Anna Marina*
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Vaidade infantil: criança não acorda pensando em rotina de skincare

Meninada não liga para hidratação profunda, controle de oleosidade ou 'glow natural'. A indústria plantou essa ideia. E os adultos dão força a essa loucura

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Muito tem se falado sobre a adultização de crianças que tem exposto a meninada a comportamentos, responsabilidades, expectativas e padrões estéticos que não são próprios para a idade delas. Isso interrompe as etapas naturais do desenvolvimento infantil e pode trazer sérios impactos ao desenvolvimento emocional e psicológico dos pequenos.

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Uma das áreas que mais tem se destacado é a que envolve a vaidade e que tem sido muito estimulada pelas mães. E o mundo dos produtos de beleza estão investindo pesado neste ramo. Há séruns iluminadores, tônicos “calmantes” e paletas de sombras para crianças de 6 anos. Fora os salões de beleza especializados.

O discurso é embalado como autocuidado, criatividade, liberdade de expressão. Mas, sob essa camada de glitter, existe uma pressão adulta que se infiltra cada vez mais cedo na vida dos pequenos. É inquietante perceber como o mercado encontrou, na infância, sua nova frente de crescimento.


Não falo de brinquedos ou fantasias, mas criaram rotinas de skincare que imitam as de influenciadoras adultas, com etapas, nomes técnicos e promessas de benefícios que uma pele infantil simplesmente não precisa – e jamais pediu.

A criança não acorda pensando em hidratação profunda, controle de oleosidade ou “glow natural”. A indústria plantou essa ideia. E os adultos estão dando força a essa loucura.


É perturbador ver crianças incorporando uma linguagem estética totalmente deslocada da idade. Meninas de 8 anos falando sobre “poros dilatados”, garotos de 9 comparam “textura da pele”. É um vocabulário que não deveria fazer parte da formação dos pequenos. A infância está sendo trocada por um tutorial.
E não é possível ignorar o papel das redes sociais. Elas estão transformando crianças em personagens – e personagens vendem.

As “kidfluencers” são vitrines ambulantes de consumo precoce. A espontaneidade virou pose, a brincadeira virou conteúdo, e o conteúdo virou propaganda. Se a maquiagem infantil antes aparecia só no carnaval, hoje ela está em vídeos cuidadosamente editados, com ring lights e hashtags. É uma infância “instangramável”, mas frágil.


Há quem argumente que é apenas diversão, que maquiagem sempre fez parte de brincadeiras. Mas não estamos falando de um batom da mãe escondido na gaveta, falamos de produtos com marketing profissional, embalagens irresistíveis que associam beleza a valor pessoal. E de uma geração que cresce sendo filmada, avaliada, curtida e comparada.

O que mais me espanta é o silêncio confortável dos adultos. Pais compram porque “todas as amigas têm”. Marcas lançam porque “é o que o público pede”. Plataformas permitem porque “gera engajamento”. Tudo pelo lucro.


A infância não precisa de skincare. Precisa de tempo, liberdade, sujeira, criatividade, imaginação. Precisa do direito de crescer sem a sombra constante de um padrão impossível. A infância não é um nicho de mercado, ou não deveria ser.


* Isabela Teixeira da Costa / Interina

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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