Juraciara Vieira Cardoso
Juraciara Vieira Cardoso
Professora da UFMG, graduada em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutora em Filosofia do Direito
Vitalidade 

Envelhecer com autenticidade

Um envelhecimento no qual nos afirmamos como sujeitos maduros e não como simulacros tentando parecer mais jovens

Publicidade
“Não há nada de trágico em ter 50 anos, a não ser que você esteja tentando parecer ter 25”. Essa perspicaz provocação do cineasta francês Jean-Luc Godard não é apenas uma reflexão sobre a passagem do tempo, mas uma verdade libertadora sobre o envelhecimento: o avançar da idade não é ruim, mas sim a negação desse processo natural. Em nossa cultura, obsessivamente voltada para a juventude, aprendemos desde cedo que envelhecimento não é algo que se mostra, que se tem orgulho, mas sim algo que deve ser escondido, disfarçado, medicado e evitado.
A pressão cultural para mantermos uma aparência jovem a qualquer custo, não raras vezes, gera em nós ansiedade e sentimento de inadequação que, diga-se de passagem, aumenta a cada aniversário. Em todos os lugares, somos inundados com imagens de pessoas aparentemente perfeitas, cujos rostos e corpos não exibem qualquer sinal de degradação do tempo. Essas representações distorcidas da realidade criam em nós a desconfortável sensação de que envelhecer é um fracasso pessoal e que devemos lutar, com unhas, dentes e cosméticos contra ele.


Nossas sociedades passaram a acreditar que a juventude é um valor – e não uma parte da vida humana - e, com isso, cada ruga, cada cicatriz e cada cabelo branco, não são percebidos como sinal de sabedoria acumulada, mas tão somente de anos que não estão mais à nossa disposição. Em uma tentativa vã de esconder nossa humanidade – finita e imperfeita -, deixamos de perceber que nossa beleza reside justamente nas marcas que foram cunhadas pelo tempo, pois elas contam histórias preciosas e narrativas que fizeram parte de quem nos tornamos.

Para vivermos aquilo que a filosofia chama de vida boa, não parece sábio negar nossa efemeridade e, consequentemente, nosso envelhecimento. Como, então, poderíamos pensar em um envelhecimento autêntico, ou seja, um envelhecimento no qual nos afirmamos como sujeitos maduros – e não como simulacros tentando parecer mais jovens?  Como envelhecer com graça e autenticidade, em meio às pressões sociais para que nunca pareçamos ter a idade que temos? A filósofa Simone de Beauvoir afirmou que envelhecer exige coragem!

Ela tem toda razão, pois é preciso coragem para romper com os padrões midiáticos irreais e aceitar quem de fato somos: seres em processo de amadurecimento – todos nós, sem exceção. A pressão para parecermos mais jovens muitas vezes nos leva a usar máscaras, a esconder nossas verdadeiras identidades atrás de um véu de aparência e superficialidade. No entanto, para experimentarmos um envelhecimento autêntico, precisamos renunciar às expectativas sociais em torno de nós. É preciso que fixemos nossa atenção em nós, naquilo que nos constitui como sujeitos. Só assim conseguiremos sair do que Heidegger chamou de modo “a gente”, que se refere ao fato de guiarmos nossas vidas por aquilo que o mundo e as pessoas esperam de nós e não por aquilo que verdadeiramente esperamos.
 
O que Godard nos recorda é que não há tragédia em envelhecer, mas sim na busca incessante por uma juventude que não temos mais. Sua mensagem é a de que não devemos negar a passagem do tempo, mas sim aceitá-la com graça e leveza. A autenticidade, que nos liberta das mil distrações do mundo, pressupõe se aceitar quem se é de maneira integral. A verdadeira beleza está na compreensão de que lutarmos contra quem somos, além de vão, nos torna prisioneiros, em todos os sentidos.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

Parceiros Clube A

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay