
Ela reconhece que isso talvez não seja exatamente o que “os intelectuais” (aspas dela) chamem de cultura, mas para Bia, não há dúvida: “Criticar os memes é misturar alhos com bugalhos. Eles são uma manifestação clara da vontade das pessoas usarem a internet para se divertir e celebrar gírias de um universo super rico e bem humorado, como é a web brasileira”. Nesse balaio de gato, não confundir virais com memes é importante. “O vídeo da Rebecca Black (ver quadro) é um viral, mas quando as pessoas editam e pegam só aquela parte do cereal e repetem isso em gifs animados que entram nas conversas no MSN, ou em citações aleatórias, transformam esse trechinho em um meme”.

O publicitário e animador Carlos Filizola, autor do blog Extrupixel, confessa uma sensação de pertencimento quando vê, pichada em um muro, a frase “Ahã, senta lá, Cláudia”. Foi Carlos o criador do vídeo Ambição perigosa: a morte da Xuxa, em que ele reeditou vários trechos do Clube da Criança, programa da apresentadora na extinta TV Manchete. De um trecho em que a loira, impaciente, ordenava que uma criancinha chamada Cláudia parasse de importunar, surgiu o meme, que atravessa muitas conversas na web. “Ter as mesmas referências aproxima as pessoas”, diz Carlos.

... e Xuxa, no vídeo que ele editou: "Ahã, senta lá, Cláudia!" (foto: Arquivo pessoal)
Por isso, uma das ideias da memepedia é justamente abrir o código àqueles que ainda não entenderam muito bem do que se trata esse amontoado de frases e piadinhas, a princípio, herméticas. “É muito parecido com o universo das gírias. Quando eu entrei no Twitter, por exemplo, não entendia nada daquela maneira como as pessoas se comunicavam ali”, admite a professora Ana Elisa Ribeiro, do mestrado em estudos de linguagens do Cefet. Ana não concorda com

“A maioria das pessoas que escreve ‘todos chora’, ‘todos ri’ sabe que aquilo está errado, a brincadeira dispensa a concordância ali, naquele contexto”, diz a professora. Seria, nas palavras dela, “uma espécie de permissão, de licença poética, justamente porque entendemos o uso correto daquilo”. Ana conclui: “Ao contrário do que muita gente diz, esses usos são metalinguagem, o que demonstra consciência e não ignorância”.
