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Quando as viagens de avião começaram as passagens custavam bem mais caras. Os voos eram mais sofisticados no que diz respeito ao serviço de bordo. Nos saguões dos terminais, o que se via eram poucas pessoas e a maioria vestida elegantemente.
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Tenho uma amiga que dizia que mulher que queria arrumar um bom partido deveria ir para o aeroporto com um bom livro, sentar e ficar lendo, como quem não quer nada. Era batata. Hoje ela fala que agora o point são velórios de gente importante. Morri de rir (por dentro) quando fui a um velório outro dia e vi várias mulheres elegantíssimas andando de um lado para outro, parecia mais um desfile.
Depois de anos, a coisa mudou. O serviço de bordo virou o “self e vire-se”. Com passagens mais acessíveis e milhas passando a valer, o número de passageiros cresceu. Os aeroportos ficaram mais cheios. E a elegância cedeu espaço para o conforto. As pessoas passaram a viajar de moletom e tênis.
Agora, com as redes sociais, a coisa está mudando de novo. O que antes era um território marcado por moletom, olheiras e a sensação coletiva de derrota após arrumar malas às pressas, agora se transforma em passarela improvisada. Os aeroportos viraram palco de uma espécie de “realidade paralela fashion”, impulsionada por influenciadores, celebridades e pelo mantra contemporâneo: “a vida é conteúdo”.
Os criadores de moda pedem a seus seguidores que se “produzam” para viajar. Usem alfaiataria leve, óculos dramáticos, casaco longo. “Você nunca sabe quem vai encontrar.” Pode ser uma pessoa importante que pode te beneficiar ou parar no seu feed e garantir alguns milhares de likes.
E não é que está colando. Passageiros circulam como quem desfila, empurrando a mala com a mesma concentração com que modelos seguram uma clutch. O aeroporto está virando símbolo máximo do “estamos em trânsito” e, por isso, somos observáveis sem contexto. Como se fosse o habitat perfeito para a autopromoção espontânea – temos que estar bem-vestidos, maquiados, de salto alto.
E há, claro, o efeito psicológico. Arrumar-se para viajar parece elevar a experiência banal de ficar horas numa fila para embarcar. É como se a roupa conseguisse amenizar o caos da conexão perdida ou o preço inacreditável de uma água mineral no terminal.
Claro que nem todo mundo tem vontade de posar nos corredores do check-in e segue na linha do conforto. Mas verdade seja dita: se a vida insiste em nos observar, para quem gosta, não custa nada caprichar na roupa. Afinal, nunca se sabe mesmo quem você vai encontrar no portão de embarque...
* Isabela Teixeira da Costa / Interina
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
