Gustavo Nolasco
Gustavo Nolasco
DA ARQUIBANCADA

O futebol continua o ópio de um mundo em completa barbárie

Na Copa do Mundo de Clubes, jogadores e torcedores estão PROIBIDOS de se posicionarem

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Niginho, Adelino e Tostão. O que esses três ídolos do Palestra/Cruzeiro, cada um a seu modo, fizeram em comum?

Antes de tentar responder, lanço mão de uma pausa abrupta, forte e desconfortável, como devem ser os convites às reflexões profundas e urgentes.

É inadmissível que qualquer ser humano siga resenhando, escrevendo, vendendo, consumindo ou vivendo o futebol de forma alienada e desconectada do contexto de catástrofe humanitária na qual o mundo está mergulhando neste instante.

Genocídios em curso; guerras planejadas de formas sórdidas; militarização para fins de dominação econômica; políticas declaradamente xenofóbicas, fascistas e extremistas que matam até crianças. Seja cruzeirense, adepto a outro clube ou mesmo apenas leitor de rabiscos literários sobre futebol, se não se indigna com tudo o que vem acontecendo, ao ponto de querer agir, me desculpe, mas você não passa de cúmplice ou idiota útil.

Obviamente, os de cérebro vazio, caráter duvidoso e engordados em privilégios, já no parágrafo anterior terão abandonado a leitura. Afinal, dirão: “agora esse cronista vagabundo vai resolver falar de política”.

A eles, digo: “Já vão tarde!”. Sem remorso, aliviado pela ausência e solidário aos que ficaram para as próximas linhas, pois, nós sabemos, não é “só” sobre “política”, mas sim, sobre o ato político de exercer o dever da cidadania, da solidariedade e da revolta contra as atrocidades em que o mundo está mergulhado.

O genocídio do povo palestino com técnicas nazistas empregadas por Israel. As guerras intermináveis em países africanos patrocinadas pela indústria das armas. A perseguição étnica institucionalizada nos Estados Unidos. As seguidas tentativas de golpes de estado cívicos-militares-milicianas na América Latina. A guerra por recursos energéticos na Ucrânia. A escalada de células neonazistas e neofascistas na Europa e no Brasil. Os ataques racistas em estádios da América do Sul e da Espanha.

Em meio a tudo isso, uma Copa do Mundo de Clubes onde jogadores e torcedores estão PROIBIDOS de se posicionarem contra qualquer uma dessas barbáries. O silêncio assombroso e asqueroso de clubes e federações milionários, com poder engajamento midiático que seria capaz de mobilizar bilhões de pessoas pelo mundo.

“A religião é suspiro da criatura oprimida, o coração do mundo sem coração e o espírito das condições sem espíritos. Ela é o ópio do povo”. O clássico pensamento do filósofo e economista Karl Marx na obra “Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, de 1844, ligando uma droga alucinógena ao poder de “emburrecer” e sufocar a indignação popular, que a religião possui, anos depois foi adaptada para descrever o mesmo poderio do esporte: “o futebol é o ópio do povo”.

“O futebol aliena e, no que se coloca o futebol neste plano exagerado, outras situações básicas para a vida do ser humano ficam esquecidas”, disse Tadeu Ricci, ex-jogador do Grêmio, ao jornal Mundo Jovem, na década de 1970.

Dito isso, vamos à resposta da pergunta inicial.

Em 1936, o atacante Niginho – primeiro ídolo da história do Palestra/Cruzeiro – defendia a Lazio, da Itália. O líder do governo fascista daquele país, Benito Mussolini, o convocou para servir na covarde guerra contra a Abissínia (Etiópia). Niginho se negou a combater o país africano e deixou a Itália.

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A Segunda Guerra Mundial atingia o auge em 1944. Adelino, lateral do Cruzeiro, também servia ao Exército. Convocado, seguiu para a trincheira de guerra na Itália. Lutou e venceu o exército fascista de Mussolini.

Nas décadas de 1960 e 1970, os Estados Unidos financiaram golpes militares na América Latina, promovendo a tortura e o assassinato de milhares de pessoas. Foi quando o Brasil venceu a Copa do Mundo do México. Tostão se negou a participar do encontro dos jogadores com o ditador Emilio Garrastazu Médici após a conquista do título.

Niginho Fantoni, Adelino e Tostão, cada um a seu modo, mostraram que é possível fazer do futebol lugar não de ópio, silêncio e censura, mas sim, de enfrentamento à barbárie humana.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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