O Brasil está envelhecendo — e rápido. O Censo 2022 mostrou que já somos 22,17 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, o que representa 10,9% da população e um crescimento de 57,4% em apenas 12 anos. Se considerarmos os brasileiros com 60 anos ou mais, são 32,1 milhões (15,6% da população), quase o dobro do início dos anos 2000. As projeções do IBGE mostram que, em 2070, 37,8% da população terá mais de 60 anos, indicando que o país terá mais avós do que netos.
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Mesmo assim, a sociedade não acompanha esse ritmo. A inclusão digital dos mais velhos avança, mas lentamente: enquanto 88% dos brasileiros utilizam internet, entre os 60+ esse índice cai para 62%. É um retrato nítido de uma contradição brasileira: envelhecemos demograficamente, mas não culturalmente. Persistem estigmas — como o uso banalizado de “velho” e “velha” como insultos — e a invisibilidade das pessoas idosas em espaços de decisão, inovação e cidadania.
O tema da redação do Enem 2025, aplicado no domingo (9/11), abordou justamente essa urgência: “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. A proposta levou milhões de candidatos a refletirem sobre como o país encara esse processo social e demográfico e sobre a importância de repensar políticas públicas voltadas ao cuidado, à dignidade e à participação da população idosa. Ao colocar essa discussão no centro do exame mais importante do país, o Enem reconhece que envelhecer não é apenas uma condição individual: é um desafio coletivo, estruturante e inevitável.
É nesse espírito que a coluna Juventude Reversa discute as diferentes perspectivas do envelhecimento. Mais do que falar da idade avançada em si, procura iluminar os desafios sociais, econômicos, culturais e estruturais que acompanham a transformação acelerada da pirâmide demográfica brasileira. Afinal, como bem lembra a jurista Maria Garcia, aos 90 anos: “Eu não vou falar de velhice, porque velhice é fato consumado. Eu vou falar de envelhecer — e envelhecer é um processo no qual todos estamos inseridos.”
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O Brasil precisa reconhecer, com urgência, que envelhecer não é um problema — é uma experiência de vida. E exige novas políticas, novos olhares e novos caminhos de inclusão. Isso passa por repensar a educação, o mercado de trabalho, a saúde, a mobilidade urbana e a tecnologia, para que o envelhecimento seja entendido como plenitude, participação e dignidade, não como decadência.
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Se o século XX foi marcado pela juventude como símbolo do futuro, o século XXI será marcado pela longevidade como símbolo de continuidade. E talvez esse seja o maior desafio cultural do país: compreender que envelhecer é o destino comum de todos nós — e que só haverá futuro se aprendermos a respeitar o tempo vivido.
