
Como você analisa a dona Genu, de Éramos seis?
Ela fica o dia inteiro de olho no que está acontecendo na vizinhança, mas não é maledicente. Não comenta com ninguém, não passa a informação adiante. É como se fosse a novela que ela assiste. Na época, não tinha rádio, então é uma dona de casa que cuida da vida dos outros.
Você se inspirou em alguém para compor a Genu?
Pesquisei fofoqueiras e vi personagens maravilhosos. Tem uma coisa que é o meu modo de composição: estudo, mas tem muita coisa na personagem do que eu observo sempre. Ator faz um recorte da realidade um pouco diferente dos outros. Conheci muitas dessas mulheres. Por exemplo, uma prima da minha mãe era tão fofoqueira que inventou um termo com o nome dela que significava fofoca. Não digo como ela se chama, porque posso contar a história, mas não entrego o santo!
Fofoca é algo que existia em 1920, 1930, 1940 e continua até hoje. Para você, o que mudou de lá pra cá?
Se internacionalizou, porque você está aqui e sabe das fofocas do outro lado do mundo. Na cidade onde moram os meus pais, deu um problema quando surgiu o Facebook. Lá é uma cidade muito pequena, com 14 mil habitantes. Quando essa rede social chegou lá, foi complicado. Aquilo que era falado do outro, na intimidade, passou a ser explanado para todos. Então, as pessoas deixaram de se falar.
E como você é quando contam alguma fofoca?
Quando alguém me conta alguma coisa e pede para, pelo amor de Deus, não dizer a ninguém, eu esqueço. Os meus amigos mais antigos percebem isso com clareza. Tem uma que, toda vez que fala "se lembra daquela vez", eu pergunto 'que vez?'. E, aí, ela tem de me falar a história de novo, porque realmente esqueço.
