

Drone
Onde outrora brilhara a Estrela de Belém, agora assistimos atônitos ao jogo macabro do ódio milenar "tecnologizado"
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

Temos um novo personagem no pedaço. Chegou de mansinho, como quem queria só brincar. Uma pipa eletrônica do Riquinho Rico, o menino mais rico do mundo. Aos poucos, foi ganhando asas e altura. Passou a ver o mundo de cima para baixo. Imagens incríveis da boca de um vulcão e de um mergulho, até então impossível em larvas incandescentes vindas diretamente do tártaro. Chegaram ao campo semeando capim, contando bois, achando pragas em lavouras e orientando onde pulverizar o veneno que mais tarde haveríamos de degustar em nossas mesas.
Olhos atentos acham bandidos em favelas, sem serem percebidos. Localizam bocas de fumo há muito conhecidas das comunidades. A tudo veem e vigiam, mas não percebem a patologia social crônica das mãos que carregam o fuzil.
26/03/2024 - 00:00 Estrela cadente 02/04/2024 - 04:00 Judas e os fungos 09/04/2024 - 04:00 Mutantes
Em breve, teremos o I Food- Air substituindo motoqueiros e comprometendo a doação de órgãos. Pizzas, sanduíches e todo tipo de “deliever” cairão do céu sobre bocas famintas. Milagre de bodoques certeiros de meninos com infância de verdade.
Zangão desajeitado a fecundar a curiosidade humana e bisbilhotar a intimidade alheia. Paparazzis voadores já denunciam marcas de biquíni, sem biquíni de celebridades passageiras.
Como a evolução não para, uma empresa asiática haverá de inventar o Micro-drone íntimo 2.0 - equipamento destinado a higiene pessoal de tecnologia “no-touch”. Ao mesmo tempo que substitui o papel higiênico e preserva árvores, inspeciona se sua prega mestra continua intacta. Super útil!
Nem o Aedes escapa dos olhos epidemiológicos atentos que acham manjedouras de mosquitos em lotes vagos, caixas d’água destampadas e prédios públicos abandonados. Sempre estiveram onde sabíamos que estavam, mas agora vimos do alto, filmamos, fotografamos e jogamos pílulas mortíferas para o mosquito e, quem sabe, para outros seres que heroicamente também vivem naquele peridomicílio.
Voando alto, acham rachaduras em arranha-céus e fissuras intratáveis nas relações humanas vivendo dentro deles. Barro apodrecendo aos poucos sob a concretude de alicerces mal fundados.
Rapidamente, drones humanizaram-se de vez. Agora são armas de guerra. Cavalaria alada capaz de se tornarem imperceptíveis ao radar do inimigo e de atingi-lo de pijama em alcova amorosa em plena madrugada. Estratégia bélica para deixar Napoleão morrendo de inveja. Josefina é que não teria sossego.
Centenas de VARPs ( veículos aéreos remotamente pilotados) iluminaram os céus da Terra Santa. Onde outrora brilhara a Estrela de Belém, agora assistimos atônitos ao jogo macabro do ódio milenar “tecnologizado”: Drones X Domo de Ferro, Seta x Míssil.
Imediatamente, surgirão torcidas organizadas dos dois lados. Camisetas, bonés, canecas e fotos dos principais lances em breve estarão à venda e disponíveis pelas redes sociais.
A Guerra-bet distribuirá prêmios milionários para quem acertar o resultado do embate. Haverá premiações secundárias para os acertadores do Drone artilheiro e do Domo menos vazado.
Resenhas intermináveis acontecerão 24 horas por dia nos principais canais de TV. Especialistas em guerra eletrônica e videogame serão chamados para avaliar estratégias e predizer o futuro.
O Campeonato da Insensatez Milenar (CIM), por coincidência, começou junto com o Brasileirão 2024 nesse último sábado. A única diferença é que um tem VARP e o outro tem VAR. Tecnologias tendenciosamente orientadas pelos olhos repletos de conflitos de interesses não declarados.
Uma criança beduína atingida em pleno deserto por estilhaços de drones incandescentes e a coxa do Zaracho foram as grandes vítimas da cegueira de quem tudo vê e nada enxerga.
O mundo viu! Guerra, morte e injustiça que sigam por lá! Enquanto estilhaços de hipocrisia estiverem caindo no deserto alheio e não no ninho do Urubu, do Gavião, da Águia ou na casa dos Aiatolás e Messias radicais, tudo normal. Segue o jogo!
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.