À mesa com o imperador
Os convidados caminhavam numa ponte flutuante ornamentada com seis grandes arcos e dois candelabros de gás
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Imaginem uma festa para cinco mil convidados recebidos por mulheres fantasiadas de sereias e fadas, que fosse feita numa ilha e com um menu em francês executado por 40 cozinheiros, 50 ajudantes, 60 trinchadores e 150 copeiros.
Realizado no dia 9 de novembro de 1899, o Baile da Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro, em homenagem ao navio chileno Almirante Cochrane, foi lendário e acontecia enquanto o golpe que depôs o imperador estava sendo tramado.
A sociedade, a nobreza e o povo ficaram em polvorosa: roupas finas se esgotaram rapidamente, os alfaiates lotados para ajustar as casacas dos homens, as barbearias com filas para o cabelo e o bigode e os salões de beleza trabalhando sem folga para as senhoras que chegaram a dormir sentadas para não estragar seus penteados.
No embarque, havia seis bandas e orquestras contratadas para o evento. Os convidados caminhavam numa ponte flutuante ornamentada com seis grandes arcos e dois candelabros de gás. Em seguida, entravam na barca coberta de tapetes luxuosos.
A vista da ilha deslumbrava iluminada com 700 lâmpadas elétricas. A apoteose era o holofote que focava mais da metade das 60 mil velas no alto da torre.
Na chegada, os convidados desembarcavam num bosque com um quadro de ninfas e golfinhos oferecendo flores aos chilenos e após caminhavam em meio a 10 mil lanternas venezianas.
O jantar foi monumental. Foram servidos 800kg de camarão, 300 frangos, 500 perus, 64 faisões, 1.200 latas de aspargos, 20 mil sanduíches, 14 mil sorvetes, 2.900 pratos de doces acompanhados de 80 caixas de champanhes Licquot, Röedere e Heidsinck, 10 mil litros de cerveja e 188 caixas de vinhos como os Madeira, Sherry, Grec Blanc, Haut Sauternes, Chateau d'Yquem, Margaux, Château Lafite, Chateau Léoville, Château Becherel, Château Dupleiss, Falermo, Lacrima Christi, Madeira tinto, Jonhannisberg, Liebfraumilch, Marcobrunner Auslese, Chablis, Moscato, Passito d'Asti, Pontet Canet, os borgonhas Chambertin, Pommard, Nuits, Rommané, Moscatel de Siracusa, Tokaj, Constance, Mosela Mussseux e o Porto Vicomte Vellar d'Allen 1834 – Vieux Exposition – Extra Special e conhaques.
Os pratos servidos pela Confeitaria Paschoal foram “Consomé crème à la Richelieu (creme à Richelieu), Badejo – Merette – Bijupirá (chamado de salmão brasileiro), “Chartreuse de perdrix à la praire” (baseado em perdizes), “Langue écarlate gelée à langlaise” (língua com gelatina à maneira inglesa), “Jacutinga et pigeons sauvages à la Guanabara” (ave e pombos à Guanabara), “Galantine à la Province de Minas” (galantina à Província de Minas), “Veau à la Siberienne” (vitela à siberiana), “Mayonnaises à l'Imperiale”, “Salada historique”, “Dinde aux Marrons – Jambon” (perua com castanhas portuguesas e presunto), “Cuissots de Faisan à La chilienne” (coxas de faisão à chilena) e “Filets de merlan farcis” (filés de badejo recheados).
No serviço de bar, havia xaropes gelados, leite de amêndoas com baunilha, ponche de champahne, licores diversos, cervejas, sodas, águas minerais alemãs. O “Service” trazia sorbets, Waffles de Viena, chás verde e preto servidos com “petits-fours”, bolos finos à Cordilheira dos Andes, torradas com foie gras, sorvetes de diversos sabores, ponche com Kirsch, biscoitos e bolinhos fritos “à la princesse”.
Um destaque no dia seguinte à festa foi a lista do que foi encontrado pela equipe de limpeza, que incluía oito raminhos de corpete, três coletes de senhora, dezessete ligas, dezesseis chapéus, nove dragonas, treze lenços de seda, nove de linho e quinze de cambraia.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
