
Clássico mineiro na terra do Tio Sam
O Cruzeiro, com nove contratações, busca um norte para equilibrar seu time. Já o Atlético, se refazendo em algumas posições, conta como trunfo a volta do técnic
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ORLANDO – É a segunda vez na história que Cruzeiro e Atlético fazem o clássico fora do país. O primeiro foi no Uruguai, há 16 anos, vencido pelo time azul, por 4 a 2, pela semifinal do Torneio de Verão. As duas principais equipes de Minas e do futebol brasileiro medirão forças esta tarde, aqui no Estádio do Orlando City, em partida apenas amistosa, já que ambos se preparam para as competições desta temporada. O Cruzeiro, com nove contratações, busca um norte para equilibrar seu time e dar ao torcedor tudo aquilo que ele espera. Já o Atlético, se refazendo também em algumas posições, conta como trunfo a volta do técnico Cuca, o maior vencedor da história do clube, e que deu a ele sua única Copa Libertadores. Cuca é daqueles técnicos que sabe ajeitar um time como poucos, e não precisa de grandes jogadores para tornar sua equipe competitiva e em condições de ganhar taças. Foi o maior acerto do Atlético, buscar o treinador, que ganhou praticamente tudo em 2021, mas que teve uma passagem ruim, na volta, em 2023. Mas não há como negar que Cuca é um grande técnico, para mim, o melhor dos brasileiros em atividade.
A torcida do Cruzeiro vive a expectativa de Gabigol e Dudu, cerejas do bolo na temporada, fazerem gols e conseguirem uma grande vitória. Mesmo sendo apenas um jogo amistoso, a rivalidade sempre fala mais alto e as torcidas estarão dividindo o estádio, na certeza de uma vitória de suas equipes. Não acredito que Diniz mudará todo o time no segundo tempo, como fez contra o São Paulo, justamente, pela responsabilidade do jogo. Também acho que Cuca vai colocar o que há de melhor, e se Hulk está em campo, sempre há certeza de gols por parte de sua torcida. O Atlético se desfez de vários jogadores, entre eles, Paulinho. Achei que ele foi muito bem vendido e que a saída não atrapalhará em nada o planejamento. Hulk, sim, é o principal jogador, e inegociável, pois participou, diretamente, das conquistas. Paulinho, embora tenha feito muitos gols e seja o artilheiro da Arena do Galo, não ganhou taças e não vai deixar saudades. Cuca achará um atacante para jogar com Hulk e formar uma nova e poderosa dupla de ataque.
O torcedor está preocupado pelo fato de a equipe ter chegado em duas finais, na temporada passada, e ter perdido as duas, de forma vergonhosa, principalmente a Libertadores, quando tinha um jogador a mais a partida toda. Por isso mesmo mandou jogadores embora, entre eles Battaglia, que parece não ter se dado bem com o grupo e trombado com a principal estrela. Acredito que Cuca vá recuperar o futebol de Gustavo Scarpa, que com ele deverá jogar em outra posição. O técnico conhece o jogador. Não vejo o clube como terra arrasada como pregam alguns. Dívidas, todos têm, e o Atlético tem gente capaz para equacionar tais problemas. O futebol brasileiro tem pago salários irreais, e isso tem prejudicado as equipes, que querem viver uma “realidade” de Europa sem ter as finanças do Velho Mundo. Nossa economia está quebrada, e os clubes vão pelo mesmo caminho. SAF não é certeza de grandes receitas e grandes lucros, e, como muito bem disse Mano Menezes, “essa bolha vai estourar a qualquer momento, pois os clubes não suportam mais pagar os salários monstruosos”. Ele tem razão. Os torcedores exigem grandes jogadores, para o clube brigar pelas taças.
Conversando com meu amigo Muricy Ramalho e com Milton Cruz, da comissão técnica permanente do São Paulo, eles disseram que o torcedor não quer saber se o clube tem ou não dinheiro, se deve ou não deve, quer saber é de time forte e de ganhar taças. Porém, os dirigentes e donos, principalmente, têm que ter responsabilidade fiscal e pagar aos credores. Tanto Atlético, quanto o Cruzeiro, têm donos responsáveis e conhecedores de gestão. O momento do nosso futebol continua crítico, repatriando jogadores da Europa, China e outros mercados, enquanto os jovens, promissores, são vendidos para o exterior, para aliviar o caixa. É uma realidade que vem assolando o futebol brasileiro, que não consegue segurar os jovens, que poderiam ficar quatro ou cinco anos, ganhando taças, para depois se firmarem no exterior. É completamente diferente do nosso passado, quando os craques saíam do país com 28 anos pra lá.
Voltando ao clássico desta tarde, espero que os jogadores pensem apenas em jogar bola e deixem qualquer tipo de provocação de lado. Houve aquela fala do Gabigol de que “o Cruzeiro é o maior time de Minas”, e a resposta do zagueiro Lyanco, que não gostou nem um pouco disso. Penso que esse tipo de coisa deve ser evitada, para que os torcedores não se inflamem, pois aqui, se houver qualquer tipo de briga ou agressão, é cadeia na hora. O comportamento aqui deve ser exemplar, pois não estamos acostumados e ver violência. Cruzeiro e Atlético deverão fazer uma grande campanha. O Cruzeiro, muito mais pelo grupo que contratou. O Atlético, pela volta de Cuca, que sabe montar grandes equipes, mesmo com jogadores não badalados. Que seja um jogo bom, que os torcedores entendam que é começo de temporada e que o resultado é que o menos importará, mesmo a gente sabendo que nesse tipo de jogo, amistoso ou não, o torcedor quer ganhar, ainda mais sendo o primeiro clássico da temporada. Para nós, jornalistas, porém, é importante analisar as estratégias, a montagem das equipes e a forma de jogar. Esses jogos amistosos normalmente terminam empatados, e tomara que tenhamos um 3 a 3, por exemplo. No mais, um bom jogo para todos, na paz e na certeza de que o futebol mineiro terá uma temporada muito boa. Se no ano passado Atlético e Cruzeiro chegaram às finais e não ganharam taças, este ano promete ser bem diferente.