Prato do Restaurante Alecrim -  (crédito: Arquivo pessoal/Isabela Lapa)

Prato do Restaurante Alecrim

crédito: Arquivo pessoal/Isabela Lapa

Fato é que o Espírito Santo é um destino que o mineiro adora, afinal, é um destino praiano, muito procurado nas nossas férias de verão.

Mas eu me lembro. como se fosse hoje, do dia que vi uma pousada, com vista para uma pedra deslumbrante e com um charme que me fez clicar na imagem para saber mais. A pousada da foto era a Rabo do Lagarto e a pedra era a famosa Pedra Azul, localizada em Domingos Martins, região serrana do Espírito Santo.

No mesmo instante, incluí o local na minha lista de destinos, com 2 focos iniciais: conhecer a pousada, que integra o Circuito Elegante, a revista que reúne as pousadas mais charmosas do Brasil e atesta a excelência de cada uma, e claro: apreciar a vista daquela pedra, que me impactou em todas as fotos e vídeos que vi.

A viagem aconteceu no final de janeiro e inúmeras surpresas gastronômicas vieram junto dela.

Primeiro, preciso esclarecer que a Pedra Azul é uma atração turística que integra a Rota do Lagarto, uma estrada turística de 8 quilômetros, que reúne, no seu entorno, várias pousadas e restaurantes. De todos os pontos é possível apreciar a formação de granito de 1822 metros de altitude, que muda de cor cerca de 36 vezes ao dia, de acordo com a incidência da luz solar, e muitas vezes adquire coloração azul, verde ou até amarela. É realmente espetacular.

Café da manhã com vista deslumbrante para a Pedra Azul, em Domingos Martins (ES)

Café da manhã com vista deslumbrante para a Pedra Azul, em Domingos Martins (ES)

Arquivo pessoal/Isabela Lapa

A viagem teria compensado pelo visual único da região e pela Pousada Rabo do Lagarto, que faz jus a toda a fama que recebe. É realmente uma experiência ímpar em conforto, personalização do atendimento, mimos ao cliente e claro: sabores.

O café da manhã é especial, servido de duas formas diferentes: ou no tradicional buffet, repleto de opções preparadas no local e com uso de ingredientes e produtos da região, ou em uma caixa intitulada Happy Box, que vem recheada de surpresas e pode ser servida em qualquer local da pousada.

Detalhe: o café não tem horário para acabar. Começa às 8h e é servido até o último hóspede, para que todos tenham a liberdade de acordar sem despertador.

Mas para fazer valer a experiência completa que o turista de hoje busca, lá também existe um restaurante com um menu completo e opções que fogem ao óbvio como Sorvete de Gorgonzola com Damasco e nozes, na cama de salada verde e tomate cereja, Capuccino de Cogumelo Paris ou Capeletti de Carne Seca com Molho Trufado.

Porém, o que aconteceu foi o seguinte: recebemos tantas indicações e sugestões quando estávamos na região, que acabamos encontrando bem mais do que fomos buscar.

A começar que a região tem fazendas produtoras de cafés que hoje são referência no Brasil e no mundo. Algumas delas contam com visitas e tours completos, como a Fazenda Camocim e a Contos do Ninho.

A Fazenda Camocim produz café orgânico, biodinâmico, certificado e cultivado sem agrotóxicos ou aditivos químicos. Mas o que torna o local alvo do olhar dos turistas é o seguinte: é lá que acontece a produção de um dos cafés mais exclusivos e caros do mundo: o Café do Jacu.

O nome Jacu vem da palavra Jacuaçu e significa pássaro que se alimenta de grãos. E esse foi o problema enfrentado pelos responsáveis pela fazenda, quando começaram a plantar café: a região era repleta de jacus, que comiam os melhores grãos de café, atrapalhando a colheita.

Em pesquisas acerca de soluções, eles decidiram se inspirar na história do Kopi Luwak, o café da Indonésia, considerado o café mais caro do mundo, que é produzido a partir da extração das fezes da civeta.

Depois de muitos testes e muitos erros, eles encontraram o caminho. O que acontece é o seguinte: o aparelho digestivo do Jacu separa apenas a primeira casca do café e o grão sai com as fezes.

Esses grãos são coletados e passam por um processo de pilagem que retira a segunda casca. Na sequência, acontece todo o processo de beneficiamento desses grãos, o que gera um café único e composto pelo blend dos 6 tipos de grãos plantados na Fazenda.

Como o Jacu também se alimenta de outros grãos e frutas, em especial frutas vermelhas, esses sabores também se misturam ao café, o que faz com que cada produção tenha um sabor único.

Vale destacar que esse café é produzido em micro lotes, são apenas mil quilos por ano. Porém, independente do café do Jacu, a Fazenda tem uma produção de cafés premiada, todos com pontuação acima de 84 pontos.

Outro café de qualidade que vale conhecer e participar do tour é o café Contos do Ninho, que já recebeu o título de terceiro melhor café do Brasil. A cafeteria Contos do Ninho fica na Villa Ulliana e tem um cardápio excepcional para um brunch ou um lanche da tarde, além de degustações de cafés.

No tour pela fazenda, intitulado Coffee Tour, eles apresentam todas as etapas de produção, desde o manejo de plantas, passando pela colheita seletiva, feita grão a grão, pelo processo de escolha, de beneficiamento, torra, rastreamento e torra. É uma imersão completa nesse universo tão rico e saboroso.

Além dessa imersão pelo mundo dos cafés, na região também existem excelentes restaurantes, como o Alecrim Cozinha Artesanal, que fica em uma casa charmosa, com um jardim bem intimista e oferece um cardápio de massas e risotos.

É uma cozinha autoral clássica e entre os sabores você vai encontrar, por exemplo, um Arroz de pato suculento, com lascas de coxa e sobrecoxa de pato cozidas lentamente num molho cheio de sabores e aromas, e com um leve sabor defumado do paio, e um Nhoque fritinho de baroa, com Ragu de ossobuco e raspas de gema curada.

Para os apreciadores de cervejas artesanais, a Barba Negra é uma parada interessante. Uma casa jovem, colorida, com programação de música ao vivo em alguns dias da semana, e um cardápio que oferece petiscos e carnes para compartilhar, além de pratos individuais.

No meio da tarde, se você for um apreciador de chocolates, a Ocakau Chocolates é uma chocolateria local, que também tem uma cafeteria. Os chocolates são produzidos com cacau fino, no estilo “bean do bar”, que significa “chocolate da amêndoa da barra”. A produção é sustentável, sem aditivo e sem adição de gorduras.

Você pode experimentar no local, enquanto aprecia um café, ou pode comprar para presentear. Uma pausa que vale a pena, até porque, como sempre, o visual é a Pedra Azul, que na hora que estávamos por lá apresentava uma coloração amarelada, quase dourada, realmente impactante.

Na hora de retornar a Belo Horizonte, inclua uma passadinha rápida no Sítio Lorenção, em Venda Nova do Imigrante, para que possa conhecer o Socol, um tipo de presunto cru, do Norte da Itália, que foi trazido para o Brasil no século XIX, pelos avós do Lorenzo Carnielli, responsável pelo sítio, que até hoje prepara a iguaria com a receita original.

É um presunto feito com lombo de porco e especiarias, maturado de 5 a 6 meses em um ambiente frio e úmido.

Antes de comprar, você pode degustar para sentir o sabor do produto que é único no mercado e recebeu, no ano de 2018, o certificado de Indicação Geográfica (IG), que é um reconhecimento dessa unicidade.

A verdade é que nesse passeio descobri um Espírito Santo muito diferente daquele praiano, mas igualmente encantador.

Vale pegar a estrada e desbravar tudo isso!

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