Ziraldo foi um dos primeiros a apoiar o projeto Sempre um Papo, de Afonso Borges
 -  (crédito: Arquivo Afonso Borges)

Ziraldo foi um dos primeiros a apoiar o projeto Sempre um Papo, de Afonso Borges

crédito: Arquivo Afonso Borges

O ADEUS AO HOMEM ABRAÇO

 

É impossível dissociar Ziraldo de alguns dos eventos e projetos que marcaram a história cultural de Belo Horizonte. Afonso Borges lembra, com emoção, que em 1986, logo no início do Projeto Sempre um Papo, recebeu o maior apoio de Ziraldo. "(Ele) pagou do próprio bolso o primeiro cartaz do Sempre um Papo, me deu um cartaz de presente, com uma faixa vermelha no meio e eu preenchia o nome dos convidados e saia pregando pela rua afora", recorda Afonso.

 

AMOR ÀS CRIANÇAS

 

Afonso diz que é muito difícil acreditar que uma pessoa com uma relação tão grande com a alegria, contentamento, com a satisfação, com o outro, como Ziraldo teve durante sua vida, morreu. "Fico me questionando se ele morreu ou vai morrer. Principalmente ele, que teve o foco de sua vida artística voltado para as crianças."

 

 

 

Na estreia de "Flicts", no Teatro da Cidade, Ziraldo, o elenco da peça e o diretor Pedro Paulo Cava

Na estreia de "Flicts", no Teatro da Cidade, Ziraldo, o elenco da peça e o diretor Pedro Paulo Cava

Arquivo Pedro Paulo Cava


PALAVRA DE ALEGRIA

 

Pela convivência de muitos anos com Ziraldo, Afonso lembra que o amigo sempre tinha uma palavra de alegria, uma palavra amorosa. "Brinco que Ziraldo para mim era o 'homem abraço'. Ele estava sempre com os braços abertos, me abraçando, perguntava como estava o Sempre um Papo, falando palavras de admiração", define o gestor cultural. A última participação dele no projeto Sempre um Papo foi em 2018. Um ano antes, esteve no lançamento do livro "Amiga música", do maestro Rodrigo Toffolo ilustrado por ele e Mig Mendes.

 


NO TEATRO

 

O diretor Pedro Paulo Cava também lamentou a morte de Ziraldo. "Um grande artista, um companheiro de muitas batalhas, um criador genial", elogiou em sua conta no Instagram. Nos anos 2000, Pedro Paulo dirigiu o espetáculo “Flicts”, baseado no primeiro livro de Ziraldo, lançado em 1969, que antecedeu "O Menino Maluquinho". "O Brasil vai ficando cada dia mais pobre de cérebros. Uma geração que vai nos deixando órfãos. Tristeza sem fim", escreveu. Pedro Paulo conheceu Ziraldo nos anos 1970, mas a admiração vinha desde os tempos de O Pasquim. O último encontro foi há seis anos, no Rio de Janeiro. "Ziraldo veio na estreia de 'Flicts' e voltou várias vezes. Nos encontrávamos na Casa dos Contos, na Cantina do Lucas."

 

AMADO POR GERAÇÕES

 

Entre os anos 1999 e 2000, Ziraldo esteve na equipe que fundou a revista Palavra, editada em Belo Horizonte. José Eduardo Gonçalves, que trabalhou do primeiro ao último número da publicação, reconhece a importância de ter trabalhado com o cartunista. "Ter trabalhado ao lado dele transformou a minha vida. Ter conhecido aquela combatividade, aquela alegria, aquela coragem, aquela ousadia, aquele talento apostando em uma publicação fora do eixo como ele gostava de falar e era o lema da revista, que precisava mostrar que o Brasil tinha muito mais cultura do que aquilo que era produzido no eixo Rio-São Paulo". José Eduardo lembra também que em 2011, ele esteve no Festival de Literatura de São João del-Rey. "Foi uma festa, uma alegria. Como ele era amado por todas as gerações. Incrível a alegria da criançada por aquele Menino Maluquinho que ele nunca deixou de ser." Pedro Paulo confessa ter admiração pela obra. "O traço é genial, inconfundível. Você não confundi Ziraldo com nenhum outro".

 

 

BEATRIZ

 

"Ziraldo foi um encontro com o Criador", assim define o maestro Rodrigo Toffolo, que teve o livro “Amiga música”, primeiro livro da Orquestra Ouro Preto, ilustrado por ele e Mig Mendes. "Que sorte a minha e dos milhares de fãs que, assim como eu, cresceram moldados pelas suas histórias e suas cores. Ziraldo intenso, imenso! Como herança a todos, fica seu legado imensurável, como recordação pessoal, eternizou na capa do livro minha filha Beatriz! Ô sorte!"

 

Ziraldo ilustrou o livro "Amiga música", do maestro Rodrigo Toffolo

Ziraldo ilustrou o livro "Amiga música", do maestro Rodrigo Toffolo

Íris Zanetti/divulgação