e o que ele mudaria, mas sei que não estamos fazendo algo que ele era contra. Eu me lembro do jeito que ele trabalhava e constantemente me ligava com novas sugestões para os textos, pedindo para eu mudar coisas que seriam mais pertinentes para cada apresentação”, comenta.


TENDA

A cenografia da peça convida o público a uma imersão total na história. Uma estrutura de ferro, flexível, com aproximadamente sete metros de largura e cinco de altura, foi montada especialmente para as apresentações, sob a responsabilidade do cenógrafo Sérgio Marimba.

“Ele cria essa tenda lúdica, que, ao mesmo tempo, pode abrigar e se locomover. Observando, me remete muito a estas festas jovens de hoje em dia, que se montam como comunidades”, diz Gawronski. “Acho que a multiplicidade de possibilidades de interpretação dessa obra estrutural só atualiza mais a peça do Caio.”.

O elenco é formado por Bianca Byington, que encarna a Bruxa de Pano, Raquel Karro (Sereia), Tiago Herz (Roque), Lucas Oradovschi (Mágico), Lucas Popeta (Gato Simão), André Celant (Soldadinho), Renato Reston (Gato Tião) e Patricia de Farias (Gata Bastiana).

“Bianca é uma atriz talentosíssima e com uma trajetória incrível no teatro brasileiro. Ela assume o papel da Bruxa, que por muitos é interpretado como o principal, mas o barato da peça é ver que, na verdade, o principal é a comunidade do arco-íris”, afirma o diretor.

“A trama apresenta uma multiplicidade de visões. Existe o menino que toma liderança no jogo e existe aquela menina que é tão acanhada. A presença e o convívio deles faz com que um só possa existir existindo o outro. A gente não precisa ter um lugar de extinção para poder ganhar um lugar utópico, de uma felicidade mais plena e comum”, conclui Gawronski.

*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes

A COMUNIDADE DO ARCO-ÍRIS
Texto de Caio Fernando Abreu. Direção de Suzana Saldanha e Gilberto Gawronski. Com Bianca Byington, Raquel Karro, Tiago Herz, Lucas Oradovschi, Lucas Popeta, André Celant, Renato Reston e Patricia de Farias. Estreia nesta sexta (1/3), às 18h, no CCBB- BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Temporada até 25 de março. Apresentações às 18h, às segundas e sextas, e às 16h, aos sábados e domingos. Mais informações: (31) 3431-9400.