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Estado de Minas

Governo brasileiro ignora poder das redes sociais

Apesar de criar perfis nos sites de relacionamentos, instituições do setor público usam serviços só como reprodutor de notícias e deixam de lado transparência e interação com o cidadão


postado em 15/09/2011 10:34 / atualizado em 15/09/2011 12:02

“Amigos, muito legal ser tão lembrada no Twitter em 2010. Logo eu, que tive tão pouco tempo para estar aqui com vocês. Vamos conversar mais em 2011.” Esse foi o último tuíte, postado em dezembro do ano passado pela então recém-eleita presidente Dilma Rousseff, que costumava responder aos eleitores pelo microblog. Desde essa época, a comunicação e a transparência no relacionamento entre a população e a autoridade ficaram restritas – praticamente inexistentes – aos sites de órgãos oficiais. Ao acessar qualquer endereço ligado ao governo, como o Blog do Planalto (no qual nem é possível sequer comentar em um post), fica claro que a interação é o que menos importa. A partir daí, o Brasil perde pontos no chamado Governo 2.0 ou e-gov, que consiste no uso das tecnologias da informação e de ferramentas para aproximar o Estado dos cidadãos.

“Há várias maneiras pelas quais o Gov 2.0 pode melhorar o relacionamento entre as duas partes. No caso mais simples, basta ter alguém para falar com as pessoas on-line – como no Twitter – e respondê-las ou fornecer links para sites que tenham a informação que procuram. “Esse tipo de transparência não precisa, necessariamente, ser complicado nem custar muito dinheiro”, explica Mark Drapeau, diretor de Inovação Social da Microsoft dos Estados Unidos. Mas, o que Drapeau defende não ocorre no Brasil. Apesar de colocar em destaque os links para Twitter, Facebook e até mesmo no Formspring, o poder público não adiciona os seguidores e trocar ideias parece algo impossível.

Em um levantamento feito pelo Informátic@, dos 24 ministérios do governo federal, 18 têm perfis em pelo menos uma plataforma social. No entanto, 11 servem apenas como meros reprodutores de notícias dos sites e não há nenhuma interação com o usuário. A situação é ainda pior no caso das agências reguladoras. Das 10 em operação, seis têm contas em redes sociais, mas essas já se adiantam e mostram um aviso no perfil: sistema automático.

Os órgãos do governo estão agindo de forma autônoma no uso dos endereços de relacionamento. “Nossa primeira atitude tem sido estudar, acompanhar e reconhecer o que cada um faz nas redes sociais. Nossa intenção é que haja uma padronização desses serviços em 2012. A adoção plena tem que ser cautelosa. Por exemplo, se quiserem abrir uma discussão, é preciso tomar cuidado, pois muitos podem fazer xingamentos no site”, explica Corinto Meffe, diretor de integração e sistemas da informação da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento.

Segundo Meffe, podem-se comparar os problemas na interação com os usuários com o feito por certas empresas privadas hoje: perfis sem função, a não ser a de reproduzir o site. “O governo tem que valorizar essa questão da rede social, da interação, mas observando o valor agregado. A riqueza que a rede traz é usá-la de acordo com o segmento de atuação. Tem que se observar e aprender com esse serviço”, ressalta.

De acordo com Mark Drapeau, da Microsoft, o que ocorre no Brasil é parecido no modo como o Gov 2.0 evoluiu nos Estados Unidos. “Ainda hoje, alguns órgãos estão muito primitivos, enquanto outros avançaram no uso dessas novas ferramentas. No fim das contas, as redes sociais têm como maior valor a interação, que beneficia as duas partes e fornece visão e processo eficientes, pois alcança mais pessoas”, afirma.

Conteúdo
Enquanto o Brasil anda a passos lentos no uso de redes sociais, aplicativos para ampliar a transparência das contas públicas e sites ainda complicados para o usuário comum, outros países dão o exemplo. Nos Estados Unidos, a página Data.gov foi lançada há dois anos e reúne todos os tipos de arquivos e informações sobre o governo norte-americano. O endereço oferece quase 390 mil conjuntos de dados geoespaciais, mais de mil aplicativos para computadores feitos pelo governo, 236 softwares feitos pelo cidadão, 51 programas para smartphones, todos com o intuito de dar mais interação e transparência ao sistema.

“Para estar em uma rede social, é preciso instituir uma equipe de monitoramento e conteúdo. E também planejamento. Cada vez mais o acesso à internet está sendo facilitado. Vimos nas últimas eleições que as pessoas estão procurando na rede informações sobre tudo. Há demanda da população por isso e há cada vez mais usuários em busca de dados úteis na rede”, afirma Vivian Vianna, gerente de redes sociais da Media Factory, empresa de marketing digital.

Até o Quênia tenta se encaixar no Gov 2.0. Em julho, o presidente Mwai Kibaki lançou o Kenya Open Data Initiative, um site com arquivos e informações sobre o país e as ações do governo. A página Huduma também é uma solução para o povo queniano colocar a boca no trombone. No site, é possível reportar atos de corrupção, problemas na infraestrutura, na saúde e nos sistemas de tratamento de água por meio de um mapa interativo.

Em Minas, a situação não é diferente. Tanto o governo estadual quanto as prefeituras de BH e da região metropolitana não usam adequadamente as redes sociais como canal de interação e de informação com o usuário.

Teste - Ministérios
A instantaneidade é uma das características das redes sociais. Quem manda uma pergunta ou apenas uma citação espera que o retorno seja o mais rápido possível. O Informátic@ fez uma avaliação do tempo de resposta dos sete órgãos do poder público que costumam interagir pelo Twitter ou Facebook. Por meio de um perfil neutro, foram feitas perguntas simples, como número de telefone para tirar dúvidas ou informações de programas do governo. Todos tiveram o prazo de cinco dias para responder. Confira como eles se saíram:
» Ministério das Cidades: 13 minutos
» Ministério do Trabalho e Emprego: 20 minutos
» Ministério das Relações Exteriores: 40 minutos
» Ministério da Previdência Social: uma hora
» Ministério do Meio Ambiente: duas horas
» Ministério da Pesca e Aquicultura: três horas
» Ministério da Saúde: 24 horas

Agências
Como os órgãos reguladores utilizam um sistema automático para colocar notícias no Twitter, as perguntas foram enviadas por e-mail. A surpresa: para uma simples pergunta, foi preciso preencher um cadastro com pelo menos cinco informações obrigatórias, incluindo o CPF. Todos tiveram o prazo de cinco dias para resposta. Veja como se saíram:
» Agência Nacional de Aviação Civil: não é possível tirar dúvidas por e-mail. O cadastro serve apenas para reclamações sobre companhias aéreas
» Agência Nacional de Águas: não enviou resposta
» Agência Nacional de Transportes:não enviou resposta
» Agência Nacional de Telecomunicações: não foi possível enviar a questão, pois havia um erro no formulário
» Agência Nacional de Petróleo: não foi possível enviar a questão, pois havia um erro no formulário
» Agência Nacional de Energia Elétrica: não é possível pedir informações pelo sistema de formulário do site
» Agência Nacional de Saúde Suplementar: não enviou resposta
» Agência Nacional de Vigilância Sanitária: oferece um e-mail para mandar a dúvida ou a reclamação diretamente para a ouvidoria. Na resposta, que chegou em uma hora, a agência pediu para fazer o cadastro no site e reenviar a pergunta ou ligar para um número de telefone
» Agência Nacional do Cinema: também permite mandar um e-mail direto para a ouvidoria. Resposta recebida em 24 horas
» Agência Nacional de Transportes Aquaviários: o e-mail é enviado
diretamente para a ouvidoria e a resposta chega em 10 minutos


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