drone -  (crédito: pixabay)

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Temos um novo personagem no pedaço. Chegou de mansinho, como quem queria só brincar. Uma pipa eletrônica do Riquinho Rico, o menino mais rico do mundo. Aos poucos, foi ganhando asas e altura. Passou a ver o mundo de cima para baixo. Imagens incríveis da boca de um vulcão e de um mergulho, até então impossível em larvas incandescentes vindas diretamente do tártaro. Chegaram ao campo semeando capim, contando bois, achando pragas em lavouras e orientando onde pulverizar o veneno que mais tarde haveríamos de degustar em nossas mesas.


Olhos atentos acham bandidos em favelas, sem serem percebidos. Localizam bocas de fumo há muito conhecidas das comunidades. A tudo veem e vigiam, mas não percebem a patologia social crônica das mãos que carregam o fuzil.

 


Em breve, teremos o I Food- Air substituindo motoqueiros e comprometendo a doação de órgãos. Pizzas, sanduíches e todo tipo de “deliever” cairão do céu sobre bocas famintas. Milagre de bodoques certeiros de meninos com infância de verdade.


Zangão desajeitado a fecundar a curiosidade humana e bisbilhotar a intimidade alheia. Paparazzis voadores já denunciam marcas de biquíni, sem biquíni de celebridades passageiras.


Como a evolução não para, uma empresa asiática haverá de inventar o Micro-drone íntimo 2.0 - equipamento destinado a higiene pessoal de tecnologia “no-touch”. Ao mesmo tempo que substitui o papel higiênico e preserva árvores, inspeciona se sua prega mestra continua intacta. Super útil!


Nem o Aedes escapa dos olhos epidemiológicos atentos que acham manjedouras de mosquitos em lotes vagos, caixas d’água destampadas e prédios públicos abandonados. Sempre estiveram onde sabíamos que estavam, mas agora vimos do alto, filmamos, fotografamos e jogamos pílulas mortíferas para o mosquito e, quem sabe, para outros seres que heroicamente também vivem naquele peridomicílio.


Voando alto, acham rachaduras em arranha-céus e fissuras intratáveis nas relações humanas vivendo dentro deles. Barro apodrecendo aos poucos sob a concretude de alicerces mal fundados.


Rapidamente, drones humanizaram-se de vez. Agora são armas de guerra. Cavalaria alada capaz de se tornarem imperceptíveis ao radar do inimigo e de atingi-lo de pijama em alcova amorosa em plena madrugada. Estratégia bélica para deixar Napoleão morrendo de inveja. Josefina é que não teria sossego.


Centenas de VARPs ( veículos aéreos remotamente pilotados) iluminaram os céus da Terra Santa. Onde outrora brilhara a Estrela de Belém, agora assistimos atônitos ao jogo macabro do ódio milenar “tecnologizado”: Drones X Domo de Ferro, Seta x Míssil.


Imediatamente, surgirão torcidas organizadas dos dois lados. Camisetas, bonés, canecas e fotos dos principais lances em breve estarão à venda e disponíveis pelas redes sociais.


A Guerra-bet distribuirá prêmios milionários para quem acertar o resultado do embate. Haverá premiações secundárias para os acertadores do Drone artilheiro e do Domo menos vazado.


Resenhas intermináveis acontecerão 24 horas por dia nos principais canais de TV. Especialistas em guerra eletrônica e videogame serão chamados para avaliar estratégias e predizer o futuro.


O Campeonato da Insensatez Milenar (CIM), por coincidência, começou junto com o Brasileirão 2024 nesse último sábado. A única diferença é que um tem VARP e o outro tem VAR. Tecnologias tendenciosamente orientadas pelos olhos repletos de conflitos de interesses não declarados.


Uma criança beduína atingida em pleno deserto por estilhaços de drones incandescentes e a coxa do Zaracho foram as grandes vítimas da cegueira de quem tudo vê e nada enxerga.


O mundo viu! Guerra, morte e injustiça que sigam por lá! Enquanto estilhaços de hipocrisia estiverem caindo no deserto alheio e não no ninho do Urubu, do Gavião, da Águia ou na casa dos Aiatolás e Messias radicais, tudo normal. Segue o jogo!