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Em "Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto", a artista tem a companhia de Jards Macalé, Ná Ozzetti, Chico César e Paulinho Moska

crédito: Kika Antunes/Divulgação

Com as participações de Jards Macalé, Ná Ozzetti, Chico César, Paulinho Moska, a cantora Patrícia Ahmaral chega ao streaming com o álbum duplo “Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto” (Tratore). A artista mineira, que faz um tributo ao poeta, cineasta, ator, jornalista e letrista piauiense Torquato Neto (1944-1972), lança também um minidocumentário no qual conta a história do projeto, um sonho antigo que se tornou realidade, em seu canal no YouTube e redes sociais. Com 19 faixas, o disco traz a direção musical do cantor e compositor Zeca Baleiro.

Patrícia lançou as faixas nas plataformas digitais, por etapas, entre outubro de 2022 e agosto de 2023, por meio de singles e de dois volumes divulgados separadamente: “Um poeta desfolha a bandeira – vol.1”, com nove faixas; e “A coisa mais linda que existe – vol.2”, com 10. Ligado à contracultura, o letrista piauiense, que se suicidou em 1972, foi parceiro de nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Jards Macalé, Paulo Diniz e Geraldo Azevedo, entre outros.

A cantora explica que é um disco que foi lançado a partir do final de 2022, nos 50 anos de morte de Torquato. “São 19 faixas e, por isso, achei que não era interessante lançá-las de uma vez só. Fui lançando aos poucos para que as pessoas pudessem dispensar atenção, na medida do possível, ao que ia sendo lançado. No final de 2023, achei interessante lançar a versão integral do projeto.”

LETRISTA REVOLUCIONÁRIO

O álbum duplo, segundo ela, é para marcar mesmo que é um songbook dedicado ao cancioneiro, com parte das parcerias de Torquato Neto. “O que acho interessante e me cativa nesse lançamento é que, realmente, dá para percorrermos um pouco do pensamento dele, por meio de suas canções com parceiros e períodos diversos. É como se pudéssemos confrontar o Torquato com o próprio. Ele deixa uma obra breve, fragmentada, mas plena de mensagens e gestos profundos.”

Para Patrícia, Torquato tinha uma consciência extraordinária em relação ao país. "E também uma coragem grande de ser confessional em relação às próprias lutas internas, enfim, é muita coisa dentro da obra musical que ele deixou como letrista”, ressalta a cantora. “E que compõe com todos os gestos que ele deixou também, inaugurando uma linguagem nova no jornalismo e nas colunas culturais que escreveu. Torquato deixou uma crônica extraordinária sobre aquele período em que as artes nacionais se modernizavam, na luta e bandeira dele pelas artes de vanguarda, nunca sendo panfletário, mas sempre estando à frente”, acrescenta.

A artista acredita que a obra de Torquato dê pistas dessa pessoa genial. "Isso dentro da canção brasileira moderna. Ele fez parcerias seminais com Gil, Caetano, Macalé, tinha uma maneira singular de escrever letras de canções. Foi reconhecido por Zé Miguel Wisnik e Paulo Leminski, como um letrista revolucionário.”

RELEITURA DAS CANÇÕES

 A mineira conta que entrou em contato com o repertório de Torquato em 1998, quando foi convidada pelos poetas Marcelo Dolabela e Ricardo Aleixo para cantar no show “Torquatotal”, na Primeira Bienal Internacional de Poesia de BH, realizada no Teatro Alterosa. “Senti uma afinidade com esse repertório e desde lá me aprofundei no conhecimento em torno da obra dessa figura que foi me capturando pelos seus gestos, mensagens e pela sua poesia. Resolvi me inscrever na Lei Aldir Blanc e fui contemplada. O dinheiro não dava para fazer o projeto todo, ainda mais porque o transformei em álbum duplo. Terminei esse trabalho com uma campanha de financiamento coletivo.”

Ela conta que manteve com o poeta Ricardo Aleixo uma interlocução muito importante. “Convidamos também o músico Rogério Delayon, que estava naquele show de 1998, Walter Costa, engenheiro de áudio e produtor de Petrópolis (RJ) e Marion Lemonnier, produtora francesa. Essas três pessoas foram fundamentais, junto com a regência do Zeca, para reler as canções, trazer uma atualidade e, ao mesmo tempo, manter a reverência às gravações originais que são antológicas... Enfim, uma maneira reverente de trazer a minha leitura como cantora para esse trabalho.”

No YouTube, já estão rodando as músicas “Let´s play that”, parceria de Jards Macalé com Torquato, e ‘Go back’, parceria de Sérgio Brito (Titãs) também com o artista piauiense, e “Jardim da noite” (“Esses dias”), parceria inédita de Zeca Baleiro sobre um poema de Torquato.

PARTICIPAÇÕES PROVOCATIVAS

Patrícia torce para que fãs da cultura brasileira e de Torquato Neto mergulhem no álbum duplo para compreender um pouco do “nosso DNA”. “Ele (Torquato) fez parte dessa geração que revolucionou a música e as artes, depois do modernismo, Bossa Nova e Tropicália, e tem muito a ver com esse campo de liberdade na invenção da arte e da arte brasileira que podemos usufruir hoje e entender um pouco de onde a gente veio.”

Segundo ela, as participações no disco também surgiram nessa de provocar a obra de Torquato, com artistas que fazem sentido para ela. “Como referência, dentro da canção brasileira e que também pudessem dialogar, de alguma forma, com essa obra dele.”

Sobre pegar a estrada com o novo trabalho, Patrícia Ahmaral revela que está tentando levantar recursos para levar o show de lançamento para BH e São Paulo, inicialmente, e depois rodar com ele, principalmente, porque, em 2024, serão 80 anos de nascimento de Torquato Neto. 

Capa

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Reprodução

 

“PATRÍCIA AHMARAL CANTA TORQUATO NETO”


Disco de Patrícia Ahmaral
19 faixas
Tratore
Disponível nas plataformas digitais