Largada antecipada

A prova de Stock Car em BH se tornou uma pedra no sapato na tentativa de unificação de uma candidatura de centro-esquerda à Prefeitura da capital mineira. Apenas um dia após anunciar oficialmente sua pré-candidatura, o prefeito Fuad Noman (PSD) se viu alvo de críticas pesadas de candidatos do campo progressista, que nos bastidores vinham considerando uma possível aliança para consolidar uma frente contra o bolsonarismo. Os ataques se intensificaram após a PBH iniciar o corte de 50 árvores no entorno do Mineirão para que o evento automobilístico possa ser realizado em agosto.

Até então, Fuad vinha exercendo um mandato sem grandes polêmicas, envolvido apenas em divergências com o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (sem partido). Com o início da definição do grid da corrida à prefeitura, porém, ele foi alvo até de montagens caricatas empunhando uma motosserra e derrubando árvores.

Os ataques mais pesados vêm da deputada federal Duda Salabert (PDT). Pré-candidata à PBH, ela enfrenta o desafio de consolidar seu nome em um campo ideológico que, no momento, conta com seis nomes lançados. Duda rotulou Fuad como “assassino de árvores”, além de tentar impedir a realização da corrida por meio de recursos judiciais e junto ao Tribunal de Contas do Estado, questionando a licitação.

Outros pré-candidatos à prefeitura, como o deputado federal Rogério Correia (PT) e as deputadas estaduais Bella Gonçalves (Psol) e Ana Paula Siqueira (Rede), também se posicionaram contra a derrubada. Rogério e Bella inclusive debateram o tema na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), onde acusaram o prefeito de BH de agir contra o meio ambiente.

Com isso, a polêmica deixou momentaneamente mais complexa a missão do presidente Lula (PT) de repetir em BH, este ano, a frente ampla que obteve nas eleições ao Planalto em 2022. Vale ressaltar que Fuad, Duda, Rogério, Bella e Ana Paula fazem parte de partidos aliados ao presidente. Setores do PT mineiro acreditam que a estratégia de Lula será pragmática, apoiando a reeleição de Fuad, em acordo costurado com o PSD do senador Rodrigo Pacheco e do ministro Alexandre Silveira. O fato vem desagradando Correia, que em uma tentativa de impulsionar seu nome, lançou oficialmente sua candidatura na última quinta-feira), ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e de ministros como Alexandre Padilha.

Uma aliança com Duda, ainda no primeiro turno, parece agora bem mais distante. Com 208 mil votos, sendo a terceira deputada mais votada em 2022, a parlamentar tem radicalizado as críticas ao prefeito. E isso antes mesmo do corte de árvores: ela fez discursos contra Fuad em cima do trio elétrico no carnaval.

Apesar da complexidade do assunto, a relação do prefeito com o presidente parece a todo vapor. Fuad, que subiu no palanque de Lula no segundo turno da eleição presidencial contra Bolsonaro, espera a troca de favores. No início de fevereiro, os dois posaram para fotos juntos, e o prefeito marcou presença em um evento de Lula realizado na capital.

Na ocasião, o governo federal e a PBH anunciaram um acordo que vai liberar R$ 65 milhões para obras no Anel Rodoviário. Os recursos virão do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC-3) para a primeira fase do planejamento das obras: a construção de alças de acesso entre o Anel e a BR-040 e a ligação com a Via Expressa.

Além disso, Fuad também assinou o repasse do governo federal de 17% do terreno do Aeroporto Carlos Prates para a prefeitura. A área ficará sob responsabilidade do município por 20 anos. O prazo poderá ser prorrogado. O local será destinado ao Parque Público Maria do Socorro Moreira, cabendo à PBH a responsabilidade pelas obras.

Enquanto os aliados ideológicos se enfrentam em uma arena repleta de acusações, o deputado estadual Bruno Engler (PL), escolhido por Jair Bolsonaro para disputar a PBH, nem ao menos chegou a tocar no assunto da Stock Car. O mesmo aconteceu com o senador Carlos Viana (Podemos), que até o momento, não se posicionou sobre o evento.

NOTAS

Notícias e Babados

A página "Notícias e Babados", conhecida por ataques à deputada Lohanna (PV) e políticos de oposição ao prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (Novo), foi criada no terceiro andar da prefeitura, enquanto a criadora, Vanessa Bernardes, ocupava um cargo comissionado na Secretaria de Governo. As investigações estão sendo conduzidas pela Polícia Civil. Em março de 2023, Lohanna já havia denunciado que Vanessa, exercendo a função de assessora de monitoramento de mídias sociais na Secretaria de Governo de Divinópolis, estava em plena campanha para o irmão do prefeito, o senador Cleitinho Azevedo, de olho na eleição para o governo de Minas em 2026.

Denúncia

Lohanna diz que a faz reiterados ataques pessoais, inclusive criando conversas fictícias para atacá-la. “Já postou coisas que extrapolam e muito o debate político, situações que expõem inclusive a minha segurança. Fiz uma denúncia na Polícia Civil e eles apuraram onde a página foi criada, a partir da quebra de sigilo. O endereço é da Prefeitura de Divinópolis”, afirma a deputada.

Consul

O governador Romeu Zema (Novo) optou por evitar polêmicas em seu discurso no Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), desta vez, priorizando a segurança pública. Sua intervenção na 10ª edição do evento marcou uma mudança de tom em relação às últimas. Isso porque, durante o encontro realizado em Belo Horizonte no ano passado, Zema destacou que, “diferentemente de outros estados, os sete integrantes do Cosud têm uma proporção maior de pessoas que trabalham em vez de dependerem de auxílio emergencial”.

Minas e Energia

Em cumprimento à determinação do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a Agência Nacional de Mineração (ANM) regularizou os pagamentos atrasados e manteve ontem o calendário de repasses aos municípios produtores e afetados pela extração mineral. Minas Gerais destacou-se como o estado que mais recebeu recursos, totalizando R$ 72.083.013,70 (sendo R$ 47.601.887,54 destinados aos municípios produtores e R$ 24.481.126,25 para os municípios afetados pela extração mineral).