IA

A principal preocupação são informações imprecisas e baixa qualidade.

MARCO BERTORELLO/AFP

Seis meses após o lançamento da versão de teste do ChatGPT, a Wan-Ifra (Associação Mundial de Editores de Notícias) constatou que cerca de 49% das redações jornalísticas ao redor do mundo já estão utilizando inteligência artificial generativa. A pesquisa, conduzida pela consultoria Schickler, ouviu 101 profissionais, incluindo editores e repórteres, e revelou que apenas 20% das redações implementaram diretrizes específicas para o uso dessas ferramentas.

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A principal preocupação dos entrevistados é a possibilidade de informações imprecisas e baixa qualidade do conteúdo (85%), seguida por plágio ou violação de direitos autorais (65%). A ameaça ao emprego foi mencionada por 38% dos participantes. Até o momento, os usos mais comuns da IA generativa são a criação de texto (54%), ainda que limitada e sem gerar conteúdo original; pesquisa simplificada (44%); correção de texto e aprimoramento de fluxos de trabalho (43%); e criação de conteúdo e tradução (32%).

A pesquisa também levantou preocupações entre os profissionais quanto ao uso de IA generativa para pesquisa e criação de conteúdo, tendo em vista relatos recentes de que o ChatCPT pode, em alguns casos, inventar informações. No entanto, 70% dos entrevistados veem um futuro promissor para essas ferramentas no jornalismo. Dean Roper, diretor da Wan-Ifra, afirmou que os resultados mostram "um cenário de otimismo, ceticismo e experimentação em andamento".
 

Em três semanas, a Wan-Ifra realizará o Congresso Mundial de Jornalismo em Taipé, com a participação de editores de jornais como The New York Times e South China Morning Post, de Hong Kong. O evento é organizado pelo Lianhe Bao (United Daily News), maior grupo privado de mídia em Taiwan. No congresso anual da Inma (International News Media Association), realizado na semana passada em Nova York, as primeiras experiências com IA generativa também foram destaque.
 
A.G. Sulzberger, publisher do The New York Times, foi um dos críticos mais contundentes, alegando que a inteligência artificial pode gerar uma enxurrada de conteúdo de baixa qualidade e prejudicar o ecossistema de informação. Ele mencionou vídeos de 'deep fake' já presentes na pré-campanha presidencial americana como exemplo dessa tendência. Sulzberger e Fred Ryan, do Washington Post, anunciaram a criação de comissões para estudar o assunto.
 
Profissionais como Catherine So, do SCMP, e Praveen Someshwar, do Hindustan Times, também participaram das discussões. Algumas publicações de referência, como Financial Times e Reuters, já tornaram públicos seus planos para o uso de IA, buscando aumentar a produtividade e permitir que repórteres e editores se concentrem na produção de conteúdo original. O Centro Tow, da principal escola de jornalismo dos EUA, Columbia, alertou para o 'hype' em torno do ChatGPT e defendeu abordagens mais nuanciadas e contextualizadas.