Entenda a diferença entre desperdício de energia e esforço
Cobrar-se sem cessar, querer agradar a todos, sustentar expectativas que não são nossas, tudo isso consome energia, mas não gera resultado
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Chega o fim do ano e, com ele, um convite quase inevitável ao excesso. Excesso de encontros, compromissos, listas de tarefas, metas, balanços, expectativas. Tudo parece urgente, tudo parece importante. A vida acelera. Seja na esfera pessoal ou profissional, tudo acontece ao mesmo tempo, como se houvesse a obrigação de dar conta de tudo antes que o ano termine. Entramos em modo automático, respondendo às demandas sem refletir sobre o que realmente importa.
Nesse ritmo intenso, uma pergunta precisa ser feita com honestidade: onde, de fato, estou colocando a minha energia? Compreender a diferença entre esforço e desperdício de energia pode nos ajudar a responder.
Muitas pessoas se esforçam diariamente, dão o seu melhor, cumprem tarefas, assumem responsabilidades, sustentam rotinas exigentes e, ainda assim, sentem que não saem do lugar. Existe cansaço, mas não há progresso percebido. Existe entrega, mas não há retorno interno. Essa sensação de estagnação, muitas vezes, não está ligada à falta de dedicação, mas à direção em que essa dedicação está sendo investida.
Esforço é investir energia naquilo que está alinhado com valores, escolhas e objetivos reais. Ele nasce quando existe coerência entre o que se faz e o que se deseja construir. O esforço pode cansar o corpo, exigir disciplina, pedir renúncias, mas gera aprendizado, fortalece a autoestima, amplia a consciência e, com o tempo, traz resultados. Estudar para realizar um sonho, cuidar da própria saúde, nutrir relações que importam, tudo isso exige esforço. E, ainda assim, esse esforço sustenta, porque há sentido nele.
Já o desperdício de energia acontece quando insistimos em algo que não nos leva adiante. É quando lutamos constantemente por aprovação, permanecemos em relações que drenam, repetimos padrões que apenas desgastam ou tentamos controlar o que não está sob o nosso alcance. Cobrar-se sem cessar, querer agradar a todos, sustentar expectativas que não são nossas, tudo isso consome energia, mas não gera resultado. O desperdício se revela na exaustão constante, na irritação frequente, na sensação de estar sempre ocupado e, ao mesmo tempo, vazio, atrasado, inadequado e “devendo”.
Nem todo esforço gera avanço, e nem todo cansaço é sinal de crescimento. Há momentos em que o que chamamos de dedicação é apenas insistência em um lugar que já não nos preenche. Outras vezes, mantemos a mesma direção por medo de parar, por receio de decepcionar, por apego ao passado ou pela dificuldade de aceitar que já é hora de escolher diferente.
A diferença não está no quanto você se esforça, mas no sentido daquilo em que coloca a sua energia. O fim de um ciclo não pede apenas novas metas. Ele pede revisão de direção, honestidade interna e coragem para reconhecer onde e como temos direcionado a nossa energia, e se ela está sendo convertida em ganho ou em perda.
Costumo dizer no consultório que tudo o que pesa precisa ser revisto. O que é difícil faz parte do crescimento. O que é pesado, muitas vezes, é sinal de desalinhamento. Quando a energia encontra direção, até os desafios ficam mais leves de sustentar.
Talvez o verdadeiro movimento de fim de ano não seja fazer mais, mas escolher melhor. Escolher com mais consciência onde colocar a própria força, o próprio tempo, a própria atenção.
Vale observar com mais sinceridade onde você vem gastando energia à toa. Em preocupações que não se tornam fatos. Em relações que apenas drenam. Em cobranças que não geram crescimento. Em tentativas de controle que só produzem ansiedade. Aquilo que não gera realização, invariavelmente, gera desgaste.
Muitas pessoas não estão cansadas por fazerem demais, estão cansadas por insistirem demais em lugares errados. Cansadas de provar, de sustentar, de se explicar, de se adaptar além do que é saudável. O corpo sinaliza. A emoção pesa. A vida fica densa. E, ainda assim, seguimos chamando de esforço aquilo que, na verdade, já se transformou em desperdício de energia.
O fim de um ciclo é sempre uma oportunidade de reorganização interna. Não apenas de metas, mas de rotas. De escolhas. De prioridades. Antes de perguntar o que você quer conquistar no próximo ano, talvez seja mais honesto se perguntar o que você precisa parar de sustentar.
Onde você vem se esforçando de verdade para crescer e onde vem apenas se desgastando para manter o que já não faz sentido? O que, hoje, consome a sua energia sem devolver vida em troca? Por que você faz o que faz?
Talvez aí esteja um dos movimentos mais importantes deste fim de ano: aprender a retirar a energia dos lugares errados e devolvê-la, com cuidado, ao que realmente importa.
Porque a vida não pede apenas mais energia. Ela pede mais direção.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
