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Estado de Minas MERCADO

Entenda por que (diabos!) os carros estão tão caros no Brasil?

Levantamento feito com sete modelos de diferentes segmentos vendidos no Brasil revela que, no período de um ano, o preço subiu em média 22%


19/06/2021 04:00

Jurássico VW Gol, projeto ultrapassado e mais do que pago ao longo dos anos pode passar dos R$ 80 mil na versão de topo(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D. A Press)
Jurássico VW Gol, projeto ultrapassado e mais do que pago ao longo dos anos pode passar dos R$ 80 mil na versão de topo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D. A Press)


Que os veículos de passeio são muito caros no Brasil, todos já sabem. Mas, estávamos desacostumados com reajustes tão frequentes nos preços dos carros. Um levantamento feito pela consultoria Carcon Automotive com sete modelos de diferentes segmentos vendidos no nosso mercado (Renault Kwid, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Toyota Corolla, Honda Fit, Toyota Hilux e Chevrolet Tracker), entre maio de 2020 e maio de 2021, revela que houve reajuste médio de 22% no preço. Mas, o que está por trás disso?

É claro que a pandemia de COVID-19 tem boa parcela de culpa para esses reajustes mais recentes. A falta de componentes vem prejudicando a produção desde o início, consequência do fechamento de fábricas e concessionárias, assim como toda a cadeia de fornecedores, seguido de um repentino aumento da demanda. Pela lei da oferta e da procura, os preços subiram.

Hoje, a grande preocupação é a escassez dos semicondutores, amplamente usados na eletrônica dos veículos, tendo paralisado a produção de montadoras importantes como Chevrolet, Volkswagen, Fiat e Honda. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículo Automotores (Anfavea), este problema pode afetar 5% do volume da produção mundial, e foi agravado por uma crescente demanda de semicondutores para a fabricação de produtos das áreas de computação, telecom, eletroeletrônicos e smartphones.

Um aspecto que tem pesado bastante no preço dos veículos é o câmbio, com o dólar caríssimo e o real bastante desvalorizado. De acordo com Julian Semple, consultor da Carcon, de janeiro de 2020 a maio de 2021, a cotação do dólar subiu 29%. E isso não afeta apenas os modelos importados. Mesmo para os produtos fabricados aqui existem vários componentes que são importados, elevando o preço da transação.

As commodities também são diretamente afetadas pelo dólar, como o aço (que subiu 70% em 2020) e a resina plástica (derivada do petróleo). Outro movimento que existe é uma crescente inflação, como aponta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 8% registrado entre maio de 2020 e maio de 2021.

Outro motivo que vem elevando o valor dos veículos ao longo dos anos é a evolução dos projetos nos quesitos segurança e emissões veiculares, quase sempre por força de lei, como a exigência de airbags frontais e freios ABS a partir de 2014. Porém, o mercado também ajuda a elevar o nível dos projetos, principalmente em conectividade. De acordo com Paulo Cardamone, da Bright Consulting, atualmente, o tíquete médio de um veículo de passeio no Brasil é de R$ 95 mil. Há três anos, era de R$ 75 mil, com valores corrigidos.

Um fator histórico que sempre jogou para as alturas o preço dos veículos no Brasil é a alta carga de impostos, que, no caso dos automóveis, ficam na casa dos 40%, em média. Esse é o principal argumento usado pelos fabricantes para justificar o preço dos carros, e se junta a outros tantos, inclusos em um pacote chamado custo Brasil, como os elevados custos trabalhistas, infraestrutura precária e insegurança jurídica, fatores frequentemente citados pela Anfavea.

Outro agente histórico é o enorme apetite dos fabricantes pelo lucro. Mas esse assunto é uma verdadeira caixa-preta, que as montadoras nunca abrem. Apesar desse histórico, de acordo com Julian Semple, que analisou o balanço de várias empresas automotivas, há alguns anos fabricantes operam no prejuízo na região, situação que piorou com a pandemia.

Hoje, a capacidade produtiva instalada no Brasil é de 5 milhões de automóveis por ano, enquanto a demanda não vai chegar nem à metade. O consultor da Carcon Automotive explica que, por volta de 2010, a expectativa era alcançar esse número, mas a demanda foi caindo. Ainda assim, Julian acredita que os fabricantes esperam por uma melhora desse cenário.


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