A entrega foi feita durante a terceira edição do Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira) -  (crédito: Kevem William/Divulgação)

A entrega foi feita durante a terceira edição do Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira)

crédito: Kevem William/Divulgação

A escritora mineira Conceição Evaristo, de 76 anos, recebeu, na noite deste sábado (4/11), o troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores (UBE), em Itabira.

A entrega foi feita pelo presidente da instituição, Ricardo Ramos Filho, e pelos diretores Fernando Dezena e José Carlos Sibila, durante a terceira edição do Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira).

Na ocasião, Padre Júlio Lancellotti, que recebeu o prêmio no ano passado, gravou um vídeo no qual simbolicamente repassou o troféu para Evaristo.

"Fico muito feliz em receber esse prêmio. Eu me olho no espelho e acho que sou a tal", brincou Evaristo, em conversa com o Estado de Minas.

"Acho que tem várias nuances. Primeiro, é que para minha promoção pessoal isso é muito bom. Mas, para além disso, eu não posso deixar de observar - e isso pode até parecer um pouco de ingratidão - que num prêmio que ocorre desde 1962, é a primeira vez que uma mulher negra é laureada", emendou.

A observação não é gesto de ingratidão, conforme diz a escritora, mas uma ressalva para que, no futuro, outros escritores e escritoras também sejam reconhecidos por seus trabalhos e contemplados pela premiação.

Evaristo foi escolhida em razão de sua produção literária e acadêmica, na qual desenvolveu o conceito de "escrevivência", ainda na década de 1990, quando fazia mestrado em Letras.

Resultado de jogo entre as palavras “escrever” e “viver”, o conceito parte de um histórico fundamentado na fala de mulheres negras escravizadas que tinham de contar suas histórias para ninar os filhos dos senhores da casa-grande.

"A 'escrevivência' é um caminho inverso, é um caminho que borra essa imagem do passado, porque é um caminho já trilhado por uma autoria negra, de mulheres principalmente", explicou ela.

"Isso não impede que outras pessoas também, de outras realidades, de outros grupos sociais e de outros campos para além da literatura experimentem a escrevivência. Mas ele é muito fundamentado nessa autoria de mulheres negras, que já são donas da escrita, borrando essa imagem do passado", concluiu Evaristo.

*O jornalista viajou a convite da Flitabira